Há várias faixas de destaque no quarto álbum de estúdio da Adele, mas “To Be Loved” é certamente o maior. Onde “Easy On Me” é tímida, “To Be Loved” fala com uma bravura desenfreada a fim de ter dias melhores. Sua voz está realmente no seu melhor nesta canção. Ela apresenta uma performance majestosa com apoio de um poderoso piano que flui perfeitamente entre vibratos e grunhidos. Conforme ela se move ao longo da música, a letra se torna um hino de sua certeza em sua decisão de amar novamente – nesse ínterim sua voz transborda de forma otimista. “To Be Loved” é uma balada profundamente introspectiva – escrita em torno das circunstâncias do divórcio com Simon Konecki. Como penúltima faixa do repertório, a música mergulha em como a dissolução do casamento impactou a própria Adele.
Liricamente, ela não mede palavras enquanto reconta a história de seu relacionamento com Konecki, pintando-o como condenado desde o início. Porém, o mais notável é que ela revela como sua perspectiva mudou após o fim do casamento. “Eu construí uma casa para o amor crescer / Eu era tão jovem que era difícil saber / Estou tão perdida agora quanto estava naquela época / Sempre faço uma confusão de tudo“, ela canta no primeiro verso. Falando da perspectiva de alguém que agora viveu o desmoronamento de um casamento, Adele reconhece como ela estava mal preparada ao iniciar uma união em primeiro lugar. Esta não é a primeira vez que ela se define como a idiota em suas canções ou assume a culpa por um relacionamento malsucedido: em “Take It All”, do “21” (2011), ela cantou: “Mas vá em frente e leve / Leve tudo com você / Não olhe para trás / Para essa idiota desmoronando”. Mas é aqui que “To Be Loved” se diferencia de sua discografia anterior. Dessa vez, seus sentimentos não são rancorosos, mas sim uma observação medida do que deu errado, fazendo um balanço da realidade da situação e de suas próprias necessidades.
Enquanto “21” (2011) certamente teria visto o divórcio como o fim do mundo, a Adele de 33 anos passou a ver o fracasso como paridade para o curso da vida. “Mas, ai, meu Deus, ai, meu Deus / Eu nunca aprenderei se eu nunca pular / Eu sempre desejarei se eu nunca falar”, ela canta no pré-refrão. Agora, Adele sabe que o fim do seu casamento não é um motivo para buscar o amor novamente, mas sim uma circunstância infeliz entre duas pessoas que talvez simplesmente não estivessem prontas para se comprometer. No refrão, ela mostra que sabe que ser amada e amar alguém exige muito trabalho e sacrifício. “Ser amada e amar ao máximo / Significa perder todas as coisas sem as quais não posso viver / Que saibam que eu irei escolher perder, é um sacrifício”, ela canta. Mas, ao mesmo tempo, o sacrifício às vezes não é suficiente para salvar um casamento: “Mas eu não posso viver uma mentira”, ela canta em referência à sua união com Konecki. “Que saibam, que saibam que eu tentei”. Por si só, “To Be Loved” é uma peça surpreendente, uma vez que ela assume a responsabilidade por suas ações passadas e mostra esperança por um futuro melhor.
No segundo verso da música, inclusive, Adele compromete-se a apostar tudo, colocar tudo em jogo novamente, apesar de estar com medo: “Mas estou aberta”, ela canta. “Olhando em retrospectiva, eu não me arrependo de nada / Sim, eu tomei algumas decisões erradas, das quais sou responsável / Eu ficarei parada e deixarei a tempestade passar / Manterei o meu coração seguro até que a hora pareça apropriada”. Com “To Be Loved”, Adele cimenta o “30” como um álbum não sobre seu divórcio, mas sobre si mesma, seu próprio crescimento. Mesmo para os seus padrões, o grau de vulnerabilidade aqui é incomparável. Sua entrega intocável coloca “To Be Loved” entre o seu panteão de canções de partir o coração. É certamente uma das melhores músicas de sua carreira – o final parece uma oração para ela mesma.