Às vezes, ouvir a banda The War on Drugs é como assistir a um discurso motivacional enquanto usa drogas. Você se sente perdido em um nevoeiro enquanto é levado por guitarras brilhantes, sintetizadores cintilantes e batidas hipnóticas. Na primeira vez que você ouve suas músicas, pelo menos, elas emergem fora do contexto, encorajando-o a continuar se movendo na escuridão, em meio àquela névoa rodopiante, praticamente implorando para não ser salvo. Com seu álbum de estreia, “Wagonwheel Blues” (2008), The War on Drugs estourou o portão ostentando uma musicalidade impressionante. O projeto em si foi empolgante, mas desconexo; uma seleção de melodias sólidas foram claramente definidas, mas não se encaixaram perfeitamente. Eles experimentaram o bluegrass, country, folk, rock alternativo e qualquer outro gênero do qual são fãs.
O segundo esforço da banda, “Slave Ambient” (2011), serviu como um antídoto para a confusão. Desta vez, a coesão era palpável, assim como a confiança do vocalista Adam Granduciel. A trajetória da banda continuou em ascensão, culminando em “A Deeper Understanding” (2017), ganhando um prêmio Grammy de “Melhor Álbum de Rock”. Seu novo single, “I Don’t Live Here Anymore”, é o tipo de hino que fará você querer assistir um show ao vivo após a reclusão da pandemia. Tudo sobre a faixa título do quinto álbum de estúdio da banda é gloriosamente bom. Como o LP “Wagonwheel Blues” (2008), os ossos de “I Don’t Live Here Anymore” são fortes e resistentes, mas sua execução é mais matizada, mais ousada, mais pessoal. Granduciel sempre cantou como se seus lábios estivessem pertos do ouvido de alguém e essa intimidade permanece intacta, principalmente nos momentos mais vulneráveis do conteúdo lírico – o refrão é sem dúvida o momento mais profundo. Quando ele canta sobre ver Bob Dylan ao vivo e dançar “Desolation Row” parece uma memória bem particular. É o tipo de coisa que precisa de um riff poderoso para justificá-lo, e a banda não se contém. “Eu estava deitado na minha cama / Uma criatura sem forma”, ele canta. “Com tanto medo de tudo / Eu preciso de uma chance para renascer”.
Granduciel tem sido meticulosamente foda por mais de uma década – e é um grande fã de Bruce Springsteen (inclusive seu filho se chama Bruce), mas nunca fez uma música tão acolhedora quanto “Streets of Philadelphia” até agora. “I Don’t Live Here Anymore” fala sobre chegar ao ponto da vida quando você não está mais se afogando em antigas memórias, mas surfando em cima delas. O título não é um lamento, mas uma forma de orgulho. Em meio a um verso sonhador, Granduciel também canta: “Será que a vida está morrendo em câmera lenta / Ou ficando mais forte a cada dia?”. Então uma cascata de guitarras se deita para o refrão majestoso, e tudo não poderia ser mais claro.