“Honey” é um álbum dance-pop quase perfeito, e o principal candidato para o melhor disco pop de 2018.
O cenário pop mudou drasticamente desde que Robyn lançou o “Body Talk” (2010). Estilos vêm e vão, algumas novas carreiras nasceram e o som mudou várias vezes. No entanto, ela é uma das artistas mais inovadoras e criativas da música pop recente. Fale com qualquer entusiasta do pop e eles provavelmente vão destacar o “Body Talk” (2010) como o epítome da perfeição. Com ganchos contagiantes e composições substanciais e emocionais, o projeto que continha músicas icônicas como “Dancing On My Own” e “Call Your Girlfriend”, garantiu que a cantora permanecesse na mente por anos. O que era desconhecido para nós, é que Robyn estava passando por algumas questões pessoais. Isso acabou refletindo na criação do seu novo álbum, intitulado “Honey”, que chega oito anos depois. É um disco cheio de faixas electropop, dance-pop e disco, com uma natureza sentimental que se concentra nas nuances de suas relações amorosas. Robyn aborda este tema com um senso de maturidade e honestidade que aparentemente surge de forma natural para ela. Como uma estrela mais velha, ela tem uma visão muito acolhedora de ver as coisas e, mesmo entre as popstars mais novas, o status de veterana é refrescante.
Robyn optou por um álbum que mergulha em seu lado mais pessoal, enquanto mantém a música otimista e dançante. A diferença entre esse álbum e os predecessores é que “Honey” consegue se concentrar principalmente no reino da dance music. Simplificando, é a oferta mais dançante que a Robyn lançou até hoje. A produção cintilante combina perfeitamente com sua voz e, além disso, a combinação de letras e vocais faz com que o álbum pareça quase eufórico. Essa euforia é justaposta aos momentos de tristeza e, ocasionalmente, arrependimento. Há uma sensação de melancolia distinta que pode ser sentida no centro do repertório. A paleta instrumental parece algo que se ouvia em uma discoteca no final dos anos 80 ou início dos anos 90. É como se Robyn quisesse expor as profundas emoções subjacentes que surgiam naquela época. E no fundo, a dor ainda está presente. Há um sentimento distinto de solidão e até um pouco de depressão nas letras. Mas “Honey” a encontra em um estado mental mais contente, enquanto experimenta uma sensação chocante de otimismo, depois de lidar com golpes esmagadores em sua vida amorosa.
Oito anos de experiência, os fãs já pensaram que o “Honey” seria uma continuação turbulenta de um dos discos mais aclamados do pop. Mas a espera interminável por seu retorno foi excruciante, para dizer o mínimo. Um álbum como este – esparso, relativamente breve e cheio de um tumulto emocional – é a última coisa que qualquer um de nós esperava. Em vez de ser um álbum pop moldado pela produção polida, o “Honey” é implacável e aberto em sua estrutura. No entanto, tudo começa onde “Dancing On My Own” parou – encontramos Robyn em uma dança eufórica e introspectiva na primorosa “Missing U”. Não é uma música que abre novos caminhos para ela, mas reforça seu imenso poder artístico. Os vocais estão doces e emotivos como sempre, enquanto os sintetizadores e as batidas apoiam do começo ao fim. Depois de começar com uma enxurrada de brilhantes sintetizadores, a faixa soa vagamente familiar. Mas não há nenhuma maneira de não ser estimulado pelos sintetizadores. A melodia vocal nos remete facilmente à “Indestructible”, primeiro single do “Body Talk” (2010) – tudo soa como a velha Robyn que conhecemos,. Entretanto, “Missing U” é muito intensa e delicada para ser caracterizada como Robyn no piloto automático.
Preste atenção, por exemplo, nos sons das cordas antes do segundo verso. Repare também no bumbo central em diferentes pontos ao longo da música. Mais uma vez, ela canta sobre perder um ex-namorado em cima de uma batida incrivelmente dançante. Ainda assim, a canção é liricamente triste, pois exibe uma visão mais conceitual sobre perda. Como de costume, seus vocais estão lindos e o refrão é cativante de uma maneira sutil. A bateria, linha de baixo pulsante e o arpejo de sintetizador a leva para um lugar diferente. “Existe esse espaço vazio que você deixou para trás / Agora você não está aqui comigo / Eu continuo cavando através da nossa perda de tempo / Mas a foto está incompleta / Porque eu estou sentindo sua falta”, ela canta enquanto a tristeza se torna palpável. Nas mãos da Robyn, a solidão se torna algo que todos nós podemos entender e nos conectar. A segunda faixa, “Human Being”, soa tão rica com suas camadas enquanto cria uma experiência auditiva descontraída. O loop da batida é viciante e extremamente cativante. As letras são inspiradas pela relação incerta entre os seres humanos e a inteligência artificial.
É interessante ouvir uma faixa que se mantém fiel à estrutura clássica da música pop não soar genérica. Enquanto a entrega vocal e a progressão permanecem restritas, a narrativa e a emoção estão no centro do palco. Sobre a batida inabalável e quase robótica do sintetizador, Robyn repete o título da música com tanta frequência que é como se ela estivesse tentando convencer alguém. Em seguida, ela vai para a pista de dança com “Because It’s in the Music”. Na esperança de transmitir uma emoção estranha na fronteira da sinceridade e do desespero, ela traz de volta uma onda de lembranças associadas ao ex-namorado. “Nada dura para sempre / Não o doce, não o amargo / É um disco velho e cansado”, ela admite para si mesma. A justaposição entre a apreciação e a perda é bastante impressionante. Na superfície, Robyn parece estar detalhando as consequências de uma separação romântica. Mas olhando a fundo, é uma reflexão sobre a morte e a derrota final. A triste ressonância das letras sobre a estridente produção se torna completamente agridoce. Para completar, ela nos leva de volta aos anos 70 com seu clímax vocal inspirado na música disco – apenas para saltar sobre sintetizadores impactantes e batidas futuristas.
