“Tudo Em Paz, Vol. 1” sela a renovação da parceria com a Som Livre, mas é outro registro trivial sem qualquer criatividade.
A dupla Jorge & Mateus iniciou 2021 com um novo EP, intitulado “Tudo Em Paz, Vol. 1” – prévia do 11º álbum de estúdio de mesmo nome, gravado ao vivo em Pirenópolis, Goiás. Com cinco faixas produzidas por Neto Shaefer, sendo quatro inéditas – “Vogais e Consoantes”, “Hit do Ano, “Paradigmas” e “Tem Que Sorrir” -, o EP, lançado ontem (22) nas plataformas digitais, ainda apresenta o hit e primeiro single “Lance Individual”, canção com quase 50 milhões reproduções no Spotify. Todas as músicas foram disponibilizadas com um videoclipe no canal oficial dos artistas no YouTube. “Para começar o ano, decidimos disponibilizar novas músicas para vocês. Nossa intenção é aquecer os corações de todos para tudo que está por vir”, Jorge comentou. “Tudo Em Paz, Vol. 1” sela a renovação da parceria com a gravadora Som Livre, iniciada em 2012. No entanto, é outro registro trivial sem qualquer novidade – é surpreendente o quanto o sertanejo é carente de inovação. Embora seja o estilo musical mais consumido no Brasil, é também aquele mais banal. Jorge & Mateus é uma das duplas de maior sucesso do gênero, donos de inúmeros hits nas rádios e plataformas de streaming.
“Propaganda”, “Trincadinho”, “Tijolão”, “Cheirosa” e “Ranking” são exemplos de músicas que já ultrapassaram a marca de 100 milhões de reproduções no Spotify. Mas sucesso comercial não é sinônimo de qualidade. “Tudo Em Paz, Vol. 1” é tão brega e chato quanto você poderia esperar – é difícil dizer qual faixa é mais irritante. É tudo tão maçante que quando você começa a ouvir a primeira música, não vê a hora de chegar ao fim do EP – são apenas 16 minutos de duração, mas parece uma eternidade. Os vocais, as melodias, as letras e as produções parecem todas iguais. Em um determinado momento, eu achei que estava ouvindo a mesma música durante 15 minutos. Não estou exagerando, é realmente um teste de resistência ouvir esse EP do começo ao fim. “Lance Individual” já está entrando para o seleto grupo de hits do Jorge & Mateus, mas é tão boring quanto qualquer outra música do seu catálogo. “A gente já tentou de tudo pra ser um casal / Mas já saquei que o nosso lance é individual”, eles cantam no refrão enervante. “Cê na sua, eu na minha / Deu saudade, campainha / Eu entro no seu quarto / Mas não entro na sua vida”. Mais uma vez, eles tentam retratar um relacionamento que não deu certo.
Porém, eles fazem isso da forma mais superficial possível: não há detalhes, profundidade, metáforas inteligentes ou qualquer poesia. Palavras quaisquer são jogadas na mistura apenas para rimar com a frase anterior. Como de costume, o acordeão, o violão e a percussão formam o instrumental da música – e isso vai se repetir pelas próximas quatro faixas. Ainda mais decepcionante é a estrutura da canção: eles sempre repetem o primeiro verso, em vez de criar algo mais elaborado. A guitarra e o teclado marcam presença em “Vogais e Consoantes”, mas o timbre azucrinante do Jorge acaba com a suavidade dos instrumentos. “Me hipnotizou, me deu mais que o bastante / O seu beijo freou minha boca viajante / Chegou e completou a frase num instante / Trouxe as duas vogais pras minhas consoantes”, eles dizem no refrão tolo e confuso. “Hit do Ano” tenta seguir por uma rota mais descontraída, graças aos acordes saltitantes do ukelele. Mas, novamente, tudo se torna desagradável; o acordeão é mais uma vez colocado ao fundo enquanto o tom vocal permanece enfadonho. “Paradigmas” é ainda mais insuportável – Jorge canta de forma sofrível e martirizante.
O conteúdo lírico é um amontoado de palavras soltas que estão lá, novamente, apenas para rimar: “Sabe, eu sou seu, coração bate fora da casinha / Sabe, eu sou seu, eu piro no seu jeito caladinha / Fala nada, só me ama, só me ama, fala nada, me ganhou na calada”. Qual o sentido de criar uma música assim? Em determinados momentos, fica difícil até entender o que o Jorge está dizendo por causa do tom vocal antipático. Dessa vez, o acordeão está ainda mais alto e discordante. “Tem Que Sorrir”, a faixa mais longa do repertório, encerra o EP de forma satisfatória. É uma luz no fim do túnel? Certamente não. Inicialmente, parece que teremos uma música distinta e mais dinâmica, mas tudo vai por água abaixo quando eles começam a cantar. Felizmente, a bateria está mais potente e o acordeão permanece ausente – além disso, a guitarra marca presença em determinados momentos. Liricamente, eles tentam pintar um retrato de resiliência e fé, embora as letras sejam simplistas e não consigam emocionar da forma que deveriam: “Não reclame de barriga cheia / Porque, no fundo, isso atrapalha / Positividade na cabeça / Amor e fé, precisa de mais nada”. Em suma, fora do espectro sertanejo, dificilmente alguém vai achar algo de interessante nesse EP.