A Índia é um país com uma cultura muito rica: é um lugar cheio de contrastes, cores e sons singulares. E é de lá que vem uma técnica milenar que usa as sílabas para reproduzir a percussão dos tambores: o konnakol. Inicialmente, parece uma coisa comum, pois é parecida com técnicas de outras culturas, como o beatbox no hip hop. Mas o konnakol tem suas particularidades. Tem origem no sul da Índia e faz parte da música clássica indiana. Dito isto, combinando o konnakol com sílabas de sua própria elaboração, Marina Herlop lançou uma nova música chamada “miu”. A pianista de Barcelona se redescobriu no momento que resolveu emparelhar arranjos com fonemas sem palavras cujo significado é completamente enigmático – na verdade, não significa nada – contrastado com a impressionante clareza de sua voz.
“Desde que comecei a fazer música, minha intenção nunca foi explicar uma história pessoal ou expressar minhas emoções – pelo menos não de maneira consciente”, ela disse. “Não há referência extra-musical abrigando minha música no momento, o único princípio que levou meu processo criativo foi a estética”. “miu” é uma canção experimental com harmonias em camadas e tons suavemente distorcidos. “Minha vontade é criar música que seja auto-suficiente e, portanto, não pretende descrever emoções, ideias, paisagens, personagens ou cenas da minha vida ou vidas dos outros”, ela afirmou. Tirada de seu primeiro álbum produzido inteiramente no computador, “miu” é praticamente uma experimentação tecnológica. Ela começa a música acapela, colocando suas próprias harmonias sob tons brilhantes. A linha de baixo foi adicionada a fim de tornar a música ainda mais doce. Uma coisa é certa: a atenção aos detalhes é clara em cada segundo dessa canção. A paleta sonora é intricada e esquelética, e se estende até as sílabas e a percussão esparsa. Centrando o ritmo da música em torno das vocalizações, Herlop adiciona uma qualidade ritualística ao ritmo. O tambor reverberante também aparece na metade do caminho, assim como a percussão eletrônica surge rasgando como um trovão. “miu” é em um estranho rito de nascimento, praticamente uma cerimônia extraterrestre em um processo completamente terrestre.