Em seu novo álbum, a cantora colombiana-americana invoca o exuberante poder do amor.
Em seu terceiro álbum de estúdio, Kali Uchis apresenta um repertório maduro, bem marinado, com toda a langor glamorosa do verão em uma vila colombiana. “Red Moon In Venus” é atmosférico e sonhador, reforçado pela produção do prodígio canadense Wondagurl, do talentoso Benny Blanco e do veterano Darkchild, além de uma série de colaborações bem selecionadas. Sua música ajuda na incorporação – e, esperançosamente, na cura – do seu amor interior. “É dia dos namorados como todo dia”, ela canta na apaixonante “Endlessly”, faixa amorosa que resume o conceito do álbum. Durante uma narrativa romântica tingida de rosa, Kali Uchis retrata uma protagonista apaixonada por R&B e neo soul, com sussurros de bossa nova e pop – realmente, fazendo o que ela faz de melhor. “Red Moon In Venus” caminha por meio do trabalho espiritual da alma, marcando sua fixação com os cosmos; com gráficos, posicionamentos, alinhamento celestial e terrestre – é inspirado pela experimentação do amor manifesto. A narrativa é sustentada pela auto segurança quando ela se aproxima dos 30 anos. Kali Uchis não possui a voz mais bombástica, mas seu tom é único e sua expressão maleável, sempre de acordo com a atração nebulosa e subjugadora de cada canção.
Frequentemente, ela captura o seu registro mais agudo, transmitindo efetivamente a sensação de desejo. “Red Moon In Venus” solidifica o seu apelo como artista marginal que satisfaz toda as suas vontades. É um trabalho transportador e convidativo com um efeito deslumbrante e acolhedor. Os desejos de Kali Uchis nunca são envoltos em mistério, são proclamações completamente diretas. “Eu quero você constantemente, eternamente, incondicionalmente”, ela canta em “Como Te Quiero Yo”, uma música cheia de gemidos. “Eu só quero ficar chapada com meu amante”, ela admite na brilhante “Moonlight”. “Red Moon In Venus” a encontra nas nuvens, encharcada na tranquilidade que um novo amor pode proporcionar. Se essa é a fantasia dela, esperemos que ela continue sonhando. Uchis passou a maior parte da última década redefinindo os limites da música pop latina. Ela aperfeiçoou uma mistura de R&B e pop em seu aclamado álbum de estreia, “Isolation” (2018), e depois levou essa versatilidade expansiva para o espanhol “Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios) ∞” (2020), onde prescreveu o amor como um medicamento para ansiedade. Observar seu espírito psicodélico esguio evoluir para algo confiante e metamorfo tem sido fascinante.
“Red Moon In Venus” se deleita com os sons mais sublimes de sua carreira; É um álbum fantástico. A palavra “amor” imediatamente sai dos seus lábios na sussurrada “in My Garden…” que rapidamente faz a transição para “I Wish you Roses”, uma canção repleta de beleza e exuberância. A primeira metade do álbum avança como os estágios iniciais de um relacionamento: interminável, ardente e açucarado. Kali Uchis nunca perde o controle da realidade, com a intenção de explorar sua paixão com igual intensidade. “Fantasy”, com Don Toliver, é um dance e afropop que explora o amor em sua forma mais sensual e despreocupada: “No meu corpo / Não me solte / Eu só quero a fantasia”, Uchis implora. Mas então ela interrompe de repente: “É isso, esse é o fim da música – vamos, querido, vamos para casa”. A despedida de “Deserve Me” é baseada na percepção de que é melhor ficar sozinha do que permanecer em um relacionamento tóxico. A psicodelia ondulante de “Moral Conscience” repousa em uma previsão sábia e desdenhosa (“Quando você estiver sozinho / Você saberá que estava errado”), enquanto ela mantém sua sensual compostura o tempo todo.
Suas serenatas são um aviso para os homens de todos os lugares, uma forma de assumir sua feminilidade em uma cultura que a colocaria em um papel subordinado. Em determinado momento de “Hasta Cuando”, ela provoca um ex-namorado cantando: “No final das contas, ela comeria minha buceta se eu permitisse / No final do dia, ela trocaria de vida comigo se Deus permitisse”. Sua confiança muitas vezes fica na linha entre uma vadia má e uma donzela dedicada. No vídeo de “I Wish you Roses”, Uchis posa em um canteiro de flores rosas, fazendo referência simbólica ao filme “American Beauty” de 1999, que explora a obsessão fatal de um homem de meia-idade por uma garota. Mas em vez de focar em representações desmoralizantes, “I Wish you Roses” enfatiza o desejo de cura: “Com lindas flores pode vir a picada de abelha / Mas eu desejo que você ame”, ela canta. Kali Uchis conhece o poder de seu apelo sexual e encontra a liberdade feminina. As alegres melodias muitas vezes invocam as energias cósmicas do universo para entregar um sentimento divino.
“Veja, estou orando para que Deus me envie um anjo / Os anjos me trarão de volta para você?”, ela murmura no suave jazz de “Blue”. Em suas nuances de dor e desejo, “Red Moon In Venus” nos pede para sentir a força do amor, seja para o bem ou para o mal. Um de seus melhores momentos, a suavemente lantejoulada “Moonlight”, usa um princípio da astrologia – a lua como o centro da sabedoria emocional interior e da feminilidade – como um espaço para abandonar a gravidade do amor e ceder à transcendência. Sua música é um caminho para uma espécie de iluminação espiritual, mas apenas se você se abrir para a energia mais feminina da vida. Em “Red Moon in Venus”, ela desliza perfeitamente entre o inglês e o espanhol e, quando sua jornada chega ao fim, fica claro que o amor é a sua principal mensagem. Embora o álbum não tenha muita variação de volume e andamento, ele te coloca em um mundo incrivelmente sensual, sonhador e luxuoso. “Red Moon in Venus” é relaxado, mas nunca falho, lento, mas nunca arrastado – é feito para noites úmidas perto do mar, esperando, sem esperança, que o sol poente permaneça um pouco mais.