O “CrasH Talk” pode não ter o rap poderoso do “Blank Face LP” (2016), mas tem momentos de brilhantismo.
Quincy Hanley entrou para o coletivo Black Hippy em 2008 como um prodígio que fumava maconha e procurava apresentar um rap inofensivo no selo Top Dawg Entertainment de Kendrick Lamar. Seu primeiro álbum de estúdio, “Setbacks” (2011), assimilou a pobreza com precisão. Sua voz rude e o fluxo energético fizeram dele uma estrela de destaque na Costa Oeste dos Estados Unidos. Mais tarde, “Oxymoron” (2014) o impulsionou imediatamente para o estrelato do hip hop, principalmente por causa de músicas como “Collard Greens”, “Man of the Year” e “Studio”. Dito isto, ScHoolboy Q tem agora 32 anos de idade. E como qualquer rapper com mais de 30 anos, os tempos mudaram para o nativo de Los Angeles – basta olhar para a trajetória de Kanye West ou Jay-Z depois de atingir tal idade. Seus problemas mudaram da fome para paternidade; de festas à introspecção e da maconha ao golfe. Agora, Q está tentando encontrar algo que ele fique confortável musicalmente em meio a vida que ele ainda não está acostumado. No entanto, sua música se perdeu um pouco ao entrar em águas desconhecidas. Depois de lançar um álbum tão formidável como o “Blank Face LP” (2016), suas inflexões começaram a se tornar imprecisas.
Avançando para 2019, o mais novo esforço do rapper, intitulado “CrasH Talk”, falha na tentativa de seguir os passos do antecessor. Na verdade, ele divide o tempo aproveitando os despojos da vitória, enfatizando suas dependências de drogas e depressão, e contando histórias de décadas do auge de seus dias nas gangues. Portanto, mesmo depois de três anos escondido, nada mudou. Metade do LP soa como descartes do “Oxymoron” (2014) e “Blank Face LP” (2016). Canções como “Black Folk” e “Drunk” apresentam ideias interessantes sobre tentação e ganância, apenas para serem atoladas por refrões ruins. O instrumental de “Drunk” possui um lindo riff de piano, e com 6LACK como recurso, alguém pensaria que nada poderia dar errado. Mas o refrão telefônico de ScHoolboy Q – “Eu não estou realmente bêbado, eu não estou realmente bêbado” – estraga ativamente a precisão dos versos. O lirismo caracteristicamente inexistente de Q também não combina com a batida de trap estonteante de “Gang Gang” – ademais, me lembra muito “Telephone Calls”, de A$AP Mob. Eu não tenho certeza se eu teria usado isso como introdução do álbum, mas ele obviamente tem seu próprio raciocínio.
Uma música repleta de imagens servidas sob uma batida induzida pelo baixo que tentará hipnotizá-lo de alguma forma. Mas “Gang Gang” transita rapidamente para “Tales”, uma narração agradável onde ele foca na arte de contar histórias. Aqui, o rapper fala sobre seu estilo de vida quando estava praticando atividades ilegais. Entretanto, esse pode ser o pior registro lírico de ScHoolboy Q. “CHopstix”, por exemplo, é completamente superficial e vazia de significado. Sua metáfora é bastante simples. De acordo com Travi$ Scott, ele gosta das pernas das mulheres “como pauzinhos”. Para quem não entendeu, esses “pauzinhos” são as famosas varetas utilizadas como talheres em parte dos países do Extremo Oriente. A metáfora pode ser facilmente confundida, mas um mergulho mais profundo nas letras parece desnecessário. ScHoolboy Q flexiona e saúda as pernas das mulheres sobre uma batida pesada e melódica, que apresenta famosas ad-libs e melodias auto-tunadas de Travi$ Scott. Quando ele não está fazendo músicas desatualizadas, está pulando na onda de DJ Mustard. “Lies” é uma óbvia tentativa de se adaptar aos tempos enquanto atrai fãs mais jovens para o processo.
A bateria espacial e os sintetizadores podem ser ouvidos em qualquer rádio atual da Costa Oeste. Não ajuda quando YG e Ty Dolla $ign estão flutuando pela música sem qualquer cuidado. As coisas funcionam melhor para ScHoolboy Q quando não está tentando desenvolver esse tipo de conceito. “5200” é um pequeno lembrete de sua essência inebriante, algo que os fãs de hip hop apreciaram na época de sua ascensão à fama. O nativo de Los Angeles encontra um equilíbrio perfeito entre o espirituoso e divertido sem soar banal. Nem mesmo o ameaçador verso de 21 Savage em “Floating” consegue produzir um novo visual para a estética áspera de ScHoolboy Q. Seu vernáculo relacionado a gangues sobre armas e drogas representa o rap do horror na sua forma mais pura. É quase como se a colaboração fosse para ser algum tipo de assombração. Mais importante, é o Q finalmente saindo de sua zona de conforto no “CrasH Talk”. Honestamente, suas composições não atingem o ápice até a última música, intitulada “Attention”. Além de um refrão desajeitado, ele provê com sucesso um autoexame através de histórias contemplativas, que vão desde as tribulações passadas do seu tio até a criação de sua filha.
Infelizmente, a busca por inspiração no “CrasH Talk” raramente entra em primeiro plano. Ele fica estilisticamente confortável em seu próprio trabalho, muitas vezes sacrificando a vulnerabilidade para manter sua imagem ostensiva. Ele está preso no limbo, tentando de tudo para permanecer relevante sem perder a imagem de um gangster. Como resultado, sua abordagem desajeitada é a única coisa que se destaca. Um álbum pode erguer ou destruir uma carreira, mesmo para músicos já estabelecidos. Sabendo disso, talvez ele quis tomar uma rota mais segura no “CrasH Talk”. E com o álbum tendo um desempenho comercial e crítico abaixo do esperado, é de se admirar. Q nunca foi o rapper tecnicamente mais talentoso, mas ele certamente tem uma das vozes mais dominantes do rap. Mas embora “CrasH Talk” contenha momentos de brilhantismo, é facilmente o álbum mais plano do seu catálogo. Ele não tem a ambição conceitual do “Oxymoron” (2014) e “Blank Face LP” (2016). Também não consegue reacender sua propensão para o fluxo descontraído e drogado que carregou o “Habits & Contradictions” (2012). Dito isto, “CrasH Talk” apenas reforça a amplitude de sua zona de conforto como rapper.