A Interpol ainda pode ser um ato excepcional, mas é uma tarefa difícil ter que ouvir seus últimos lançamentos.
Eu acredito que qualquer um que ouve rock tem ideia de quem é a banda Interpol. Com uma carreira de duas décadas, eles tiveram sua parcela de sucesso durante o revival pós-punk dos anos 2000. Seu primeiro disco, “Turn On the Bright Lights” (2002), foi aclamado como uma das maiores estreias de todos os tempos. No entanto, desde então, a maré mudou e a banda está aparentemente encontrando dificuldades para estabelecer um lugar na moderna cena musical. Agora, com a formação composta por Paul Banks, Daniel Kessler e Sam Fogarino, a Interpol fez um breve retorno com o EP “A Fine Mess”. Com cinco faixas no total, esse projeto marca o seu primeiro lançamento desde o “Marauder” (2018) – consequentemente, parece uma continuação linear da energia visceral estabelecida por ele. Enquanto o som da Interpol fazia deles uma das mais procuradas projeções ao vivo em meados dos anos 2000, o estilo de vida hedonista de Manhattan acabou cobrando seu preço. Consequentemente, a excitação pelo seu catálogo desapareceu quando Carlos Dengler deixou a banda em 2010. A primeira faixa do EP apresenta um estilo staccato que se fixa facilmente às orelhas.
Ela incorpora uma qualidade hipnótica que lembra um pouco a cena indie rock do começo dos anos 2000. Com uma batida simples e um refrão elegante, “Fine Mess” é uma maneira palatável de apresentar o EP. É uma canção equilibrada precocemente em uma inflexão mal-humorada e autodestrutiva, que prova que às vezes eles não têm medo de arriscar. As espirais de guitarra são uma teia incandescente enquanto o baixo groovy captura uma sensação de perigo. Vocalmente, o barítono de Paul Banks soa de forma alarmante em meio à expansão apaixonada da instrumentação. Na primeira audição, “Fine Mess” soa como a Interpol tentando reacender a intensidade passada de sua discografia. Sam Fogarino é caracteristicamente explosivo, mas disciplinado, e os riffs de guitarra – cirurgicamente precisos – mantêm a música em seu ritmo barulhento. Infelizmente, o restante do EP não é tão envolvente como poderíamos esperar. “No Big Deal” vê a banda se arrastando por quase 4 minutos sob um refrão repetitivo. É uma faixa que infiltra um som mais funky, mas continua pesadamente drenada. Dessa vez, a guitarra, o baixo e a bateria incham debaixo dos vocais de Paul Banks.
Na mesma vibe, “Real Life” apresenta linhas onduladas e canaliza um pouco da estética oitentista. As letras são sucintas e surreais, conforme Banks levanta a seguinte questão: “É a vida real para uma mudança?”. Sua guitarra bruxuleante e a introdução no bumbo promete algo que realmente nunca chega. Assim como “No Big Deal”, ela não atinge totalmente seu potencial. No entanto, ao contrário de seu predecessor, “Real Life” se aventura ao longo de um caminho sinuoso e constrói uma paisagem sonora mais estilosa. “The Weekend”, por sua vez, é mais enxuta, direta e agressiva, conforme os vocais se destacam ao longo do refrão memorável. A instrumentação é formada por duas guitarras e cria uma profundidade cintilante. Por último, mas não menos importante, “Thrones” é um pouco mais dissonante e invasiva com suas notas estranhas e entremeadas. A introdução sedutora adiciona uma torção final para o EP. Inacreditavelmente escura, ela é carregada por uma paranoia alarmante que toca através das letras de Banks. A bateria implacável e a linha de guitarra em desenvolvimento refletem o perigo delirante da movimentada Manhattan.
Apesar das repetidas audições, é difícil entender como esse EP funciona. A banda parece ter colocado “Fine Mess” em tal pedestal que não corrompe o equilíbrio do EP. O impulso construído dentro da abertura se dissipa lentamente e, à medida que cada faixa se esforça para manter o controle, o trio não atinge às expectativas. Apenas alguns reflexos do passado da banda atraem você momentaneamente. Interpol será sempre lembrada ao lado de The Strokes e Yeah Yeah Yeahs como os catalisadores por trás do renascimento do rock de Nova York. O indie rock efervescente dos Strokes e a atração carnal do Yeah Yeah Yeahs tornaram-se um sucesso instantâneo. Mas, para a Interpol, você não pode sentir a força do trio até vê-lo em um cenário ao vivo. Cativante e mal-humorado, a banda é uma presença marcante no palco quando estampado com seus tradicionais ternos pretos e gravatas vermelhas. Mas enquanto “Interpol” (2010) e “El Pintor” (2014) não conseguiram recriar a glória de seus três primeiros discos, o trio começou mostrar sinais de abrandamento. “A Fine Mess” não é um EP terrível, mas parece supérfluo, particularmente considerando-se a rapidez com que foi lançado.