O que torna “Radical Romantics” tão bom quanto o “Plunge” (2017) é principalmente o seu lado subversivo.
A última vez que ouvimos falar de Karin Dreijer foi no álbum “Plunge” de 2017. Elu estava navegando em como é se apaixonar – e todas as implicações sociológicas, políticas e emocionais do que isso implica. Tímido ou não, passamos a conhecer Dreijer melhor como uma figura sombria ao lado de seu irmão Olof no inebriante projeto The Knife. Como Fever Ray, elu faz um synth-pop com uma memória muscular, escrevendo canções que lançam ganchos improváveis e traçam novos caminhos orbitais em torno de grandes estruturas sonoras. Com a mistura característica de Dreijer de torção e teoria, “Radical Romantics” é essencialmente uma coleção de notas sobre o amor. O amor – seja avassalador ou vingativo – une as motivações recorrentes do catálogo de Fever Ray: curiosidade e exploração, liberdade sexual e prazer. No passado, talvez, elu tenha cantado sobre o amor como algo vago e incognoscível. Agora, elu está a procura desse sentimento universal. Em “Plunge” (2017), o amor parecia um êxtase turbulento; e isso definitivamente não mudou aqui – embora Dreijer também tenha outras coisas em mente. Elu se juntou ao irmão na primeira metade do “Radical Romantics”, uma reunião bem-vinda com canções que conseguem recapturar o brilho diabólico do The Knife.
“What They Call Us” abre o álbum com Dreijer cansado e em busca de sua alma, sentindo-se deprimido e condenado ao ostracismo. “Você ouviu como eles nos chamam? / Você ouviu o que eles disseram? / Meu plano era flexível / Não fique preso em lugar nenhum“. Elu se preparou para voltar à indústria da música, esclarecendo: “É uma percepção errônea comum / Isso não é uma banda”, suspira. “Pronto para uma dissecação / Agora a mamãe tem que trabalhar, ver a terra”. Embora Fever Ray seja firmemente o projeto de Karin e tenha suas próprias intenções, você poderia tratar as primeiras quatro músicas do álbum como um EP do The Knife. Elu parece ciente dessa ideia, fornecendo uma paleta instantaneamente familiar para qualquer fã do Knife. “Apenas um pequeno toque”, elu incita na fantástica “Shiver”, em meio a movimentos sensuais de arrepiar a pele. Em “New Utensils”, Dreijer experimenta todas as ferramentas de seu arsenal: “Lábios, punhos, uma boca cheia de palavras”. “Kandy” fecha o quarteto colaborativo dos irmãos Dreijers, uma conversa trêmula onde Karin faz a seguinte pergunta: “E se eu morrer com essa música dentro?”.
Dado o cronograma esporádico de Dreijer – este é apenas o terceiro álbum do Fever Ray em 14 anos. A primeira linha do álbum funciona até como uma espécie de apologia por retornar ao mesmo poço sonoro: “Primeiro, gostaria de dizer que sinto muito / Fiz todos os truques que pude”. Embora Dreijer esteja brincando na mesma caixa de areia que elu têm há muito tempo, “Radical Romantics” ainda parece emocionante e urgente. Os sons com os quais The Knife e Dreijer vêm trabalhando há vinte anos ainda soam como se tivessem vindo do futuro. Então, quando elu canta uma velha melodia retirada de um dos primeiros singles do duo em “Looking for a Ghost” – a segunda parceria de Fever Ray com a produtora portuguesa Nídia -, soa como uma escolha intencional, uma maneira de olhar para trás em sua carreira com um aceno para um de seus eus passados. E a música avança além disso com um refrão mutilado e desejoso: “Procurando por uma pessoa com um tipo especial de sorriso / Dentes como navalhas, dedos como especiarias”. Dreijer consegue transformar de forma tão consistente essas velhas glórias em novas ideias.
Depois da onda brilhante de “Carbon Dioxide” – uma música pulsante e vertiginosa – o álbum desce para uma conclusão mais discreta, com um trio de faixas abertamente emocionais. “E se eu te dissesse / Em todo o mundo, não há lugar que eu prefira estar / Do que com você”, elu canta na estridente “North”, faixa ajustada por doloridas guitarras. “Tapping Fingers” é um pulso elegíaco e murmurante sobre ficar acordado até tarde como uma forma de prolongar a despedida. O álbum fecha com “Bottom of the Ocean”, 7 minutos meditativos feitos de nada mais do que os vocais ecoantes de Dreijer e um sintetizador inclinado. Originalmente escrito como parte da trilha para a adaptação teatral de Ingmar Bergman, “Hour of the Wolf”, poderia ser uma canção chata nas mãos de outra pessoa, mas não nas mãos de Karin Dreijer. Em vez disso, lembra a intensidade do álbum “Shaking the Habitual (2013), um eterno canto de sereia que parece expor toda a solidão no coração da música do Fever Ray: uma alma estranha e bela em busca de algum reconhecimento, alguma conexão lá fora na vasta escuridão. Em “Radical Romantics”, Dreijer revela uma nova ansiedade sobre o envelhecimento e a passagem do tempo, mesmo porque sente que ainda tem muito amor para dar.