Lucrecia Dalt é uma musicista colombiana que atualmente reside em Berlim. Enquanto seus últimos lançamentos estavam enraizados na música eletrônica, seu trabalho evoluiu ao longo do tempo para se tornar mais abertamente abstrato e experimental. Ela também costuma mesclar gêneros como bolero, mambo, merengue e salsa – estilos tipicamente latinos – com sintetizadores e um suspense à lá ficção científica. Dito isto, o álbum “No era sólida” (2020) foi narrado parcialmente por uma personagem fictícia chamada Lia, que falava em sílabas enquanto reagia ao mundo ao seu redor. As passagens sobrenaturais daquele álbum eram nebulosas e sombrias, mas transportavam o ouvinte para terrenos inexplorados.
Em seu próximo álbum, “¡Ay!”, Dalt continua apresentando narrativas conceituais e levando seu som para novos territórios. Um comunicado de imprensa afirma que o álbum “evoca um novo reino onde o bolero tropical, a salsa e a música merengue de sua infância na Colômbia se fundem com sua assinatura e produção experimental”. “¡Ay!” conta a história de uma entidade alienígena chamada Preta que acaba de desembarcar na Terra. O LP está sendo liderado pelo single “No tiempo”, mas a última faixa, intitulada “Dicen”, detalha de forma mais minuciosa como foi a chegada de Preta no nosso planeta. Aqui, Lucrecia Dalt atua como uma narradora onissapiente: “Dizem que ela anda com uma pele emprestada”, ela canta. O som é igualmente ardiloso: tambores são misturados com sintetizadores ameaçadores e um trompete solitário. À medida que “Dicen” se instala nessa atmosfera, Preta só se torna mais complexa. “Ninguém pode entendê-la / Ela rasteja e lambe tudo”, Dalt diz. “Dicen” é uma canção impenetrável e aliciante, tanto lírica quanto musicalmente. A formação de Lucrecia Dalt influenciou muito sua identidade musical. Com “Dicen”, ela também reúne o som terrestre com intervenções humanas mecanizadas. É um sonar sonoro que passeia por espaços cavernosos, ocupando uma paisagem etérea presente nas profundezas de uma terra incognoscível.