“By the Way, I Forgive You” pode ser um pouco desarticulado, mas é o álbum mais emocionalmente direto e revelador que ela já lançou.
A americana Brandi Carlile construiu sua carreira baseada na versatilidade. Do folk rock a country alternativo, ela conseguiu encantar com sua infinidade de estilos. Carlile se tornou mais conhecida depois que lançou o seu segundo disco, “The Story” (2007). Mas além de sua versatilidade, em sua carreira ela apresentou álbuns que exploraram acontecimentos reais de sua vida. Enquanto isso, em seu sexto álbum de estúdio, “By the Way, I Forgive You”, suas ambições estão ainda mais altas. Desde sua entrega vocal melancólica à instrumentação, elementos de country estão espalhados por todo canto. Liricamente, este registro fala sobre amor, desgosto, maternidade e, principalmente, perdão. São temas que refletem sua vida pessoal enquanto se tornam surpreendentemente relacionáveis. Certamente, “By the Way, I Forgive You” está no seu melhor quando a instrumentação não domina a voz da Brandi Carlile. É nesses momentos que ela consegue colocar emoção em cada palavra. Mas o álbum também tropeça em determinados lugares e possui suas falhas. Quando o tom do repertório muda de repente faz com que o mesmo pareça desarticulado. Há uma boa quantidade de variedade instrumental, mas sucumbe no excesso de baladas melodramáticas.
Apesar de ser um dos pontos mais fortes da Carlile, sua facilidade com a mudança de tom, movendo-se bruscamente de detalhes para sussurros evocativos, muitas vezes atrapalha o andar da carruagem. No entanto, é inegável que todas as faixas são um bom testemunho de sua capacidade lírica. Após flertar com o rock mais agitado no “The Firewatcher’s Daughter” (2015), seu sexto álbum é um retorno aos arranjos acústicos dos seus primeiros discos. É um movimento em direção à uma era de ouro de sua carreira. Desta vez, seus colaboradores formam um grupo impressionante. Shooter Jennings e Dave Cobb – o responsável pelos últimos álbuns de Sturgill Simpson e Chris Stapleton – co-produziram o LP juntamente com os co-escritores Phil Hanseroth e Tim Hanseroth. Quando o arranjo e a melodia são bons, os riscos compensam. Os ganchos acústicos, a seção de cordas, os sentimentos reveladores, os vocais apaixonados e o desejo de viajar em “Whatever You Do” sugerem que os seus instintos estão certos. Usando o improviso do título como estrela-guia, ela examina sua própria vida de perto. “Nunca conheci um covarde de quem não goste”, ela observa em “Whatever You Do”. O álbum abre com “Every Time I Hear That Song”, canção que fornece lembranças agridoces sobre um amor do passado.
“A propósito, eu te perdoo / Depois de tudo talvez eu deva agradecer”, ela canta. Guitarras acústicas e melodias simplistas dão lugar a letras bastante instigantes. Não há um padrão de rimas nessa música, algo que causa uma sensação desconexa e igualmente charmosa. Brandi Carlile se move com facilidade para “The Joke”, conforme fala sobre acontecimentos da sociedade enquanto fornece cordas de fundo e excelentes vibratos. “Hold Out Your Hand” começa com uma melodia exalada pelo violão que imediatamente transforma-se em uma balada rígida e excessivamente pessoal. Em seguida, um tranquilo arranjo de violão introduz “The Mother”, que retrata a euforia da maternidade e as mudanças que ela traz. “As primeiras coisas que ela tirou de mim foram o egoísmo e o sono / Ela quebrou mil relíquias que eu nunca pretendia manter”, ela canta. Se há algo que os profissionais da música conhecem bem, é a estrada, onde as recompensas virão no futuro, se houver. Contada do ponto de vista de uma mulher cuja filha ainda a surpreende, especialmente quando essa filha quebra uma herança, “The Mother” gira em torno principalmente da seguinte declaração: “Eu sou a mãe de Evangeline”. Direta, e até mesmo curta, “The Mother” é talvez o melhor momento do álbum.
“Sugartooth” fala sobre um amigo que cometeu suicídio depois de cair no vício. A introdução é construída por vocais mais ásperos, mas enquanto poderia ser uma balada deprimente, Carlile a transforma em um testemunho incrivelmente agridoce. “As pessoas tentaram culpá-lo por fazer más escolhas / Quando ele estava apenas ouvindo as vozes e procurando por algum tipo de verdade mais profunda”, ela canta. “Sugartooth” é um dos números mais cativantes do álbum em parte graças aos teclados rolantes do Shooter Jennings. Nas reflexões melancólicas da belíssima “Most of All”, Carlile passa por harmonias abundantes para “lembrar do que volta, quando você doa seu amor”. Ela é uma contadora de história e possui grande facilidade para criar melodias. Essa canção aborda os pais em guerra cujas lições não se encaixam nas expectativas de gênero. O pai nessa música ensinou a ela a sabedoria de manter a cabeça fria e a mãe como lutar. Como um todo, “By the Way, I Forgive You” é um projeto emocional, acessível e profundamente pessoal. Os arranjos e instrumentos são exuberantes e criam uma paisagem sonora pungente. É um LP realmente ambicioso, mas peca pela inconsistência. De qualquer forma, “By the Way, I Forgive You” é um ótimo álbum e com certeza merece sua atenção – é o próximo passo em uma carreira astutamente administrada.