Ainda que carregue o nome de Marcelo D2, “Assim Tocam os MEUS TAMBORES” é um projeto de essência coletiva. Nascido do isolamento social causado pela pandemia, o novo álbum produzido e gravado em um processo aberto, em mais de 150 horas de transmissão pelo Twitch, mostra o esforço do rapper carioca em estreitar a relação com diferentes nomes da música brasileira, mesmo distante de grande parte deles. É um mix de vozes, batidas, arranjos e rimas que se complementam em meio a fluxos e pensamentos contínuos. Se seu trabalho no rap até o fim da década de 2000 soava menos interessante do que sua atuação no Planet Hemp, os anos de 2010 deram uma sobrevida para sua arte. Assumindo uma postura firme na internet, Marcelo D2 se tornou um cara engajada em causas sociais. A chegada de “Assim Tocam Os MEUS TAMBORES” aponta para algo muito maior do que o esperado, abordando questões como racismo, negritude, conservadorismo e progresso em um pacote coeso.
Naturalmente, o álbum nasceu com apoio de vários convidados, como Anelis Assumpção, Baco Exu do Blues, Criolo, Djonga, Jorge du Peixe, Juçara Marçal, Rogê, Tropkillaz, Kiko Dinucci, Helio Bentes e Russo Passapusso. O resultado é um esforço coletivo com um forte posicionamento sobre diversos assuntos. Além disso, “Assim Tocam Os MEUS TAMBORES” mostra uma versatilidade teoricamente nova para Marcelo D2. Seu rap e suas letras evoluíram; sua produção encontrou novos ares e apresenta uma lufada de ar fresco. A curta – e poderosa – faixa de abertura, “BEM-VINDO MEUS CRIA.” prepara o terreno para o álbum. A blindagem musical dessa faixa é um sinal de que sample ainda é um elemento bem-vindo em sua música. “BEM-VINDO MEUS CRIA.” mistura batidas modernas com adereços tradicionais enquanto encontra meios para colocar sua influência afro-brasileira dentro de uma estrutura moderna. Sua base instrumental comporta percussão, metais, guitarra, baixo e sintetizadores em um invólucro surpreendentemente volumoso. Com pouco mais de 2 minutos, a “BEM-VINDO MEUS CRIA.” também mostra uma atenção especial a urgência que o rap experimenta hoje. É, certamente, uma das faixas mais oportunas que D2 lançou nos últimos anos.