Com referências musicais que nos conectam à infância, Lia de Itamaracá procura resgatar a esperança de que tempos melhores podem chegar. O seu novo single, “Dorme Pretinho”, produzido em parceria com Beto Hees, é uma adaptação de “Duerme Negrito”, da argentina Mercedes Sosa. “Dorme, dorme pretinho, que mamãe está pescando, pretinho / Dorme, dorme Maria, que mamãe está pescando, Maria”, ela canta lindamente. Quando a música termina, temos a oportunidade de conhecer quem são as pescadoras: mulheres fortes, que aprenderam na infância a arte de pescar ostras, mariscos e caranguejos com seus pais, e passam a tradição para seus filhos. A mãe de Lia, Matildes, foi uma delas.
Nascida em 1944 na Ilha de Itamaracá, Lia é um patrimônio vivo do estado de Pernambuco. Esta é Maria Madalena Correia do Nascimento, a Lia de Itamaracá, mas pode chamá-la também de Rainha da Ciranda. O reconhecimento não é à toa. Ela preserva a tradição da ciranda desde os anos 70, uma expressão popular esquecida pelo povo e que ironicamente representa o que temos de mais brasileiro e ancestral. Produzida por Pupillo (Nação Zumbi), as belíssimas cordas e a singela percussão de “Dorme, Pretinho” remetem à trajetória da ilha no litoral norte de Recife, como também à história da própria Lia. “Dorme, Pretinho” é recheada de poesia, dedicada para todo o sofrimento provocado pela intolerância, discriminação e ignorância. A mensagem vem de forma preciosa e anuncia novos tempos para sua ilha. As vésperas de completar 79 anos, ela não parou de trabalhar nem durante a pandemia – “Dorme, Pretinho” é um presente para todos os brasileiros.