“Baby Forgive Me” é facilmente uma das faixas mais discretas que a Robyn já gravou. Uma composição simples com uma entrega vocal celestial e muita repetição. Essa faixa questiona a dinâmica de um relacionamento, explorando o que significa pedir perdão e se tal coisa existe. Liricamente limitada, mas emotivamente comovente, Robyn destaca os pontos fortes e fracos quando se pede perdão a outra pessoa. Pedindo uma segunda chance, para dar-lhe outra oportunidade de sorrir, a produção cria uma atmosfera que pode sufocar ou libertar. “Baby Forgive Me” flui naturalmente para “Send to Robin Immediately”, o que faz com que o último pareça mais um interlúdio do que uma faixa independente. Essa canção a encontra incentivando o ouvinte a fazer um movimento, qualquer que seja, ao longo do sample de “French Kiss” de Lil Louis. Impulsionada pelo ritmo em oposição à composição, a faixa principalmente instrumental mantém a vibração e trajetória do álbum. Um acorde de violino incessante é tocado repetidamente sob o colapso pulsante. A faixa-título não é exatamente um novo território para Robyn, mas é outra perfeita demonstração do seu som.
Ela possui um refrão grandioso e equilibra a doçura e melancolia em um só lugar. “Não, você não vai conseguir o que precisa / Mas, baby, eu tenho o que você quer”, ela canta. Carregada por uma profunda batida, pinceladas de sintetizadores e melodias florescentes, “Honey” é implacavelmente bonita. Uma pulsação inconstante, linha de baixo melódica e um atraente chimbal apoiam letras como: “Cada cor e cada sabor / Cada respiração que sussurra seu nome / É como esmeraldas na calçada”. Seu ritmo eletrônico nos remete à época de ouro da Madonna e Kylie Minogue. Assim como o primeiro single do álbum, “Honey” não empurra o som da Robyn para uma nova direção. Mas enquanto o primeiro se inclina fortemente para o pop, este último está mais preocupado com a textura divina. Ela ostenta um arranjo enganosamente simples e surpreendentemente sensual. Robyn dispensa versos sutilmente sexuais e apresenta letras que dizem a um pretendente que ele pode conseguir o que quer. “Mas as ondas vêm e são douradas / Mas no fundo, o mel é mais doce”, ela canta no pré-refrão. “Honey” é uma visão delirante do desejo com uma inegável sensação de luxúria e maturidade. É sobre o prazer, mas interpretado de uma maneira arrebatadora.
Em seguida, “Between the Lines” destaca mais uma vez o seu amor incondicional pela dance music. A produção do refrão nos leva rapidamente de volta ao house e à música dance dos anos 90. Ela brinca com a ideia de conexões eróticas e tensões com um potencial pretendente. Neste momento, a cantora soa contente e quer simplesmente desfrutar do prazer sem qualquer complicação. “Beach2k20” é a peça mais experimental e incomum do repertório. A base foi criada pelo Mr. Tophat e, durante uma sessão em Ibiza, a ideia para o resto da música começou. A entrega vocal da Robyn é uma mistura de canto e palavras faladas, sobre fazer planos para ir a uma festa. Aparentemente, as letras podem ser descritas a partir da perspectiva de alguém tentando vencer a depressão, saindo e cercando-se de outras pessoas. Embora existam vestígios de inspiração dance dos anos 90, ela tem uma vibe diferente das demais. E, em vez de se concentrar na profundidade, Robyn preferiu focar no humor. É um complemento despreocupado, mesmo que ainda deixe o ouvinte de pé. A encantadora “Ever Again” é verdadeiramente uma grande conquista.
Ela é baseada em um riff de guitarra funky, sintetizadores impressionantes e um refrão sonhador – onde Robyn promete que nunca vai deixar seu coração ser quebrado de novo. A melodia é incrivelmente linda e se forma lentamente em direção ao refrão. Apesar do tom diferente, ela deixa o ouvinte com uma mensagem surpreendentemente otimista. “Tantas coisas que não tentamos / Você sabe que estamos apenas começando”, ela canta com convicção. “Honey” não é o retorno dominante que muitos fãs esperavam. É, no entanto, o passo certeiro para uma artista que sempre priorizou a realização criativa em vez das expectativas externas. E ao filtrar sua melodia através da música eletrônica, Robyn leva o híbrido dance-pop para um território excitante. Um projeto com uma nova perspectiva sobre as circunstâncias infelizes e um senso de compreensão mais aguçado, que naturalmente vem com alguns anos de maturidade. A produção é subjugada, mas ainda permanece digna de dançar e alinhada com o seu talento. “Honey” ainda contém a sensação calorosa do “Body Talk” (2010), mas com a influência da música eletrônica experimental e do post-disco. Ela foi capaz de criar um álbum pessoal e emocionalmente diferente de qualquer outro de sua discografia.