O cantor e compositor mineiro Vitor Brauer, conhecido como um dos integrantes do grupo belo-horizontino Lupe de Lupe, acabou de dar início à série “Tréinquinumpára”, projeto que contará com um álbum gravado em cada capital do Brasil em um espaço de 10 anos. Segundo o texto de apresentação do material, o objetivo é gravar com os inúmeros amigos que o artista fez em suas turnês nacionais. Em julho, ele vai lançar “Maceió”, o primeiro álbum da citada série. Para dar o pontapé inicial, Brauer lançou essa semana o single “Autoflagelação”, faixa que conta com a participação de Alcyr Vergetti. Com lançamento pela Geração Perdida, a canção trabalha com o mesmo ambiente ruidoso do seu último álbum, “Quebra Asa, Vol. 1” (2022) – lembrei que meus pensamentos sobre esse disco não eram nem de longe tão positivos quando o ouvi pela primeira vez.
“Autoflagelação” é construída através de riffs espremidos e reforçados com sintetizadores e bateria. Aqui, Brauer se diverte com as ambiguidades. Suas letras tendem a ser mais francas do que as do próprio Lupe de Lupe. Com “Autoflagelação”, parece que o ruidoso Brauer finalmente vai abandonar os altos conceitos psicossexuais – ou talvez não. O conteúdo lírico possui um sentimento com o qual qualquer um pode se relacionar, mas, para não esquecermos com quem estamos lidando, as próximas frases são as seguintes: “Por que buscamos Jesus sempre com uma cruz? (…) / Se tivesse como eu pegar e te deletar, te matar de novo / Eu faria tudo de novo, eu juro que eu faria tudo de novo”. Uma linha de baixo pulsante cria profundidade onde você esperaria ouvir outra coisa, ao passo que os vocais em camadas se constroem contra o tamborilar intenso e a distorção penetrante da guitarra elétrica. Sob o instrumental surpreendentemente fluido, Brauer canaliza inúmeros pensamentos atordoantes.
