Há definitivamente um aceno para o country aqui, mas Justin Timberlake continua trabalhando com o pop e R&B.
Justin Timberlake é um artista que adora fazer os fãs esperarem por um novo disco – já faz cinco anos desde que ele lançou as duas partes do “The 20/20 Experience” (2013). Em dezesseis anos, o cantor só lançou quatro álbuns de estúdio, então foi com muita ansiedade que os fãs esperaram pelo lançamento do “Man of the Woods”. O álbum foi lançado poucos dias antes da apresentação do astro no Super Bowl LII – 14 anos depois do envolvimento controverso com o figurino de Janet Jackson – e, apesar do visual usado para promovê-lo, não é um álbum country. O título é uma homenagem para o seu filho, cujo nome significa “dos campos”. Além do título do álbum, há várias músicas inspirados por sua família. Enquanto “Young Man” é formada por conselhos para o seu filho, “Hers” e “Flannel” contém palavras faladas de sua esposa, Jessica Biel. Portanto, podemos notar que “Man of the Woods” é mais praticamente uma celebração de sua família. Mas embora o tema seja emocional, as letras são extremamente fracas e preguiçosas. Além disso, os vocais estão muito auto-sintonizados e modificados. Musicalmente, como de costume, ele explorou principalmente o pop e R&B enquanto utilizou violinos e gaitas como adorno.
A ambição do Justin Timberlake já nos impressionou bastante, afinal “Cry Me a River”, “Rock You Body”, “SexyBack” e principalmente “My Love” são clássicos da década de 2000. Entretanto, se reunir novamente com Pharrell, Chad Hugo, Danja e Timbaland não serviu para criar os mesmos hits sensuais do passado. “Man of the Woods” poderia ser um registro cheio de autenticidade, pois parece uma tentativa de unir suas origens no Tennessee com o status de popstar. No entanto, o resultado final é superficial, mal concebido e tenta fundir desordenadamente elementos de country, folk, americana, funk, soul e gospel. As referências à natureza são vazias e mal apropriadas, tanto que nem parece de um músico tão bem-sucedido. Eu sou um grande fã dele, mas não é novidade que sua carreira solo dependeu da mistura do R&B e funk, dois gêneros criados e aperfeiçoados por artistas negros. Porém, em “Man of the Woods” ele falhou drasticamente ao tentar trabalhar com esses dois gêneros. O conjunto é ambicioso, mas ao longo de 65 minutos, se torna descontroladamente desigual, errático e difícil de escutar até o ponto de exaustão. Como já mencionado, grande parte do repertório é focado em sua felicidade conjugal com Jessica Biel, mas os interlúdios falados espalhados pelo álbum são embaraçosos e particularmente desconcertantes.
Há algumas faixas cativantes, mas no geral, a falta de inovação e as letras superficiais são muito mais evidentes. O primeiro single, “Filthy”, é uma música futurista e robótica com produção reminiscente de qualquer coisa que o Neptunes já fez. Embora lembre o “FutureSex/LoveSounds” (2006), não possui melodias cativantes como “SexyBack”, por exemplo. Liricamente, é uma canção fraca que consiste apenas num gancho que diz “os invejosos dirão que é falso, tão real”. Musicalmente, “Filthy” é uma faixa de eletro-funk e R&B que tenta prestar homenagem ao lendário Prince. Depois de começar com um gancho de guitarra elétrica e bateria, a faixa depende do ritmo exalado por uma linha de baixo distorcida, que arrasta-se por quase 5 minutos. O riff de guitarra, que aparece de vez em quando, poderia ser preenchido por melodias melhores. A batida do Timbaland e Danja é tão futurística e robótica que chega a ser irritante. Mantendo o ritmo com alguns sutis sintetizadores, o instrumental mal consegue jogar a favor do Justin Timberlake. Em suma, “Filthy” é tão super-produzida que, juntamente com os vocais mistos, não consegue fazer uma legítima homenagem ao Prince. As coisas melhoram um pouco com “Midnight Summer Jam” que, apesar de algumas letras desajeitadas, é uma sólida colaboração com o Neptunes.
A produção se destaca pelo ritmo funky e som vintage, à medida que a guitarra rítmica e os falsetes de assinatura nos cativam. Possui mais de 5 minutos de duração, por isso há tempo para a estrutura oferecer uma pausa inesperada, antes de recomeçar com uma linha de guitarra repetitiva e envolvente. Em seguida, “Sauce” tenta canalizar novamente algumas vibrações do Prince, mas em vez disso ouvimos uma das músicas mais confusas do álbum. Sob o sample de “Juice vs Sauce” (Gino Russ), Timberlake usa uma percussão pesada e ostenta seu falsete. É basicamente uma fusão desajeitada de pop, rock e R&B onde Danja lida com a maior parte da produção. A faixa-título é o primeiro momento real do álbum que se encaixa com a sua proposta. A produção do Neptunes ficou realmente interessante ao explorar o pop, funk e country, e combinar batidas eletrônicas com uma sensação soulful. É um número realmente encantador e interessante. “Eu fico me gabando por ter você pra qualquer um por aí / Mas eu sou um homem do campo, é o meu orgulho”, ele canta no refrão. O Neptunes permanece por trás da produção de “Higher Higher”, faixa que não parece muito distante da mencionada “Midnight Summer Jam”. “Wave”, por outro lado, traz um toque caribenho para a mistura juntamente com um arranjo de reggae e ska.
