“44/876” é musicalmente esquecível, possui letras banais e não tem qualquer conceito pré-definido.
Provavelmente, o pior conceito do ano vai para a capa deste álbum. Se você fosse um dos filhos do Sting ou Shaggy, certamente ficaria constrangido ao ver ambos posando juntos em cima de motocicletas. Eles são músicos veteranos que compartilham um pouco do gosto pelo reggae. Sting é um rockstar desbotado cuja passagem pelo The Police nos anos 80 transformou-se em algo completamente lendário. Shaggy, por sua vez, foi uma estrela do reggae, cujo singles de sucesso no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, possuíam uma qualidade duvidosa. Você provavelmente já ouviu músicas como “It Wasn’t Me” e “Angel”. Mas o que eles estão fazendo trabalhando juntos? Assim como eu, você certamente esperaria um álbum divertido feito para o entretenimento. Falta criatividade e imaginação no “44/876”, um dos álbuns colaborativos mais chatos que eu já ouvi na memória recente. Não há ganchos dinâmicos, propulsão e engenhosidade rítmica que torna o reggae tão bom. Nenhuma faixa te anima a dançar, não importa o quanto Shaggy insista embaraçosamente em alguma batida. Mas para ser justo com Shaggy, seu fluxo nasal é realmente divertido de ouvir, pelo menos em comparação com os vocais do Sting.
O hábito do Sting em forçar um sotaque jamaicano é inconveniente até em alguns dos maiores sucessos do The Police – aqui está ainda mais esquisito e desagradável. Possivelmente, os dois se divertiram fazendo este álbum, mas a falta de esforço e criatividade não faz dele um bom material. O título “44/876” se traduz nos códigos de discagem da Jamaica e do Reino Unido, além de ser uma metáfora para a origem dos dois artistas. Mas não me entendam mal, este é eventualmente o álbum mais inofensivo de 2018. Os sons antiquados e melindrosos do repertório chegam a ser um incômodo. A palavra chave para este registro é autoindulgência. “44/876” teria sido digerível se a tracklist fosse cortada pela metade. A realidade é um produto inchado que se sente abalado pela ausência de originalidade. A primeira complicação recai sobre o aspecto mais importante para qualquer álbum colaborativo: a química entre os dois vocalistas. A conexão entre Sting e Shaggy é desajeitada e até mesmo embaraçosa. Sting não saiu da zona de conforto, mas correu o risco de colocar seu sotaque forçado e esganiçado contra o barítono contundente do Shaggy.
A faixa-título é uma peça romantizada que não convence por causa dos clichês. Eles tentam fazer uma homenagem ao Bob Marley como uma forma de atrair a atenção do ouvinte. Mas tudo soa desconfortável. O mesmo pode ser dito de “Morning Is Coming”, que mais parece uma sátira ruim do que uma verdadeira homenagem ao reggae. A terceira faixa, “Waiting for the Break of Day”, também se enquadra em muitos clichês e dificilmente pode ser apreciada. Uma oferta de reggae com um pouco de rock e jazz na mistura. Possui um humor inofensivo e ritmo desleixado com um piano jazzístico e um crescente coral gospel tentando injetar alguma profundidade. A música mais sólida do álbum é provavelmente “Gotta Get Back My Baby”. Eles cantam juntos na maior parte do tempo e as batidas e o refrão são inesperadamente agradáveis. “Sentado aqui olhando para as quatro paredes pensando: o que é que eu tenho que fazer? / Volte meu amor”, eles cantam. O primeiro single, “Don’t Make Me Wait”, é uma canção pop com inflexões de reggae e um gostinho do que você pode encontrar em todo o álbum.
Outro faixa que coloca em dúvida a qualidade do registro é “Dreaming in the U.S.A.” – uma canção romantizada sobre os Estados Unidos. É uma peça pró-imigrantes, onde Shaggy, ex-fuzileiro naval dos Estados Unidos, diz que já defendeu essa nação. Isso acabou colocando um certo peso nas suas declarações: “Aguardo o dia em que todos nós vamos habitar numa América melhor”. A guitarra e a percussão fazem o estilo do Sting, enquanto o refrão jazzístico contribui para sua sensação clássica. O álbum termina com “Night Shift”, uma canção que segue a luta de um homem tentando equilibrar o trabalho com a vida familiar. Para qualquer outra pessoa, “44/86” é, em última instância, um exercício monótono e banal que consegue estragar cada um dos gêneros que ele aborda. Se o LP não fosse tão prolixo e estivesse condensado em menos faixas, isso poderia ter sido um pouco mais sólido e divertido. Mas como isso não aconteceu, você presumivelmente sentirá fadiga ao ouvi-lo. Não é um álbum terrível, é apenas um projeto mundano feito por dois artistas que não dão a mínima para o que você pensa.