É evidente que Pusha-T está mais confiante em “DAYTONA”. Suas rimas carregam uma grande confiança e clareza.
A última vez que o rapper Pusha-T nos deu um álbum completo foi em 2015. O “DAYTONA” é o seu terceiro registro – ele faz parte dos cinco projetos que Kanye West produziu no estado de Wyoming. Este álbum precede o lançamento do “ye” (Kanye West), “KIDS SEE GHOSTS” (Kanye West e Kid Cudi), “Nasir” (Nas) e “K.T.S.E.” (Teyana Taylor). Antes do lançamento oficial, Diddy divulgou uma nota manuscrita afirmando que o “DAYTONA” é “uma obra-prima moderna”. Esse tipo de elogio é prejudicial porque estabelece um padrão muito alto e deixa espaço para decepções. No entanto, Diddy não mentiu, porque este álbum é realmente excelente. Em sete faixas, todas produzidas por Kanye West, Pusha-T encontrou um equilíbrio perfeito entre a modernidade e os sons clássicos do gênero. Mesmo em seus 40 anos e um veterano experiente do rap, Pusha-T bate como um leão que tenta provar o seu poder a si mesmo. Poucas vozes no hip-hop contemporâneo marcam seu espaço lírico com tal habilidade impetuosa. A longevidade é uma proeza elusiva no hip-hop. Alguns artistas ganham isso se reinventando, permitindo que os fãs se maravilhem com o crescimento de seu som e conteúdo. Mas outros alcançam a longevidade por meio do refinamento.
Desde seus dias como parte do duo Clipse até sua carreira solo, Pusha sempre se concentrou em seu passado como traficante de drogas. Com o tempo, a quantidade de vaidade e luxo em sua música cresceu. Além disso, a teatralidade em sua personalidade não prejudica a autenticidade de seu conteúdo. Existem nuances na música do Pusha, mas muitas pessoas só o reconhecem como o cara que faz piadas sobre cocaína. Ele está ciente do estigma e escolhe abraçá-lo, como evidenciado pela capa do “DAYTONA”. A arte do álbum é uma foto do banheiro danificado e cheio de drogas de Whitney Houston. A produção do Kanye West é desprovida da densa ornamentação que caracterizou o “The Life of Pablo” (2016). Em vez disso, suas batidas são afiadas e angulares, com alguns loops de bateria triturando os ouvidos, amostras estelares, chimbais que passam como luzes estroboscópicas e linhas de baixo que roncam nos fones de ouvido. Neste álbum, é fácil destacar a engenhosidade do Kanye West como produtor. Ele pode ser egocêntrico, mas prova que seus verdadeiros dons estão na música – em oposição às suas controvérsias e possível envolvimento com a política. Liricamente, “DAYTONA” é a fantasia de um traficante de drogas e uma recompensa do hip hop que ganha facilmente um lugar entre os melhores discos de 2018.
É um registro atraente e igualmente ameaçador onde a forma como algo é dito é mais importante do que o que está sendo dito. Críticos de hip hop sempre abraçaram esse tipo de abordagem com um grande entusiasmo. Kanye West pode não estar em seu auge criativo como artista, mas ele criou a base perfeita para o Pusha-T nos surpreender. “If You Know You Know” configura o álbum através de uma excelente batida e amostras de “Twelve O’Clock Satanial”. Pusha-T fala sem hesitação sobre seu histórico no tráfico de crack e cocaína. Utilizando uma voz humana como ferramenta de percussão, ele também faz referências à cultura pop. “If You Know You Know” parece um manifesto pelas suas aspirações e conquistas. Serve como uma declaração assertiva sobre o seu passado, com T rimando em cima de chimbais e sons esparsos por 36 segundos, antes que um drop formidável apareça. Depois de abrir com um instrumental que se constrói lentamente, a faixa chega ao auge quando ele recita o título da música – “se você sabe, você sabe”. A composição e batida combinaram perfeitamente com a entrega vocal do Pusha-T. Seu fluxo é ágil e cresce naturalmente, enquanto a produção permanece eletrizante.
