A banda feeble little horse se destaca no seu curto segundo álbum de estúdio.
A banda feeble little horse tem suas raízes em Pitsburgo, Pensilvânia, e foram motivados a existir por uma admiração compartilhada por bandas como They Are Gutting a Body of Water, A Country Western e Full Body 2. Suas canções têm estruturas indiscretas e mutilam décadas do rock alternativo de maneira onívora. Como iniciantes, feeble little horse escaneia sua música da maneira mais densa possível. Há pouco mais de dois anos, eles começaram como uma colaboração entre os guitarristas – e principais arquitetos sonoros da banda – Ryan Walchonski e Sebastian Kinsler, enquanto ambos eram estudantes da Universidade de Pitsburgo. Jake Kelley entrou na bateria no EP “Modern Tourism” (2021) e Lydia Slocum completou a banda no final daquele ano, contratada como baixista e letrista durante as apressadas sessões de gravação do álbum “Hayday” (2021) – ele foi escrito e gravado em um único final de semana. Construído em torno de melodias cativantes e samples caseiros – embora muitos deles tenham sido removidos por causa de direitos autorais – o álbum pulou alegremente de ideia para ideia. A ágil mudança de forma do “Hayday” (2021) foi motivada em parte por uma janela de oportunidades cada vez menor.
Com o dia da formatura se aproximando para alguns membros, a banda imaginou que não haveria outra chance como essa. Consequentemente, feeble little horse adquiriu um burburinho passando de boca a boca que os encorajou a permanecerem juntos. “Chores”, um dos destaques do “Hayday” (2021), apresentou um gancho crescente e dominante; foi cercado por zumbidos e samples balbuciantes que se estenderam pelo resto do álbum – o resultado de uma jovem banda jogando tudo na parede para ver o que funciona. Dito isto, “Girl with Fish” (o seu segundo álbum de estúdio) é ainda melhor – um LP confiante o suficiente para acabar com os momentos ocasionalmente irritantes de “Hayday” (2021). É um registro fortemente influenciado por guitarras de shoegaze texturizadas, refrões exigentes e uma produção idiossincrática – é tão fresca quanto emocionalmente ressonante. Eles embalam as faixas com fortes camadas, que chegam na forma de guitarras agulhadas e feedbacks sussurrantes. Há também muito combustível na entrega de Lydia Slocum, partes iguais sarcásticas e vulneráveis. “Girl with Fish” solidifica a noção de que a criatividade da banda, nascida em dormitórios universitários, é uma força incontestável.
Gravado remotamente e produzido em vários apartamentos de Pitsburgo, suas onze canções são peças excêntricas cheias de imaginação, capricho e discórdia. Os primeiros minutos de “Girl with Fish” trabalham para estabelecer o talento da banda para ganchos difusos. A adrenalina espetada de “Tin Man” é especialmente satisfatória, uma canção poética sobre problemas emocionais conduzidos pela percussão metálica de Kelley e um riff esquisito. “Eu tenho que ir porque você pisca tristeza”, Slocum canta, pontuando a respiração entre os versos. “Eu encontrei você todo enferrujado e com vazamento / O desmontei e não encontrei ninguém”. Guitarras estouradas dão lugar a uma forte introdução que se estende por toda extensão de “Freak”. Slocum se dirige a um cara do time de basquete por quem ela tem uma queda e lamenta a situação da sua atual namorada: “Eu posso te olhar nos olhos / Eu vou torcer por você / Porque estou do seu lado / Como você pode ficar satisfeito? / Ela tem 1,54 de altura e você tem 1,95”. É engraçado e eficaz, um dos muitos exemplos onde Slocum brilha através da confusão sonora da banda. Enquanto suas contribuições líricas para o “Hayday” (2021) chegaram na décima primeira hora, aqui ela escreve com maior confiança, ponderando sobre depressão, luxúria e religião.
“Lençóis molhados, ela sangrou com a pressão / Relógio de plástico de padre católico visto da cômoda”, diz um verso assustador de “Steamroller”. Há um charme sujo complementado pela doçura impassível de sua voz. Definitivamente, ela revela seus desejos com um humor surreal e ligeiramente grotesco. “Rolo compressor, você fode como se estivesse comendo”, ela canta. “Seu sorriso é como linhas no concreto”. Igualmente intrigante é “Sweet”, que abre com guitarras estouradas e uma bateria estrondosa antes de recuar com um riff fortemente interligado. Linhas alternadas, Kinsler e Slocum esboçam uma cena que caminha na linha entre inocente e ameaçadora: “Estou na mesma rua / Não consigo mantê-lo longe de mim / Convidando-me para sair”. Suas letras podem ser tão abstratas quanto a música em si, mas normalmente Slocum é a pessoa com a linha de comunicação mais direta. Ela é o complemento perfeito para as canções que a feeble little horse faz, embutida de uma doçura doentia enquanto serve de âncora para as composições. Mesmo com pouco menos de meia hora, “Girl with Fish” nunca se sente apressado ou sobrecarregado. Parte desse equilíbrio se deve à habilidade de Kinsler, que une os impulsos mais excêntricos da banda com suas bases melódicas.
Outro destaque é “Heaven”, que começa como uma canção abatida antes de se transformar completamente – é como se a banda tivesse sido engolida por uma névoa psicodélica. “Paces” adota a abordagem oposta, abrindo com guitarras irregulares que gradualmente se soltam e fornecem uma felicidade sonhadora. “Girl with Fish” atinge seu ápice em “Pocket”, um destaque que aparece no final do álbum; uma representação precisa do som da banda. Começa espinhosa e séria, mas o refrão meloso logo se torna distorcido, sangrando sob um colapso absurdo e desesperado. “Todos os meus beijos e abraços / Estão queimando um buraco / No meu bolso, no meu bolso”, Slocum canta com uma doçura quebradiça. Mas as insinuações sugeridas pelo nome da banda – de um pônei idiota e de joelhos dobrados -, parecem se concretizar; “Pocket” desliza para uma psicodelia delicada e uma experimentação distorcida. No meio do caminho, perto de onde Slocum canta sobre usar sua “imaginação para pecar” e ser fodida metaforicamente por “um homem morto”, “Pocket” fornece um barulho desenfreado. Sua conclusão barulhenta surge do nada, uma sacudida que torna toda aquela doçura amarga.
É uma vitrine comprimida de tudo o que feeble little horse pode fazer. Sua música traça uma linha entre cuidadosamente composta e alegremente caótica. Em “Station”, letras fragmentadas e uma brilhante combinação de sintetizadores, guitarras e tambores distorcidos evocam a sensação de se apaixonar pela primeira vez. Esse equilíbrio indica que feeble little horse é uma das maiores bandas trabalhando no indie rock atualmente. É um choque instantâneo e eloquente de solidão, embora simplista, que se desenrola sobre harmonias delicadas. Um dos momentos mais decisivos do LP é “Heavy Water”, onde tudo o que a banda tem apresentado até este ponto – guitarras, fuzz, camadas, melodias sonhadoras, detalhes sutis de produção, tensão e liberação – se funde em algo que se aproxima de uma pop perfection. Apesar da forte sincronia, feeble little horse atua com simplicidade. Sua arma secreta é realmente a vocalista Lydia Slocum, que canta sobre o anseio, o desencanto e a tragédia dos relacionamentos com igual entusiasmo. Intensamente frenético e intimamente vulnerável, “Girl with Fish” prova que às vezes vale a pena deixar as coisas correrem fora dos trilhos, desde que você consiga se segurar.