“This Is What the Truth Feels Like” é meio boring em alguns lugares e seguro demais em outros, mas também é genuíno.
Depois de dez anos, Gwen Stefani finalmente lançou um novo disco solo – “This Is What the Truth Feels Like” é o seu terceiro álbum de estúdio. Stefani é dona de hits peculiares, canções verdadeiramente cativantes do seu próprio jeito. Ela começou sua carreira como vocalista do No Doubt, onde conseguiu grandes êxitos e sucesso comercial. Mas foi com o seu material solo que Stefani tornou-se uma verdadeira popstar e mostrou o quanto é versátil. Ao lançar o “Love. Angel. Music. Baby.” (2004), ela trocou o ska punk do No Doubt por um som pop e R&B. Foi através das batidas do Neptunes em “Hollaback Girl”, que ela ganhou maior destaque no mainstream. Em 2012, ela chegou a lançar um novo disco com o No Doubt, mas não conseguiu qualquer impacto. Seu novo álbum é agradável, familiar e talvez o mais radio-friendly de sua carreira. Liricamente, ele reflete tudo que Stefani passou em sua vida pessoal nos últimos anos. Nesse meio tempo, ela se divorciou de Gavin Rossdale, com quem foi casada durante 13 anos, e começou a namorar com Blake Shelton. Portanto, as canções abordam o fim do seu casamento e o início de um novo relacionamento. Ela fala sobre amores, desgostos, traições, mágoas e recomeços.
Em comparação com “Love. Angel. Music. Baby.” (2004), é um registro mais cru e vulnerável. Entretanto, não é tão bom e completo como o citado. Apesar do título, “Misery” é um número otimista onde Stefani supera a dor de um antigo relacionamento e cria expectativas por uma vida de felicidade. Com ajuda dos escritores Justin Tranter e Julia Michaels, ela compara o amor às drogas: “Você é como drogas para mim / Estou completamente afim de você”. Produzida por Mattman & Robin, é um electropop que começa minimalista ao redor de palmas e linhas de baixo. O desempenho vocal é ligeiramente vulnerável enquanto lembra algumas canções do “Tragic Kindgom” (1995). O refrão cresce de forma cativante, ao passo que ganha mais apoio da percussão no segundo verso. “You’re My Favorite” continua explorando o tema amoroso, conforme ela expressa o interesse por seu atual romance: “A maneira como você me beijou não era normal / Tirou-me do meu corpo, algo espiritual”. Possui um sulco refrigerado, sintetizador cintilante, pisa no território trap e faz uso de batidas borbulhantes.
Em “Where Would I Be?”, temos uma mistura irresistível do som solo da Gwen Stefani com o doce ska do No Doubt. Mais uma vez, ela elogia o seu atual interesse amoroso, perguntando-o onde ela estaria sem o seu amor: “Onde eu estaria garoto, se você não me amasse garoto?”. Liricamente, ela se transforma em uma ingênua adolescente apaixonada. Assim como em seus discos anteriores, Stefani brinca com o reggae nessa canção. A borda reggae de “Where Would I Be?” foi misturada com o pop, o ska e o hip hop, a fim de criar uma das melhores faixas do álbum. Dito isto, sua batida não soaria fora do lugar se estivesse presente em algum disco do No Doubt. Enquanto isso, a ponte resgata o hip hop de suas primeiras músicas solo, como “Hollaback Girl”, “Orange County Girl” e “Now That You Got It”. Lançada como segundo single, “Make Me Like You” também foi escrita ao lado de Justin Tranter e Julia Michaels. Alguns podem achar que a pura felicidade e natureza otimista desse single seja bastante surpreendente, considerando os últimos acontecimentos em sua vida pessoal. É um disco-pop otimista com riffs de guitarra, charmosos sintetizadores, linhas de baixo funky e progressões de tambor.
Liricamente, fala sobre encontrar um novo amor após um relacionamento frustrado. Aparentemente, a letra também foi inspirada por sua atual relação com Blake Shelton. “Make Me Like You” é sobre seguir em frente depois de um passado ruim, conforme ela declara no verso de abertura: “Eu estava bem antes de te conhecer / Estava destruída, mas bem”. O refrão se instala em sua mente a partir da primeira escuta, assim como obtém pequenos cânticos e gritos definidos pela frase “oh God, thank God I found you”. Sua produção é polida, retrô e possui influências da década de 80.Ela mantém a autêntica vibração de singles do passado, mas também incorporando os mesmos elementos disco de músicas recentes como “Birthday” (Katy Perry) e “Sugar” (Maroon 5). “Truth”, faixa que deu inspiração para o título do álbum, nos mostra o lado mais cru da Gwen Stefani – ela realmente está no seu momento mais vulnerável e emocional. É a primeira faixa que traz à tona o fim do seu casamento com Gavin Rossdale. Ela fala sobre estar se recuperando e agradece ao seu novo namorado por tirar sua tristeza. Essa canção exibe uma visão mais lírica do seu novo relacionamento – é uma balada verdadeiramente honesta.
