Em 01º de outubro, o número “30” apareceu misteriosamente em vários lugares do mundo, como na lateral do Museu do Louvre, no Coliseu de Roma e no arranha-céu Empire State Building, localizado no centro de Manhattan, Nova York. Foi uma estratégia de marketing para anunciar o esperado retorno da Adele. Já se passaram seis anos desde o lançamento do “25” (2015) e, nessa época, ela se casou e depois se separou do marido, com quem divide um filho. Como era de se esperar, o seu novo single, “Easy on Me”, pode ser melhor descrito como algo devastadoramente belo. Nenhum outro artista pode embrulhar tanto desgosto e tristeza em um pacote tão deslumbrante quanto ela. Reminiscente de hits anteriores como “Someone Like You” e “Hello”, “Easy on Me” começa com uma melodia de piano que é inconfundivelmente Adele. Sua voz, obviamente, está no centro do palco; um instrumento tão comovente quanto o próprio piano. No entanto, “Easy on Me” não é mais do mesmo, não importa o quanto pareça com seus outros singles. Em vez de oferecer outra balada destruidora, focada em ex-namorados ou romances desprezados, “Easy on Me” apresenta um tipo diferente de devastação: um apelo por compreensão, após um término que causou muitos danos colaterais. “Não há nenhum espaço para nossas coisas mudarem / Quando nós dois estamos tão profundamente presos aos nossos hábitos”, ela canta.
Durante todo o tempo, Adele equilibra o seu fraseado com imagens aguçadas: “Sei que há esperança nessas águas / Mas não consigo me convencer a nadar / Enquanto eu estou afogando neste silêncio”. Como esperado, os vocais sobem para grandes alturas, enquanto a melodia de piano é melancólica e o ritmo constante. Certamente, o que faz “Easy on Me” se destacar é que ela não está mais apontando o dedo para ninguém além de si mesma. Em uma entrevista à Vogue, Adele disse que o “30” vai explicar o divórcio para o seu filho de 9 anos. Sua honestidade sem qualquer hipocrisia é um feito que todos os compositores deveriam aspirar. Antes era impossível imaginar que ela, a artista que escreveu “Chasing Pavements” com apenas 19 anos, pudesse se tornar ainda mais madura. “Easy on Me” exemplifica o seu crescimento tanto como artista quanto pessoa. Ela está se abrindo para os ouvintes de maneira que nunca fez antes, deixando-os ver suas falhas em vez de mostrar as de seus ex-namorados. E quando ela começa a cantar, é lindo, quase angelical. Embora a música tenha uma batida do segundo verso em diante, ela nunca vai tão longe – interrompida pelo excesso de simplicidade. De fato, para uma artista como Adele, tudo o que ela precisa é um simples acorde de piano para entregar uma performance tocante. E o pré-refrão aumenta a tensão à medida que o piano se intensifica.
Essa tensão se rompe abruptamente para que ela forneça um poderoso falsete no refrão: “Pega leve comigo, querido / Eu ainda era uma criança / Não tive a oportunidade de sentir o mundo ao meu redor / Não tive tempo para escolher o que escolhi fazer”. “Easy on Me” encapsula os pensamentos em sua mente enquanto ela lidava com as provações e tribulações que vieram junto com o casamento e a fama, e o que acabou levando ao divórcio com seu agora ex-marido, Simon Konecki. Vocalmente, ela é tão elegantemente controlada, tão penetrantemente comovente. Não é a mesma coisa que a tristeza manchada de rímel de “Someone Like You”, ou as alturas emocionais de “Hello”. Mas o vocal é tão poderoso quanto. Depois de ouvir pela primeira vez, a música se torna rapidamente familiar; é uma balada emocionante com pouco mais do que o piano e sua voz divina. Mesmo que não seja inovadora por qualquer meio, Adele parece revigorante. Em uma entrevista recente, ela descreveu seu próximo álbum como uma jornada pela autodestruição, autorreflexão e autor redenção. “Easy on Me” provavelmente será inevitável nos próximos meses, assim como “Hello” foi há seis anos. Agora, ela tem 33 anos e parece pronta para compartilhar essa nova fase de sua vida. Se “Easy on Me” é um exemplo do que o público pode esperar do “30”, é seguro dizer que será um álbum comovente e lindo.