O novo álbum da dupla do Brooklyn fornece críticas anticapitalistas sobre um som nebuloso e hipnótico.
Water From Your Eyes, o projeto de Nate Amos e Rachel Brown, lançou o seu primeiro álbum pela Matador Records, intitulado “Everyone’s Crushed”. No entanto, eles têm uma longa história; Amos e Brown trabalham juntos desde 2016, quando se conheceram em Chicago. Eles se apresentam como preguiçosos que ficavam no fundo da sala de aula mascando chiclete. Além de jogar boliche, a principal atividade da dupla é fumar maconha: “Não houve uma única gota de trabalho feito na gravação, edição ou mixagem que não foi precedido por um baseado”, Nate Amos disse sobre o “Structure” (2021). Mas por trás do exterior idiota do duo há uma engenhosidade musical singular. Amos e Brown começaram a namorar, mas se separaram após uma mudança para a cidade de Nova York. No entanto, continuaram trabalhando juntos. Sua história de origem parece adequada para o tipo de som que eles fazem: são canções desmanteladas que encontram transcendência dentro de escombros. Eles também trabalham por conta própria – Amos como This Is Lorelai, Brown como Thanks for Coming – mas o que os liga um ao outro é o desejo de prosperar.
A discografia de Water From Your Eyes está repleta de ideias e experimentos incompletos, mas algo mudou com “Somebody Else’s Song” (2018). Parecia que eles tinham começado a levar sua música um pouco mais a sério. Com “Structure” (2021), eles tornaram-se ainda mais cativantes e abstratos. “‘Structure’ é o primeiro álbum que ficamos totalmente felizes”, Amos disse na época. Essa dicotomia foi exibida com força em faixas como “My Love’s”, que alterna entre um som abrasivo e doentiamente doce, e “Quotations”, um número mecanicamente cru e humanisticamente ansioso. “Everyone’s Crushed” foi entregue a Matador Records totalmente formado e selecionado a partir de diferentes caminhos que eles experimentaram ao longo dos anos. Na verdade, é um disco mais dissonante e díspar. Há mais guitarras – mutiladas, estranguladas e desconcertantes. Há percussões turbulentas, sintetizadores vibrantes e muito feedback. Quase em todo o álbum, Water From Your Eyes explora o lado abstrato de seu som. “Everyone’s Crushed” pode ser escorregadio, mas há uma beleza gigantesca dentro do seu caos desmiolado – há uma sensação real de vulnerabilidade.
Eles fazem coisas muito estranhas, mas com sinceridade. Um desespero se estende pelo álbum, escrito em meio a lutas contra abuso de substâncias, depressão e desesperança na era pandêmica. “Acho que liricamente [o álbum] é apenas nós pensando em como as coisas estavam fodidas”, ela disse. Em nenhum lugar seu fatalismo é mais evidente do que na áspera “Buy My Product”, um pós-punk que caminha sob uma produção interminável e fala sobre o capitalismo tardio. “Não há finais felizes / Existem apenas coisas que acontecem”, Brown anuncia. “Compre meu produto”. Mas a inquietação do duo tende a aparecer de forma mais oblíqua, como nos enjoados loops orquestrais de “14”, onde Brown declara repetidamente a intenção de “vomitar você”. Infelizmente, ela nunca consegue um alívio. Ou a faixa-título elíptica, onde quase não importa o quanto você embaralhe, “tudo dói”. Essa música pode ser irritante, aborrecida, implacavelmente inquieta – mas seu refrão, que Brown alterna entre diferentes permutações, é dolorosamente cru: “Estou com todos que amo e tudo dói”.
Aqui, ela resmunga debilmente como uma criança com dor de barriga, enquanto a produção desconexa prenuncia a chegada de algo pior: os sintetizadores rastejam, a guitarra parece quebrada e a bateria soa mutilada. Não é o descontentamento nebuloso que torna “Everyone’s Crushed” indelével, mas o seu som. A entrega de Rachel Brown pode ser um pouco morta, mas propositalmente – uma âncora necessária. Nate Amos citou o pintor Mark Rothko como inspiração, mas sua produção caprichosa evoca mais diretamente as abordagens transgressoras de outros expressionistas abstratos. Da mesma forma, Water From Your Eyes te empurra para o meio de uma grande saga que você não consegue entender: em “Out There”, sintetizadores tropicais desaparecem na névoa, conforme a brisa é interrompida por um estrondo subterrâneo; no meio do caminho, a música grita e resiste à lógica, te convidando a fazer perguntas como: “Onde estou? Que porra está acontecendo?”. “Out There” termina com uma série de palavras sem sentido em cima de uma bateria agitada, mas a letra, embora ambígua, tem sentimento.
“True Life” abre com explosões de guitarra em tons alternados. “Você nem segura o zíper / Você nem vai fazer a pergunta”, eles acusam, seja lá o que isso signifique, enquanto a música cai como uma máquina de lavar desequilibrada. Então, Brown implora: “Neil, deixe-me cantar sua música”. Aqui, eles aludem a história de querer samplear “Cinnamon Girl”, de Neil Young, mas não conseguiram passar por seus advogados. “Barley” é uma faixa de destaque; ela possui texturas enervantes que entram e saem da mixagem com uma seção rítmica musculosa de dance-punk. Serve também como exemplo da fórmula estrutural que tanto confere carisma ao disco. Momentos que, de outra forma, poderiam parecer perdidos, como o canto melancólico de “Open”, são, em vez disso, testemunhos da maturidade da dupla. Não há um único momento em “Everyone’s Crushed” que não seja trabalhado com astúcia. Apesar de conter apenas nove músicas, são necessárias algumas audições para entender a lógica por trás do LP. Ele se move intuitivamente ao invés de sustentar qualquer orientação temática imediata, musicalmente ou liricamente. “Everyone’s Crushed” brilha de maneira incandescente e coloca Water From Your Eyes no auge de seus poderes; é o melhor trabalho deles até agora.