As Bahias e a Cozinha Mineira agora é apenas As Baías – e junto com o novo nome, surgiu um novo som.
As Baías, anteriormente conhecido como As Bahias e a Cozinha Mineira, é um trio brasileiro de São Paulo formado em 2011 – Raquel Virgínia, Assucena Assucena e Rafael Acerbi se conheceram no curso de História da USP (Universidade de São Paulo). O seu primeiro álbum de estúdio, “Mulher”, foi gravado em meados de 2012 e lançado oficialmente em 2015. Em 2019, eles anunciaram um novo álbum pela Universal Music, que rendeu sua primeira indicação ao Grammy Latino. A partir de setembro de 2020, a banda deixou de usar o nome As Bahias e a Cozinha Mineira e adotou apenas As Baías, em concomitância com o lançamento de singles em parceria com outros artistas. “Drama Latino”, o novo EP do trio, é praticamente uma compilação dos singles lançados no fim do ano passado após a mudança de nome. Esse EP representa uma nova fase da banda, uma vez que eles passaram a focar mais na música pop. A mudança é clara quando você ouve o EP, visto que o som é bem diferente daquele que estamos acostumados a ouvir. “Drama Latino” é formado por cinco faixas desconexas em estilos completamente diferentes um do outro. Além disso, possui participações de Xand Avião, Luísa Sonza, Cleo, Kell Smith e Linn da Quebrada.
Dito isto, poucos momentos nos remete aos álbuns anteriores, é realmente uma descontinuação do antigo som da banda. As Baías é um grupo versátil e talentoso, porém, o EP possui alguns pontos equivocados. A MPB e o rock foram deixados de lado em favor de um pop genérico – a sofisticação dos discos anteriores foi substituída por uma instabilidade sonora. Produzido por Daniel Ganjaman, “Drama Latino” pavimenta o seu caminho com uma mistura de pop, brega funk e música latina. Mas, infelizmente, o EP não consegue impressionar positivamente. Boa parte das letras pecam pela falta de profundidade e essência, enquanto as performances vocais são bastante inconsistentes. Aparentemente, “Drama Latino” foi criado com o único intuito de atingir um maior sucesso comercial. “Quarto Andar”, com participação de Luísa Sonza, possui influências de música latina e elementos de tecnobrega. O videoclipe, gravado na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, com direção de Gringo Cardia, possui coreografias e looks fashionistas. No entanto, a música deixa um pouco a desejar, principalmente se tratando de lirismo. As letras são formadas por rimas fracas e estruturas básicas, sem mencionar a falta de direção.
Além do sintetizador monótono e das leves batidas de tambor, os versos são acompanhados pela presença de uma breve guitarra espanhola. A colaboração surpresa com Xand Avião, ex-vocalista da banda Aviões do Forró, acontece na segunda faixa do EP, “Drama Latino Dos Rádios”. A parceria inesperada reforça a versatilidade do trio, uma vez que “Drama Latino dos Rádios” mescla o forró e o brega com o bolero, a fim de apresentar a típica sofrência amorosa. As Baías, que antes se inspirava na Gal Costa, agora apela para o balanço nordestino em meio a performances mais caricatas. “Uivavam lobas, as mais tristes poetas / São as putas da cidade / Com os cachorros latindo / Eu virava copo como um vira-lata”, eles cantam. O ritmo absorto é apoiado por instrumentos como acordeão, violão e percussão. No videoclipe, Raquel e Assucena apresentam seus versos junto a um grupo de dançarinos, em meio a um cenário de tons de azul, rosa e laranja. As roupas, a maquiagem e as cores contrastam com as letras recheadas de dor e sofrimento. “Muito, Eu Te Amo” – com Kell Smith – é certamente a música mais delicada e sonolenta do EP. Totalmente diferente das duas faixas anteriores, ela possui um acompanhamento no piano e uma performance vocal mais forte.
Com Cleo, “Você é do Mal” é bem mais divertida que as três primeiras faixas, embora também possua letras superficiais. Formada apenas por um verso e o refrão, a música se destaca particularmente pela produção. O sintetizador e a linha de baixo são um charme a parte, assim como o solo de guitarra nos últimos minutos. Reunindo três mulheres transsexuais na mesma música, “Onça / Docilmente Selvagem” fala sobre resiliência e luta por espaço. Sua estrutura é mais complexa, o conteúdo provoca reflexão, a produção é refrigerada e os vocais estão incrivelmente agradáveis. Se “Onça / Docilmente Selvagem” tivesse sido referência para o restante do EP, teria excedido as minhas expectativas. Mas, infelizmente, “Drama Latino” deixa muito a desejar. As Baías tentaram seguir por uma rota mais comercial e cometeram mais erros dos que acertos. Com exceção das duas últimas músicas, nenhuma outra me cativou. Mudar de som e estilo, e experimentar outros gêneros musicais não é algo ruim. Mas precisa ser feito com cuidado para não perder sua identidade. Em sua nova fase, As Baías seguiu por uma rota perigosa, correndo o risco de perder a admiração dos fãs mais antigos. “Drama Latino” não é um desastre completo, mas dificilmente vai dar a visibilidade que eles almejam.