O novo álbum do padrinho do punk é imponente, poderoso e, acima de tudo, divertido.
Trabalhando com Andrew Watt, Iggy Pop apresenta um repertório atemporal: um punk profano e adorável. Sua improvável sobrevivência faz parte de sua atuação há anos – em 1996, “Trainspotting” fez piadas sobre o roqueiro que vive sem camisa. Hoje, o rockstar nascido James Newell Osterberg, Jr., de 75 anos, permanece extraordinariamente talentoso. Mas, durante grande parte da última década, o eterno padrinho do punk foi lentamente surfando na multidão em seu caminho para o pôr do sol – ele encerrou o último álbum dos Stooges com um par de baladas e se aventurou mais fundo na reflexão existencial de “Post Pop Depression” (2016), enquanto “Free” (2019) sugeriu que suas experimentação periódicas no jazz se tornaram um estado final mais natural. O tempo todo, Iggy Pop parecia perfeitamente contente em passar seus anos em sua casa em Miami e desempenhar o papel de padrinho do punk, distribuindo bênçãos para novatos como Sleaford Mods e Chubby and the Gang. No entanto, como a história tem mostrado repetidas vezes, quaisquer suposições sobre a morte de Iggy são prematuras e, com “EVERY LOSER” – seu décimo nono álbum de estúdio – ele parece mais rejuvenescido do que nunca.
Assim como a maioria dos seus discos anteriores, “EVERY LOSER” foi criado em estreita colaboração com um produtor experiente – embora, ao contrário de compatriotas anteriores como David Bowie e Josh Homme, este resida longe do território mais conhecido de Iggy Pop. Andrew Watt ganhou o Grammy de “Produtor do Ano” em 2021 por seu trabalho com Justin Bieber, Miley Cyrus e Ed Sheeran. Entretanto, ele é um produtor moderno com um coração enraizado no rock clássico: Watt emergiu como alguém tipo Rick Rubin para rockstars veteranos – Eddie Vedder, Elton John, Ozzy Osbourne – que precisam de algum tipo de revitalização. Dito isto, Watt não está tentando transformar Iggy Pop em algo que ele não é, mas dá a ele o espaço para ser tudo que ele deseja ser. Ao longo de 11 faixas, somos presenteados com um grande desfile de punk rock. Watt efetivamente aborda o álbum como um musical – uma celebração brilhante, exagerada e vivamente divertida – enquanto o cerca com um elenco de apoio (incluindo Duff McKagan, Stone Gossard, Dave Navarro, Eric Avery, Chad Smith e o falecido Taylor Hawkins).
O toque na produção de Andrew Watt pode ser sentido até mesmo nas canções mais indisciplinados do LP: Iggy provavelmente escreveu mil canções tão petulantes quanto “Frenzy”, mas chega a proporções enormes durante o refrão cheio de riffs turbinados. Da mesma forma, “Modern Day Rip Off” o coloca dentro de uma atmosfera funk movida pelo piano. “Fiquei sem fumo há muito tempo / Não posso fumar ou minhas entranhas voam”, ele canta aqui. Mas, como essa música demonstra, há um humor perspicaz percorrendo o repertório que enfraquece a caricatura de velho rabugento. Como uma homenagem à Miami, “New Atlantis” tem o tipo de vibe alegre e ensolarada que você esperaria de alguém mais velho cantando sobre seu destino de aposentadoria, mas as peculiares palavras de afeto – “uma bela prostituta de uma cidade” – e as visões de sua iminente obliteração induzida pelas mudanças climáticas tornam tudo inesperado. Iggy guardou a melhor piada do álbum para “Neo Punk”: qualquer músico envelhecido poderia escrever algo tão sarcástico em 2 minutos, mas apenas Iggy Pop poderia fazer uma canção como essa.
Há momentos em que a estrutura despreocupada de “EVERY LOSER” fornece uma tolice juvenil, mas essas faixas são equilibradas com performances mais divertidas e emocionalmente ressonantes. “Strung Out Johnny”, por sua vez, possui um forte sintetizador e canaliza a fase de Iggy em Berlim com David Bowie, principalmente em suas letras devastadas pelo vício que funcionam como uma sequela sóbria da orgia celebrada em “Lust for Life” (1977). Livre da desgraça e melancolia que marcaram suas tentativas anteriores de se levar a sério, o balanço de “Morning Show” praticamente se torna na sua resposta para “One” do U2. E apropriadamente para uma parceria que começou quando Andrew Watt recrutou Iggy Pop para uma participação no próximo álbum de Morrissey, “EVERY LOSER” termina em algum lugar entre os Smiths e Stooges com “The Regency”, uma onda cintilante que nos agarra com extrema facilidade. Essa música é uma destilação da existência do próprio Iggy Pop – o som de um artista punk que sobreviveu o suficiente para ser bem-vindo no showbiz, mas ainda assim, um completo estranho para tal lugar.