“King’s Mouth” é um álbum conciso e não depende de convidados em excesso, músicas de 24 horas ou qualquer outro truque.
Se você está procurando por um pacote acessível da banda The Flaming Lips, prepare-se para um álbum conceitual que leva um pouco mais de tempo para ser apreciado. “King’s Mouth”, o seu novo álbum de estúdio, é uma experiência selvagem que vale a pena ouvir por várias razões. Nunca se esquivando do espetáculo visual, o álbum tem suas origens em uma instalação de arte multimídia. Criada por Wayne Coyne e excursionada pelos Estados Unidos no início deste ano, a instalação interativa permitiu aos visitantes entrar em uma enorme cabeça metálica, deitar-se em seu interior aconchegante e experimentar um show de luzes caleidoscópico em cascata, sincronizados com a música e a narração. Agora, o áudio foi lançado como o décimo quinto álbum de estúdio da banda. The Flaming Lips não é estranho à experimentação; na verdade, isso tornou-se o seu ponto mais forte. Desde que obteve sucesso comercial e crítico com “Yoshimi Battles the Pink Robots” (2002), a banda embarcou em numerosos empreendimentos musicais com ideias inusitadas. Entre eles, estão o lançamento de vários covers, uma música de 24 horas e várias colaborações com artistas como Nick Cave, Tame Impala, Yoko Ono e Miley Cyrus. Alistando-se à narração de Mick Jones, do The Clash, o álbum conta a história trágica, mas esperançosa, de um rei que salvou o seu reino da destruição.
Eles exploram isso através das imagens de um bebê gigante e do espaço sideral. A pura criatividade da história é suficiente para agarrar sua atenção, além dos temas favoritos de Wayne Coyne sobre mortalidade e existencialismo. A banda é evidentemente autoconsciente para abraçar a comicidade da narrativa do álbum, mesmo contendo algumas piadas. Dada a sua ênfase, grande parte do repertório consiste em passagens cinematográficas que se combinam com batidas enérgicas e diferentes sintetizadores. Desde a sua criação em 1983 até o lançamento do “King’s Mouth”, The Flaming Lips ganhou sua reputação como uma das bandas mais peculiares e inovadoras do rock. Eles já mergulharam em diversos subgêneros do pop e rock por mais de 35 anos – incluindo o dream pop, rock psicodélico, art rock, space rock, rock alternativo e às vezes o avant-garde. Flaming Lips não apenas mudou sua música, mas também tentou mudar a maneira como o ouvinte a consome. Com o lançamento do impraticável “Zaireeka” (1997), eles criaram um material que continha quatro CDs que precisavam ser tocados simultaneamente. Depois que eles assinaram contrato com a Warner e gravaram “Hit to Death in the Future Head” (1992), começaram a mostrar indícios de um possível sucesso mainstream.
O mais próximo que eles chegaram disso anteriormente foi com o álbum “Telepathic Surgery” (1989) e as faixas “Drug Machine in Heaven” e “Chrome Plated Suicide”, mostrando sua produção inicial de guitarras lo-fi encharcadas de ácido. Mas como todos sabem, a primeira exposição da banda ocorreu através de discos aclamados pela crítica. A banda ganhou o Grammy de “Melhor Performance Instrumental de Rock” em 2003 com “Approaching Pavonis Mons by Balloon (Utopia Planitia)” e faria isso novamente com “The Wizard Turns On… The Giant Silver Flashlight and Puts on His Werewolf Moccasins” em 2007. Apenas na última década, no entanto, Flaming Lips se envolveu em uma infinidade de projetos, além de lançar três álbuns de estúdio. Mas quando chegamos na narrativa bizarra do “King’s Mouth”, temos metáforas sobre a vida, mortalidade e morte. O registro abre com “We Don’t Know How and We Don’t Know Why”, onde uma rainha mãe morreu em trabalho de parto e deu à luz a um menino gigante que deve ser o rei da cidade. Os órgãos e trombetas criam uma atmosfera melancólica e triste. Em seguida, ouvimos vocais expressivos em “The Sparrow”, com linhas de baixo compactadas como pano de fundo – algo que não ouvimos desde o seu auge comercial há quase 20 anos.
“Giant Baby” é o local onde ouvimos outra narração de Mick Jones: “O recém-nascido gigante se transformou em um garotinho gigante / Não foi fácil encontrar brinquedos gigantes para o bebê”. É evidente que “King’s Mouth” é o disco mais acessível do Flaming Lips desde o “Yoshimi Battles the Pink Robots” (2002). Mas ao contrário do citado, a história percorre toda a lista de faixas. Onde os três discos anteriores eram mais difíceis de ouvir, a instrumentação do “King’s Mouth” lembra como eles eram no final dos anos 90. Embora as guitarras acústicas possam dominar “Giant Baby” e a agradável “How Many Times”, o ambiente fascinante absorve “Electric Fire”, que progressivamente se torna cada vez mais alta. Aqui, descobre-se que a cabeça e a mente gigantes do rei recém-nascido possuem um “espaço sideral”, “aurora polares” e “grandes tempestades”. O desastre ocorre na segunda metade do álbum quando uma avalanche ameaça a vida dos cidadãos do rei. Usando sua boca gigante, presumivelmente, o rei se sacrifica para salvar a cidade engolindo a avalanche e outros componentes do universo. Mas “mesmo na morte, o rei ainda parecia estar vivo” na faixa “Mouth of the King” – a essa altura, os cidadãos cortaram a cabeça do rei de seu corpo e a mergulharam em aço, conforme visualizado pela capa do álbum.
As faixas que contam essa parte da história, incluindo “Feedaloodum Beedle Dot”, “Funeral Parade” e “Dipped in Steel”, fazem uso de harmonias vocais sintetizadas a fim de criar uma aura desanimadora. Então, o que dizer sobre o novo álbum do The Flaming Lips? Bem, a produção e a instrumentação são exuberantes, bonitas e criativas. A narrativa é triste e encantadora ao mesmo tempo – ela mostra perfeitamente a genialidade de Wayne Coyne. Enquanto o tom suave facilita a audição, há uma sensação penetrante de melancolia por toda parte. Embora não seja uma novidade, sua narrativa é habilmente integrada para fornecer uma história que complementa e não prejudica a música. No entanto, “King’s Mouth” não se sustenta como um dos álbuns mais fortes da banda. Apesar do tempo de execução ser bastante curto para os padrões do Flaming Lips, a narrativa poderia ter sido expandida com mais detalhes sem dificultar o fluxo do álbum. “King’s Mouth” exibe seu significado de maneira diferente. Antes, apenas “The Soft Bulletin” (1999) e “Yoshimi Battles the Pink Robots” (2002) eram apresentados como pontos de entrada para futuros novos ouvintes. Agora, “King’s Mouth” se juntou a eles em termos de acessibilidade e clareza.