Não há nada inerentemente ruim no “When You See Yourself”, mas parece com qualquer lançamento de sua última década.
Kings of Leon pode ter começado a divulgar seu novo álbum quase um ano antes de ser oficialmente anunciado no início de janeiro, mas a maioria das pessoas não tomou conhecimento de sua existência até poucos dias antes de seu lançamento. Foi quando o quarteto do Tennessee repentinamente tornou-se parte da conversa cultural mais ampla em torno da criptoarte, tornando-se a primeira grande banda de rock a lançar um álbum na forma de um token não fungível. O lançamento surgiu na forma de três tipos diferentes de tokens para três pacotes separados em uma série chamada “NFT Yourself”. Eles contêm um pacote de álbum especial, um pacote de show ao vivo e um pacote audiovisual. Os tokens foram desenvolvidos e hospedados pela YellowHeart, uma plataforma de tíquetes que utiliza a tecnologia blockchain. É irônico pensar que uma banda com uma abordagem tão consistentemente regressiva gostaria de ter qualquer interesse no futuro da indústria neste estágio de sua carreira. A inovação nunca foi a principal força por trás do Kings of Leon. Nem é preciso dizer que “When You See Yourself” não é o som de uma banda fazendo história.
Para uma banda tipicamente revivalista de rock alternativo como o Kings of Leon, mal é o som de uma banda perseguindo a história ou tentando reviver as alturas de seus próprios sucessos do passado. Se você seguiu a carreira da banda até este ponto – pode não surpreendê-lo que seu esforço mais recente é tão corriqueiro quanto amplamente inútil. Mas ao diminuir suas ambições, eles acabaram com uma coleção que, notavelmente, favorece a sutileza em vez de riffs crescentes e refrões superficiais, mesmo se o resultado final ainda beirar uma indiferença branda. “When You See Yourself, Are You Far Away” serve como uma introdução promissora, uma abertura de quase 6 minutos que coloca mais ênfase na construção do que chegar a qualquer destino ou clímax em particular. Kings of Leon ainda usa as mesmas fórmulas previsíveis, mas desta vez algumas variações perceptíveis emprestam uma atmosfera de languidez discreta que reflete a linha temática do álbum. “100,000 People” evoca uma vibração noturna assim como as baladas mais pensativas da banda, mas seu devaneio é justaposto com o sentimento central de amor que persiste no tempo – mesmo se o refrão inadvertidamente atrai comparações com o U2, praticamente matando qualquer coisa que a música tinha a seu favor.
“A Wave” é um destaque discreto enterrado no meio da tracklist, que dança através de um sintetizador que o produtor Markus Dravs (conhecido por seu trabalho com Coldplay e Arcade Fire) combina bem com o resto de sua paleta sonora. Em outro lugar, em faixas como “Time in Disguise” e “Fairytale”, os vocais do Caleb Followill se perdem na mistura de maneiras que sugerem uma falta de objetivo sem realmente evocá-la, e o mesmo pode ser dito de suas letras vagamente inescrutáveis: “Eu não vou a lugar nenhum, se você tiver tempo”. Como era de se esperar, “When You See Yourself” tem seus momentos mais enérgicos: “Echoing” caberia perfeitamente em seu álbum anterior, “WALLS” (2016), enquanto “The Bandit” remete ao seu passado e quase carrega a mesma energia juvenil. Faixas mid-tempo, como “Supermarket” e “Claire & Eddie” são sonoramente agradáveis, mas é difícil ver qualquer uma dessa músicas competindo com o material mais forte ou mais memorável da banda, mesmo em um ambiente ao vivo. Em “Claire & Eddie”, Followill traz à mente outro de seus sucessos enquanto canta, “O fogo vai explodir se as pessoas não mudarem”, e você seria perdoado por não perceber que ele está falando sobre a destruição da Terra.
É a seguinte linha, retirada do contexto, que é mais reveladora: “Uma história tão antiga, ainda tão original”. Kings of Leon poderia ter uma compreensão mais firme dessa segunda parte. Para a geração do milênio, a banda provou seu valor por meio dos seus dois primeiros LPs. O sucesso comercial do quarto álbum, “Only by the Night” (2008), foi a cereja no topo do bolo. Desde que eles retornem em tempo hábil ao circuito dos festivais quando for possível, seu legado estará garantido. No entanto, “When You See Yourself” definitivamente carece de profundidade e qualidade. Mesmo que você nunca tenha ouvido esse álbum antes, depois de escutar algumas vezes, começa a parecer que você o conhece há muito tempo. As letras do Caleb permanecem frustrantemente vagas, embora ele também seja ambíguo o suficiente. Nas poucas ocasiões em que o ritmo do álbum cresce, sua falta de seriedade é facilmente ofuscada pela energia e sinergia da banda. “The Bandit” e “Echoing”, ambas impulsionadas pelos riffs animados do Matthew, são as canções de rock mais estimulantes e orgânicas do registro. Então, por mais que seja um álbum aquém do esperado, momentos como esses deixam a porta aberta para a possibilidade de um recomeço.