Em seu novo álbum, Baco Exu do Blues fortalece o imaginário popular que o classifica apenas como um símbolo sexual. “FETICHE” é o primeiro registro do artista baiano desde o exitoso “QVVJFA?” (2022). Em seu primeiro material sob o selo da Sony Music Brasil, Baco aceita a associação de sua imagem como símbolo sexual, mas recusa que essa seja a sua única representação. A faixa de destaque, “sodade”, é o principal rascunho dessa declaração – uma faixa mais equilibrada que ganha impacto por meio de sua construção. Com sample de Nana Caymmi, é um apelo emocional para que a pessoa amada não o esqueça.
“Quando o oceano sussurrar meu nome em teu ouvido / Você cravejou lembranças em cristais de areia”, Baco suspira. Divina e encantadora. Provocadora e ácida. “sodade” é forte e com apelo popular. Liricamente, Baco combina com a franqueza da música, cada linha um gesto decisivo de saudade ou devoção. Ele produz iterações até que o poço seque ou desenvolve seu próprio universo para dar a suas criações a dimensão que elas sugerem. Como um ônibus espacial perdendo peso para conseguir decolar, suas falhas vocais servem ao belo sample. Baco Exu do Blues tem o dom para ganchos: nem todos eles pousam, mas mesmo aqueles mais singelos refrões parecem aproximações íntimas e propositais. Ele encontra o caminho mais curto para as suas maiores emoções, interrompendo os protocolos normais do rap. Suas rimas tipicamente densas não comandam essa faixa abstrata; ele resmunga na maior parte dos versos. “sodade” é audaciosamente silenciosa, então quando o sample aparece pontualmente em sua paisagem deserta, Baco se destaca.