Muitos não gostam de suas músicas porque ele rima constantemente sobre o mesmo assunto. Mas embora ele trabalhe um mesmo tema com frequência, consegue torná-lo mais inteligente cada vez que faz isso. Com um violão que lembra o som da Costa Oeste, Pusha-T também criou uma pequena vinheta sobre seu passado em “The Games We Play”. Esses olhares em sua vida passada não são escuros ou negativos, porque o encontramos relembrando de uma vida que ele gostava. O melhor momento é o refrão, pois é provavelmente muito mais cativante do que deveria ser. “The Games We Play” tem uma produção old-school e discreta enquanto os instrumentos de metais alimentam o fogo de suas rimas. Essa música é orientada pelo ego, mas isso não impede que ele reconheça algumas de suas inspirações. Ele cita Raekwon, Ghostface Killah, N.W.A e The LOX como influências. O impacto das lendas do grupo Wu-Tang Clan mostra mais sobre o “DAYTONA”, já que o Pusha-T continua a tradição de mafioso do rap que Raekwon e Ghostface ajudaram a criar nos anos 90. O álbum continua com “Hard Piano” e “Come Back Baby”, onde a influência do Kanye West brilha cada vez mais sobre as amostras – um estilo de produção que ele usou intensamente no “Yeezus” (2013).
Ambas canções são similares ao restante do catálogo do Pusha-T, uma vez que mostra seu amor pela cocaína e o tráfico de drogas. “Hard Piano” tem um instrumental que paira sobre uma cama de sintetizadores almofadados e teclados brilhantes. As referências à cocaína são abundantes, além de Rick Ross contribuir positivamente com sua autenticidade. Aqui, os dois fazem rap com uma cadência que lhes dão mais presença do que muitos de seus colegas. A atmosfera construída pelas rimas de ambos é reforçada pela excelente produção do Kanye West. “Come Back Baby”, por sua vez, apresenta duas amostras diferentes de soul, uma do The Mighty Hannibal e outra de George Jackson. Ela começa epicamente com uma introdução sobre viciados em drogas, conforme West mostra suas habilidades para amarrar amostras brilhantemente. T atinge um ponto alto em “Santeria”, batendo sobre uma batida retirada de “Bumpy’s Lament” (Soul Mann & the Brothers). Ele explora a dor sentida pela morte de seu empresário, De’Von Pickett, que foi esfaqueado na Filadélfia. Em vez de encontrar a paz, ou chegar a um acordo com o assassinato de De’Von, Pusha-T se mostra completamente irritado. A paisagem sonora da música é inquieta e combina perfeitamente com as letras.
Há uma mudança na produção do refrão, que é em espanhol. No segundo verso, T corresponde à mudança no tom da produção unificando letras e instrumental. “Santeria” destaca um momento de vulnerabilidade do rapper, conforme ele aborda o assassinato de seu amigo. Em “What Would Meek Do?”, com vocais do próprio Kanye West, Pusha-T parece estar de volta aos seus comprimentos quando fala sobre drogas e joias. Além disso, também faz referência ao recente encarceramento de Meek Mill. Sobre amostras de “Heart of the Sunrise” da banda Yes, ele apresenta um rap nervoso e se mostra cada vez mais desafiador e arrogante. Na última faixa, “Infrared”, ele chora a morte de um amigo e reinicia sua longa rivalidade com o Drake. É uma canção infame que revive acusações de ghostwriter que Meek Mill uma vez cobrou do Drake e condena o estilo pop do rapper de Toronto. Musicalmente, as batidas exalam sutileza, em um momento de pura extravagância das letras, permitindo que Pusha-T respire. “A escrita lírica é igual a dos vendedores do Trump / A grande questão é como os russos fizeram / Foi escrito como Nas, mas veio de Quentin”, essas linhas provocaram tumulto na internet e colocaram os holofotes de volta nas alegações de ghostwriting que assombram o Drizzy.
Comparar o uso que Drake faz de Quentin Miller como escritor fantasma com o presidente Donald Trump é um pouco hilário. Tendo Drake como alvo principal e alguns shades para Lil Wayne e Birdman em um único verso ininterrupto, “Infrared” já pode ser considerada uma das faixas mais poderosas do “DAYTONA” (2018). A canção entra, totalmente livre de refrões por 2 minutos, e transforma a temperatura do álbum. Apesar de não ser identificado, ficou claro que se trata de uma diss-track para o Drake. A perfeita batida é formada por tambores de trap, chimbais, linhas de baixo, sample de “I Want to Make Up” (24-Carat Black) e interpolações com “The Prelude” (Jay-Z). Durante várias linhas, T demonstra seu rancor e opina a respeito de várias coisas. Em “Infrared”, T mostra sua frustração com uma indústria que ele ironicamente ama. Sobre a batida esquelética, ele traz rivalidades do passado à tona. E quando tudo está quase acabando, Kanye West insere uma trêmula batida e, pela primeira vez, Pusha-T pode soltar o fôlego. “DAYTONA” serve como o melhor projeto solo do Pusha-T, um lembrete do por que ele é um dos melhores rappers da atualidade. Ele possui apenas 21 minutos de duração e é composto por sete músicas, mas T sabe como usar a brevidade a seu favor. É um álbum cuidadosamente calculado e conciso. Como o Diddy disse, “DAYTONA” é um clássico!