A cada novo lançamento da Arca, ela sempre tenta nos fornecer algo consistentemente revigorante e intrigante. Em seu último lançamento, “Madre”, que ela descreve como um maxi-single, a artista trabalha em colaboração com Oliver Coates. O EP foca principalmente na impressionante encenação dos seus vocais assustadores sob uma composição florescente. A natureza cinematográfica de “Madre”, incandescente com as cordas orquestrais, esculpe um reino no qual alguém é capaz de se retirar para uma escuridão estrelada; um encanto incrivelmente elegante e significativo em seu fascínio. A atmosfera marcante lembra o drama de um teatro; talvez a de uma ópera em que o protagonista abre o coração, amando, lamentando e cantando suas palavras sob um único holofote, enquanto o palco treme ao seu redor. As cordas do Oliver Coates florescem tristemente, enquanto os vocais desamparados da Arca se curvam delicadamente. Porém, uma escuta mais atenta revela algo que está longe de ser orquestral: o sentimento de anseio e o estilo folk latino-americana. Sempre que Arca momentaneamente deixa de lado suas triturações eletrônicas, ela parece recorrer ao profundo sentimento de angústia embutido em suas tradições.
Em “Madre” – a história sobre a destruição de um relacionamento familiar -, ela retorna ao espanhol e à melancolia. Com 9 minutos, a música corre como uma lamentação; Arca pisa em um território atormentado, pronunciando continuamente a frase “madre mía”. Ela atinge o ápice no sétimo minuto, quando entrega uma frase angustiante: “O cordão umbilical nunca foi cortado / Até que eu fiz isso”. Como uma ode dolorosa à sua mãe, “Madre” salta através de vários conceitos musicais. Oliver Coates fornece um arranjo de cordas digno dos vocais arrepiantes da Arca. “Eu escrevi ‘Madre’ anos atrás e fiz ‘Madreviolo’ tocando violoncelo, antes de trabalhar com Oliver”, ela disse em um comunicado explicando a realização do EP e o importante papel de Coates. Certamente “Madre” vai muito além da música club experimental que ela costuma produzir e atinge algo mais elementar. O EP segue colaborações recentes com Oneohtrix Point Never e Shygirl. Seu álbum mais recente, “KiCk i” (2020) acabou sendo nomeado ao Grammy de “Best Dance Album”.