Para encerrar o ciclo promocional do álbum “Arte Bruta” – previsto para 05 de maio via Quadrado Mágico e Before Sunrise -, a banda Bike compartilhou o single “Santa Cabeça” (produzido pelo guitarrista Guilherme Held). Recém chegados da turnê norte-americana que contou com apresentações no cultuado festival SXSW, a banda caminha rumo ao projeto mais conciso de sua carreira. Dada as características dos singles, “Arte Bruta” representa um processo de autoanálise em gêneros como psych-rock, pós-tropicália e noise rock. Dito isto, “Santa Cabeça” é o salto mais ousado da carreira do grupo joseense. Parece uma mistura das faixas que a antecederam, porém, com um pé na música experimental do fim da década de 60 e começo da década de 70.
“Santa Cabeça” avança lentamente sob camadas de guitarras, batidas ocas, tecelagens melódicas e, principalmente, sob o crocante suporte do baixo de João Gouvea. A Bike definitivamente nos leva por uma viagem sonora no decorrer de 6 minutos – é, sem dúvida, a melhor faixa do álbum até o momento. Há uma mistura sorrateira de vibrações ligeiramente trippy, que rompem a sua atmosfera nebulosa, e um ambiente à deriva com linhas sombrias e taciturnas (“Minha santa cabeça não me deixa por os pés no chão”). Um borrão de psych-rock forma uma parede intrigante enquanto somos atraídos e cobertos por um edredom gracioso. O ritmo é hipnótico por si só; as guitarras aumentam essa sensação conforme giram ao redor de um chiqueiro psicodélico. O feedback e o gemido de noise rock apenas contribui para a coisa toda. “Santa Cabeça” parece um cruzamento entre The Brian Jonestown Massacre e o período tardio do Sonic Youth. É o tipo de música que você quase pode ver tanto quanto ouvir. Positivo, reflexivo e estimulante, é o convite mais caloroso da banda – uma vivacidade rítmica que traz movimento para uma paisagem encharcada de insinuação.