Mac DeMarco brilha quando tem vários instrumentos à sua disposição. Mas quando isso não acontece, ele amortece o seu potencial.
Há dois anos, Mac DeMarco lançou “This Old Dog” (2017), um disco que abordou temas como envelhecimento e família. No entanto, “Here Comes the Cowboy” remonta brevemente ao som do “Salad Days” (2014), com ideias girando em torno da vida simples e desonerada de um cowboy. O clima é quieto e reflexivo, especialmente em canções como “Hey Cowgirl” e “Finally Alone”. DeMarco não tinha conhecimento das semelhanças entre o seu disco e o da Mitski, “Be the Cowboy” (2018). Mas a breve controvérsia que se seguiu o levou a reconhecer. Em sua maior parte, o álbum utiliza guitarras acústicas, sintetizadores e um estilo indie rock incomparável por seus concorrentes. Mergulhando na auto-reflexão e indiferença, “Here Comes the Cowboy” representa uma mudança no seu repertório e uma transição para um personagem satírico. Em “Hey Cowgirl”, ele retorna à simplicidade e lhe apresenta um ultimato: “Você vai ficar na fazenda, ou vai voltar comigo? / Ei vaqueira, desista de todas as suas estrelas para assistir TV”. Mais do que relaxado, porém, Mac DeMarco parece cansado.
A melancolia se infiltra em músicas mais sossegadas. “Little Dogs March”, por exemplo, reflete a transição de um festeiro para uma vida reclusa: “Espero que você tenha se divertido / Todos esses dias acabaram agora / Por favor, pegue o seu arco”. O ritmo sonolento e uniforme às vezes dificulta a passagem do álbum. Ele sempre foi considerado um compositor sensível e com um forte senso de autoconsciência. No citado “This Old Dog” (2017), ele mostrou sinais de crescimento enquanto nos guiava através do complicado relacionamento com o seu pai. “Here Comes the Cowboy”, por outro lado, é a representação de um estado quase raquítico. Ao longo do ciclo promocional do álbum, ele enfatizou que não se trata realmente de cowboys. Segundo o próprio, sua intenção era usar as imagens de cowboys como uma forma de escapismo. Em um comunicado, ele se referiu a cowboy como um “termo carinhoso” que usa para chamar os amigos. Mas com base no repertório, não parece que “Here Comes the Cowboy” seja realmente sobre qualquer coisa, porque infelizmente DeMarco não tem muito a dizer.
Na faixa-título, a frase “here comes the cowboy” é repetida hipnoticamente em um cenário acústico que prepara o ouvinte para o restante do álbum. Essa canção é sucedida pela verdadeira abertura, “Nobody” – uma melancólica ode à sua vida como figura pública. Com letras que descrevem a si mesmo como “outra criatura que perdeu sua visão”, está claro que ele está insatisfeito com a caracterização unilateral de sua fama. “Finally Alone” e “Choo Choo” continuam apresentando letras inconsequentes e melodias monótonas. A primeira segue uma narrativa lírica semelhante a de um livro de histórias, enquanto a última é remanescente de “Choo Choo Gatagoto”, de Haruomi Hosono – uma influência citada no seu trabalho com linhas de guitarra e percussão. O canadense está usando uma maneira simples e divertida de resolver um empecilho, em vez de mergulhar de cabeça como ele fez no “This Old Dog” (2017). Mas o problema com tais músicas, no entanto, é que elas são completamente desarticuladas da melancolia que pontua; sua composição não tem propósito, além de desorientar o fluxo do repertório.
A metade da tracklist sugere um retorno aos temas ocidentais encontrados na primeira faixa, com pássaros cantando suavemente em “Preoccupied” e chocalhos surgindo em “Heart to Heart”. As músicas restauram o fluxo do registro com algumas melodias previsíveis. Os riffs de guitarra são interessantes, mas também semelhantes ao seus lançamentos anteriores. Claro que não seria um álbum do Mac DeMarco sem algumas peças românticas. “K” é uma bela homenagem à sua namorada, Kiera McNally, onde ele canta: “K, a qualquer momento que sentir que meu amor foi embora / K, acalme-se, vire-se, e pegue esta música, e deixe-a tocar”. Com letras cromadas e uma devoção gentil, essa canção se encaixa na imagem de um cowboy solitário fazendo uma serenata para sua mulher. O álbum é notavelmente mais sombrio do que seus antecessores, apesar de parecer um esforço superficial com seu lirismo enganosamente vulnerável. Apenas “Baby Bye Bye” expressa qualquer tipo de euforia enquanto ele suspira de alívio após superar um relacionamento tóxico.
Fluindo através de um piano cinematográfico e violão otimista, essa canção é igualmente confusa e divertida. Com o terço final alternando entre gritos guturais e gargalhadas enlouquecidas, ele tenta impor um tema uniforme sobre a paisagem melancólica. DeMarco é um alcoólatra admitido, e “Here Comes the Cowboy” é fiel à mentalidade de um viciado. Ele não se dá muitas opções para o futuro, além de falar vagamente de se mudar para a Espanha. O álbum se contorce com a inquietude existencial e os momentos mais afetados vêm da abstração maçônica de “On the Square”, quando ele olha preguiçosamente para uma nota alta de piano. Suas canções costumavam ser distintas graças aos riffs peculiares e as lindas melodias. Em “Here Comes the Cowboy”, o dedilhar da guitarra acústica é tão simples que se torna entediante. Parece que ele está aprendendo a tocar violão e esqueceu como escrever suas letras – sem mencionar a repetição (várias músicas soam parecidas). Em suma, “Here Comes the Cowboy” mantém a autenticidade, embora mais enraizado na sátira que fez de Mac DeMarco quem ele é. Mas na pior das hipóteses, é um disco chato e frustrante.