Na noite da última quinta-feira (10), Matuê – nome artístico de Matheus Brasileiro Aguiar – lançou seu aguardado álbum de estreia e fez história. “Máquina do Tempo” se tornou a melhor estreia de todos os tempos no Spotify Brasil. As sete músicas do álbum entraram no top 15 e nas primeiras 24h pós-lançamento, foi tocado mais de 4,6 milhões de vezes na plataforma. O álbum foi totalmente autoproduzido e não conta com qualquer participação de outros artistas. Matuê tem 26 anos e é natural de Fortaleza, embora também tenha crescido em Oakland, Califórnia. Atualmente, ele é considerado um dos maiores nomes do trap brasileiro – recebeu reconhecimento inicial em 2016 com o single “Rbn”. Posteriormente, ele ganhou projeção com “Anos luz” e, dois anos depois, consolidou sua trajetória com “Kenny G”. Em “Máquina do Tempo”, ele propõe uma viagem pelo tempo e espaço; de dreads e olhos roxos, ele olha para o céu na capa do álbum. O trap tem se expandido no Brasil e vem ganhando cada vez mais admiração do público jovem. Além de Matuê, outros nomes como Dfideliz, MC Igu, Derek, Jé Santiago e Denov se destacam no cenário nacional. No álbum, ele fornece temas que remetem a vivências pessoais, que vão desde a experiência com drogas até a violência de sua cidade natal.
A faixa-título é conceitual e minimalista – é o melhor momento criativo do Matuê. Utilizando sample de “Como Tudo Deve Ser”, última faixa do álbum “Abalando a Sua Fábrica” (2001) da banda Charlie Brown Jr., a canção surgiu após um encontro com o rapper Menestrel. Sob a bateria sintetizada, o padrão de chimbais, o bumbo aguçado e os sintetizadores atmosféricos, Matuê rima sobre drogas e riquezas. Inicialmente, “Máquina do Tempo” começa de forma sinistra sob os pesados acordes da guitarra e do baixo, mas rapidamente a bateria eletrônica e os hi-hat tomam conta da música. Flertar com o universo musical do Charlie Brown Jr. foi realmente uma jogada esperta. De forma orgânica, foi o próprio Matuê quem gravou os instrumentos do sample de “Como Tudo Deve Ser”. “Ahn, domingão queimando gasolina / Foi mal por comer a sua prima, mas a bunda dela me fascina”, ele diz no refrão. Daí em diante, Matuê faz várias alusões às drogas: “Vou pros anos 70, encontrar com o meu sogro / Pra fumar um baseado mais bolado que o outro / (…) Dropando whisky na balada / 20 grama de hash, ninguém entendia nada (…) / Duplo Rolex, fumando um becks / Hoje eu trouxe um slick cheio do toprê / Derrubo um Jack, bola uma track”. Quando chegamos na marca de 2 minutos e meio, um teclado entra em cena e Matuê muda o fluxo de “Máquina do Tempo” – ele foca no rap com acompanhamento de uma flauta e encerra a música em fade out.