Como um todo, “OXEAXEEXU” provavelmente vai servir de base para os futuros lançamentos do BaianaSystem.
Hoje, podemos dizer que o novo álbum completo do Baiana System – intitulado “OXEAXEEXU”, produzido com Daniel Ganjaman – finalmente está entre nós. Isso porque o terceiro ato, “América do Sol”, acabou de ser compartilhado nas plataformas digitais. Ele encerra um trabalho que se iniciou com “Navio Pirata” (2021), lançado no Carnaval, e passou pelo EP “Recita Instrumental” (2021), divulgado no começo de março. Com oito faixas, “América do Sol” transita por gêneros como reggae, samba, ijexá e salsa, e cria uma mistura inusitada de vários ritmos brasileiros. O álbum ainda conta com participações de Bule-Bule, Rapadura, Carolaine e da chilena Claudia Manzo. Dito isto, “OXEAXEEXU” é formado por um total de 20 faixas, um projeto repleto de cultura que mergulha na paisagem artística da América Latina e África – de fato, você deve apreciá-lo do começo ao fim para conseguir compreender a proposta e o conceito idealizados pelo Baiana System. É um compilado que cruza fronteiras intercontinentais e, portanto, traz consigo uma representatividade surpreendente. Sempre iluminadas, as letras parecem sempre focadas no cenário político e social. “América do Sol” é basicamente um resumo de tudo que o BaianaSystem se propôs a criar.
Musicalmente heterogêneo, é um projeto colorido que vaga por ritmos da América Latina, como o próprio título sugere. O efeito é catártico e deslumbrante, como a emoção que você sente ao sair de uma sessão de terapia. Russo Papapusso escreve letras tão honestas que chegam a ser estranhas, capturando as minúcias frequentemente embaraçosas do dia-a-dia da sociedade. Suas letras são reveladoras, libertantes e estabelecem confiança. Ele tem um talento especial para contar histórias, mesmo quando não é lisonjeiro – Papapusso é a pedra angular da música do Baiana System. A banda usa a força emocional de suas raízes para impulsionar arranjos expansivos em camadas que abrem espaço para fortes melodias. Recuperar o controle de si raramente é um caminho linear; vem com contratempos complicados, que o grupo articula com uma leviandade purificadora. Onde muitos grupos funcionam de acordo com estilos regionais específicos, Baiana System constrói seu próprio caminho. Os ritmos estão em todos os lugares. No lugar da melodia, muitas vezes, a banda tende a se concentrar na textura e na cor do tom, e aqueles timbres ásperos e quebradiços podem ser a coisa mais distinta do Baiana System.
Além da percussão, a maioria dos seus sons são resolutamente sintéticos e separados de qualquer fonte óbvia. A maior parte da música contemporânea brasileira favorece esse tipo de paleta de impacto e concussão, mas pouco dela exibe a destreza rítmica que o Baiana System oferece. Parte disso pode ser atribuída ao colaborador Daniel Ganjaman. Com suas produções incrivelmente originais – por vezes proibitivas, malévolas e assustadoramente disciplinadas – Baiana System está levando todos nós para o espectro sonoro da América Latina. “Corneteiro Luiz”, com participação do músico chileno Pablo Reyes, inicia o álbum contando um pouco da história da independência da Bahia. Os sopros arranjados pelo maestro Ubiratan Marques e a percussão cubana celebra a valentia de Luís Lopes, cujo apito heroico contribuiu para a vitória soteropolitana na guerra pela independência do estado, travada em novembro de 1822. Enquanto “Dança de Airumã” possui o canto dos índios Suruís de Rondônia, extraído do disco Paiter Merewá (1984), de Marlui Miranda, “A Vida é Curta Pra Viver Depois” é um samba-reggae com vocais de Carolaine, cantora e poeta de Salvador, Bahia.
A quarta faixa, “Parachama”, é uma espécie de reza quase inteiramente instrumental interpretada pela artista chilena Claudia Manzo, ao passo que “Capucha” marcha sob a levidade do instrumental com otimismo e determinação. “Oxe” foca na origem afro-latina da banda, assim como no sertão baiano com versos de MC Rapadura e participação de Mestre Bule-Bule. Em seguida, Bule-Bule também marca presença em “Vixe” ao lado de Roberto Barreto. O mestre da rima e da reza dá uma aula sobre o sertão, cuja letras citam heróis nordestinos como Zumbi dos Palmares (1655 – 1695), o sacerdote cearense Cícero Romão Batista (1844 – 1934) – o popular Padim Ciço – e o educador pernambucano Paulo Freire (1921 – 1997). “Tem que ser bom sertanejo / Para entender de sertão / Quem não ama a sua terra / Não pode ser cidadão”, Bule-Bule diz sobre o ritmo da guitarra de Roberto Barreto. Por fim, “Reza Frevo” encerra o álbum equipada com guitarras e vários instrumentos de sopros. Os efeitos criados por Seko Bass também cooperam para a banda finalizar o álbum em clima de alegria. Tentando se reinventar neste quarto álbum, BaianaSystem expande seu território sonoro no “América do Sol”. Ao criar três atos específicos, a banda transita por diferentes ritmos e cria diversos momentos de experimentação.