Sua produção é um pouco mais elegante, além de ser misteriosa e peculiar. Ela surge com uma guitarra ensolarada e linha de teclado, mas as letras tímidas são novamente o ponto fraco. Dito isto, o excesso de repetitividade e duração também é mal concebido. Duas semanas depois de lançar “Filthy” como primeiro single do álbum, Justin Timberlake divulgou “Supplies”. Dessa vez, a produção é um pouco mais moderna e elegante. Em seu interior existem sintetizadores, vocais rítmicos e influência de hip hop. Mas, infelizmente, é outro single que não conseguiu me convencer. O refrão é repetitivo e desprovido de qualquer significado ou profundidade. Uma música de R&B que sonoramente não vai a lugar algum. Ela não possui um refrão impactante ou qualquer outro ponto que desperte a atenção. Em termos de melodia, “Supplies” é melhor do que “Filthy”, mas a produção não soa natural. Dito isto, toda a música se resume numa bagunça sonora sem sentido. Ademais, o ritmo trap onipresente no mercado atual, só deixa a música menos relevante. É uma canção simplesmente ruim que não me instigou a ouvir mais vezes. Liricamente, as coisas ficam ainda piores. Me pergunto como Justin Timberlake teve coragem de cantar algo tão boring e risível.
Ele está simplesmente tentando convencer sua mulher de que ele é algum tipo de salvador do mundo. Em contrapartida, “Morning Light” é um agradável dueto com a Alicia Keys – um número elegante com uma pitada de country e reggae. Ademais, possui uma sensação bem mais orgânica e natural. Uma semana antes do disco ser lançado, Timberlake nos apresentou “Say Something”, uma colaboração com Chris Stapleton. O cantor country se apresentou com Timberlake pela primeira vez no Country Music Awards de 2015. Esse é provavelmente o single mais agradável que ele lançou até agora. “Filthy” é um eletro-funk obscuro que dividiu opiniões, enquanto “Supplies” é um faixa de R&B sem profundidade. Sem batidas exageradas e pesados sintetizadores, as guitarras acústicas dominam a produção de “Say Something” – uma pequena fatia de country rock com um refrão imensamente repetitivo. Entretanto, mesmo sendo impulsionada pela guitarra acústica, handclaps e percussão, “Say Something” possui letras que, literalmente, não dizem absolutamente nada. Liricamente, ambos artistas não chegam a lugar algum. A letra é extremamente repetitiva, chata e sem sentido.
Assim como “Filthy”, este single foi produzido por Timbaland e Danja, antigos e frequentes colaboradores do Timberlake. No entanto, em vez de criar um crossover country interessante, eles preferiram adicionar uma percussão sem graça ao lado de algum trabalho de guitarra acústica. Infelizmente, é outra peça desconfortável com acordes repetitivos e letras desprovidas de significado. Depois de ouvir essa música por vezes suficientes, você percebe o quanto Justin Timberlake perdeu sua direção artística. Outra desvantagem para o álbum são interlúdios como “Hers (Interlude)”, uma narração particularmente constrangedora de sua esposa. A descarada balada country “Flannel” – também conduzida pela guitarra acústica – possui o título menos atraente de todo o repertório, mas é um momento incrivelmente agradável. Curiosamente, durante o último minuto e meio de “Flannel”, Jessica Biel fornece outra narração inesperada. “Montana” soa um pouco fora do lugar com sua batida disco inspirada nos anos 70, mas não deixa de ser uma canção simpática. O mesmo pode ser dito de “Breeze Off the Pond” que, embora não seja marcante, é particularmente empolgante e divertida. “Livin’ Off the Land”, por sua vez, define o tom do álbum antes que a guitarra e moderna programação de bateria amarrem as coisas.
A terceira faixa co-escrita por Chris Stapleton, “The Hard Stuff”, é uma das mais ousadas. As vibrações country são mais pronunciadas, enquanto Justin Timberlake canta sobre os altos e baixos de um relacionamento. Em “Young Man”, ele dá alguns conselhos paternos para o seu filho, Silas. É uma homenagem onde ele tenta transmitir a sabedoria das lições que aprendeu na vida. A canção começa com o cantor e Jessica Biel persuadindo Silas a dizer “da-da”, antes de compartilhar as alegrias universais da paternidade. “Você não entende ainda, você é só um garotinho / Mas você vai ter que se posicionar na vida”, ele canta no refrão. Uma música simples com fortes elementos de country e algumas batidas de tambor que termina com a voz do seu filho dizendo: “Eu te amo papai”. Dito isto, o grande problema com a música é que ela não evoca emoção nenhuma. “Man of the Woods” possui seus bons momentos, mas não é um trabalho coeso ou consistente. É confuso, desajeitado e inofensivo no que diz respeito à visão do Justin Timberlake. Um passo em falso para um artista que, até então, havia feito três álbuns notavelmente sólidos. Provavelmente, vai ser um registro atribuído como um fracasso para o mainstream, da mesma forma que falam dos últimos álbuns da Katy Perry e Lady Gaga.