Formado em setembro de 1992, o Pato Fu está celebrando 30 anos de carreira com disco e turnê. O grupo surgiu dentro da cena indie mineira em Belo Horizonte, mesmo lugar que gerou bandas como Skank e Jota Quest. O Pato Fu dá continuidade à celebração – iniciada em julho com a estreia do show sinfônico Rotorquestra de liquidificafu, feito com a Orquestra Ouro Preto – lançando as primeiras três músicas inéditas de um total de nove composições registradas pelo quinteto para festejar as três décadas de vida. Fernanda Takai, John Ulhoa e Ricardo Koctus estão juntos desde o ano seminal de 1992. Já Richard Neves e Xande Tamietti se juntaram aos remanescentes da formação original no meio do caminho. Depois de atravessar a pandemia disponibilizando raridades de seu arquivo para os fãs em suas redes sociais, o grupo decidiu marcar seus 30 anos cheio de vitalidade e sede para o futuro.
Takai dá voz à mais melódica das três músicas, “No Silêncio”, composta com John Ulhoa e gravada com produção musical de Dudu Marote, nome recorrente na discografia do Pato Fu. “Curral Mal-Assombrado” traz a voz e a assinatura de Ulhoa entre riffs pesados e efeitos eletrônicos que poderão remeter ao início da jornada da banda mineira. Já “A Besta” é interpretada por Ricardo Koctus, compositor da música, em clima descrito como de “iê iê iê apocalíptico”. Cada uma das três canções está disponível em singles separados que expõem artes criadas pelo ilustrador Bruno Honda. Liricamente, os singles criticam a intolerância política no Brasil. “A Besta” e “Curral Mal-Assombrado”, por exemplo, falam de fake news e culto às armas – têm gente “de arma na mão falando de Deus”, “cidadão para quem”, “qualquer mentira é melhor que nada”, “besta quadrada cercada de bossais” e “defensores da “fé mal abençoada”. Os singles foram lançados intencionalmente neste momento em que o Brasil está às vésperas de escolher o novo presidente da República.
De fato, as canções respiram o clima político do Brasil, mas de um jeito que só o Pato Fu poderia fazer – há uma dose certa de sabedoria e leveza. Eles chegam com uma novidade: Koctus e John assumem os vocais, como faziam nos tempos em que o Pato Fu estava iniciando sua carreira. Se existe um traço comum em tudo isso é a incansável disposição da banda em equilibrar o pop com o experimental – como diz o guitarrista John, as novas canções “celebram a própria forma de ser do Pato Fu”. A cativante “No Silêncio” é o lado mais melódico e pop do Pato Fu. A vibe descontraída, conduzida por um riff saltitante de guitarra e leves batidas de tambor, te agarra com facilidade – você sente como se estivesse recebendo um abraço caloroso. A doçura na voz de Takai é realmente reconfortante. “Às vezes no silêncio quase dá pra escutar a sua voz dizendo o meu nome / Quem sabe ainda existam luas a explorar, quem sabe numa delas você está”, ela canta melodiosamente no belo refrão. “Olha só você, no momento, Já te sinto aqui, em pensamento”. Embora “No Silêncio” seja a canção menos contundente do trio de lançamentos, é certamente a mais adorável. É a melhor música do Pato Fu em anos.