Inicialmente planejada para o décimo de estúdio de Kanye West, “Life of the Party” vazou na internet através do programa de rádio do Drake em meio a sua rivalidade com West. Isso foi bem contraditório, tendo em vista que “Life of the Party” é melhor e mais autêntica que qualquer coisa encontrada no novo álbum do canadense, “Certified Lover Boy” (2021). No entanto, a canção acabou ficando de fora do “Donda” (2021), porque André 3000 não concordou que seu verso fosse editado. Mas mesmo que o novo álbum de Kanye West tenha o nome de sua falecida mãe, a homenagem maternal mais significativa das sessões ficou a cargo de André 3000. No centro da música está um verso clássico do ex-OutKast, onde ele anseia vividamente por sua falecida mãe, tentando recapturar seu espírito por meio memórias.
Esta não é a primeira vez que ele presta homenagem ao legado de sua mãe através da música. Em 2018, no Dia das Mães, ele lançou duas faixas jazzísticas – “Me&My (To Bury Your Parents)” e “Look Ma No Hands” – inspiradas nas falas de seus pais no início da década. Sua participação em “Life of the Party” revisita o mesmo território emocional, mas com uma nova sensação de clareza; afinal, o luto leva tempo. Aderindo ao tema do “Donda” (2021) melhor do que o próprio Kanye West, André apresenta uma série de mensagens para a sua falecida mãe. Mas sua mente então se volta para seu pai, e ele faz uma série de perguntas agressivas: “Por que ele nunca se casou? Sempre sorria, mas ele estava feliz por dentro? / Porque eu carreguei o nome de minha mãe, ele carregava vergonha com ele?”. Acho que ele nunca saberá as respostas. Há um verso do Kanye West meio focado aqui, no qual ele joga mais indiretas inúteis para o seu rival.
Por fim, a música termina com o áudio arquivado do falecido rapper DMX, confortando uma de suas filhas enquanto estão em um parque de diversões. “Papai está bem aqui”, ele repete. “Eu disse que não vou deixar você ir”. Em 2021, West teve problemas conjugais e lutou para manter sua saúde mental. Enquanto faixas como “Off the Grid” se destacaram no lançamento do registro, outras faixas o arrastaram para baixo, fazendo com que a recepção da crítica fosse morna. Felizmente, “Life of the Party” é uma das melhores faixas recentes do rapper, em grande parte graças aos versos incríveis de André 3000 sobre perder seus pais – Sharon Benjamin-Hodo, que faleceu em 2013 de causas naturais, e Lawrence Walker, que morreu um ano depois de ataque cardíaco.
Embora o novo verso de West tenha deixado a desejar, não é totalmente ruim. O foco também permanece na grande batida – é uma música comovente que não pareceria deslocada no “Late Registration” (2005). Você pode ouvir o entorpecimento na voz de André enquanto ele pondera sobre a existência da vida após a morte e reflete sobre o relacionamento com seus pais, bem como o relacionamento deles um com o outro. O verso é comovente, mas extremamente vulnerável, também, admitindo em um ponto que ele está perdido e simplesmente querendo o conselho reconfortante de sua mãe – um pedido que não pode ser atendido. Seu verso é um vislumbre do que “Donda” (2021) poderia ter sido. Mas a faixa infelizmente foi deixada de fora do álbum. Após o vazamento, 3000 divulgou um comunicado, dizendo que foi inspirado pela “ideia de West de fazer um tributo musical a sua mãe”, mas que seu verso foi omitido por causa da maldição em “Life of the Party”. Atualmente, Kanye West está evitando colocar palavrões em suas músicas; porém, o verso de ambos na versão vazada contêm palavrões.
Infelizmente, a rivalidade mesquinha de West e Drake ofuscou um dos maiores versos que 3000 ofereceu em sua carreira e, no processo, desrespeitou um artista que respeita os dois. Seu verso em “Life of the Party” foi uma extensão das duas canções que ele lançou em 2018. Por si só, ainda é um momento notável e certamente teria se destacado se tivesse sido lançado oficialmente no “Donda” (2021). Em vez disso, foi a vítima de uma das rixas de hip hop mais inúteis da história recente, entre dois homens cujos álbuns inteiros nem chegam perto da realidade inabalável oferecida por André 3000 em um único verso.