Alguns sintetizadores e belos riffs de guitarra fornecem o cenário ideal para a introspecção das letras e performance vocal emotiva. O primeiro single, “Used to Love You”, também reanima um lirismo que originalmente a fez famosa. Tanto em carreira solo quanto como vocalista do No Doubt, Stefani sempre esteve no seu melhor quando coloca sua alma dentro de cada música. Musicalmente, “Used to Love You” é uma balada synth-pop que apresenta dramáticas teclas de piano, além de sintetizadores e batidas mais contidas. Liricamente, fala sobre o fim do seu relacionamento, onde ela se questiona como amava seu ex. Escrita logo após o divórcio, o lirismo chama atenção pela vulnerabilidade enquanto a entrega vocal é comovente. Ela, em profundo estado de choque, exprime sua preocupação: “Nunca pensei que isso fosse acontecer / Preciso absorver isso, você foi embora”. Além da produção aceitável, o arranjo do refrão impõe emoções incríveis, enquanto os sibilantes “oh, oh, oh” são elementos adoráveis. Se você ver apenas as letras poderia esperar uma lenta balada, mas na verdade, é uma canção midtempo com fluxo otimista e ritmo oscilante.
“Send Me a Picture” traz o foco para o seu novo amor e continua a nos dar um vislumbre sobre sua relação com Shelton. Mas desta vez, o tema é a distância. Embora ambos não possam estar fisicamente juntos, podem pelo menos enviar uma foto de si. Sonoramente, “Send Me a Picture” é uma midtempo que pisa fortemente no território dancehall – uma canção suave e vocalmente sedutora. A agressiva “Red Flag” foi a primeira música que Stefani escreveu para o álbum. Nessa faixa, temos as mesmas vibrações de hip hop presentes nos seus dois primeiros discos. Uma canção sarcástica, irônica e um verdadeiro discurso de raiva contra o seu ex-marido. Inicialmente, “Red Flag” começa com violinos obscuros antes da parte vocal energética tomar o cento das atenções. Influenciada pelo trap, é um número com fortes batidas e um pseudo-rap. Embora seja caótica e a faça voltar às suas raízes, parece meio incoerente com o restante do álbum. Geralmente, colaborações com outros artistas sempre acontecem a fim de garantir um potencial hit de rádio.
Dessa vez, Stefani escolheu o rapper em ascensão Fetty Wap para participar de “Asking 4 It”. É uma parceria inusitada e um tanto quanto surpreendente. Wap tem um fluxo indecifrável e é realmente difícil entender o que ele fala em algumas linhas. Apesar da falta de química entre ambos, “Asking 4 It” é uma canção de hip hop e trap pegajosa. Inicialmente, Stefani pergunta: “Por que você quer ficar com alguém como eu / Por que você quer viver de modo imprudente?”. Mas durante a ponte, Wap soa entediado e contribui com um verso desconexo e desnecessário. Em seguida, “Naughty” nos traz grandes sentimentos de nostalgia, uma vez que explora o mesmo som old-school dos seus primeiros discos. O lirismo brinca com a suposta traição e mal comportamento do seu ex-marido. Outra música sarcástica que capta a raiva e dor de sua separação. A produção também é meio jazzística, visto que apresenta um riff de piano incongruente. Em “Me Without You”, Stefani está orgulhosamente se recuperando da dissolução do seu casamento, dizendo que não precisa mais do ex-marido em sua vida.
É uma balada de auto capacitação guiada por suaves teclas de piano, pulsante batidas, palmas rítmicas e eventuais violinos. O álbum fecha com “Rare”, uma linda canção electropop com influências de folk pop – é surpreendente como Stefani encontrou alguém tão especial após passar por um grande desgosto amoroso. Com uma produção minimalista, essa balada midtempo se concentra em uma instrumentação mais acústica. Conduzida por uma suave guitarra e vocais delicados, “Rare” consegue falar sobre o seu namorado sem soar exagerada. É uma linda canção que combina adequadamente guitarras acústicas com sintetizadores arejados. Com “This Is What the Truth Feels Like”, Gwen Stefani conseguiu transformar a sua dor em arte. O repertório é composto, em sua grande maioria, por canções de amor e desgosto. Trabalhar com Justin Tranter e Julia Michaels foi uma jogada inteligente. O repertório serviu como uma autoterapia, em grande parte graças a esses dois escritores. “This Is What the Truth Feels Like” é equilibrado e principalmente honesto. A honestidade foi fundamental para dar um ar de maior qualidade para ele. É um álbum muito mais elegante que o “The Sweet Escape” (2006) e mais maduro que o “Love. Angel. Music. Baby” (2004).