Lançado em março do ano passado, o quarto álbum da banda paulistana Terno Rei, “Gêmeos” (2022), acabou de ganhar uma continuação. Spin-off do disco, o EP “B-sides Gêmeos” apresenta quatro faixas inéditas retiradas da seleção final do repertório do álbum. Embora o EP tenha sido composto entre 2020 e 2021, as três primeiras faixas foram gravadas somente entre os meses de março e abril deste ano. Já “Cores Vivas”, que encerra o EP na voz do guitarrista Bruno Paschoal, foi produzida em Curitiba, Paraná, na época das gravações do “Gêmeos” (2022). Queridinhos do indie rock paulistano, o Terno Rei entregou um verdadeiro presente para os fãs. Certamente, qualquer uma das quatro canções se encaixaria no “Gêmeos” (2022). Geralmente, as letras da banda são bem tristes e melancólicas, e isso é mais escancarado na faixa “Mercado”. É uma canção que lembra o estilo dos dois primeiros álbuns do quarteto, com letras que remetem a uma cena bem cotidiana, no caso a seção de frutas de um mercado.
Sob um belo instrumental que ilustra perfeitamente a simples infelicidade de encontrar alguém que você não queria ver em meio à gôndolas, enquanto está propositadamente distraído, “Mercado” é um ótimo exemplo do som afetuoso do Terno Rei. É uma música melodramática carregada de emoção e intimidade. Sua poesia é eloquente e envolvente, enquanto Ale Sater transmite aquela sensação contemplativa em nossos sentimentos mais singelos e tortuosos. Ele descreve a si mesmo como quieto, ouvindo música com fones de ouvido e olhando para baixo. Isso pode sugerir um sentimento de distanciamento ou o desejo de passar despercebido. Sater expressa o desejo de não ver ou reconhecer a pessoa, possivelmente implicando na vontade de se distanciar de uma conexão emocional. As referências repetidas a “ventos que me levem para qualquer lugar” podem simbolizar o seu anseio por escapar ou se libertar dessas ligações emocionais. Isso pode implicar um senso de urgência ou uma sensação de estar sobrecarregado pela presença de alguém.