O som orvalhado desse álbum apela a uma geração mais jovem, confirmando que o britpop moderno nem sempre é igual.
Quase três anos se passaram desde o lançamento do “My Mind Makes Noises” – o álbum de estreia do quarteto Pale Waves. Como companheiros de gravadora de Beabadoobee e The 1975, a banda movida por guitarras conquistou fãs em vários países com sua honestidade e nostalgia pelo pop punk do início dos anos 2000. Sem mencionar a intoxicante vocalista Heather Baron-Gracie, que combina sua estética gótica de marca registrada com um talento para escrever faixas irresistivelmente românticas. Baron-Gracie formou uma aliança musical com a baterista Ciara Doran na universidade, e Pale Waves mais tarde se tornou o resultado. Apesar de manter certos tijolos de suas paredes no primeiro álbum, o segundo esforço da banda revela aspectos mais íntimos de si mesma como pessoas – mais notavelmente em termos de sexualidade. Com uma legião de fãs obstinados, a pressão por “Who Am I?” foi alta, e o registro cumpre o que prometeu. Há a presença de uma nova autoconfiança nas letras, com a bravura da jovem de 26 anos também resultando em rastros emocionais que abordam a saúde mental e as lutas de sobriedade.
Melodias e baladas poderosas que lembram Avril Lavigne e Hayley Williams do Paramore estão espalhadas por toda parte, por mais clichê que pareçam. Ocasionalmente, o romance vai um pouco longe demais, com letras exageradamente doces, mas a autenticidade de Heather Baron-Gracie é, no entanto, uma das principais razões pelas quais a Geração Z ama o Pale Waves. Suas palavras lhe ajudou durante a adolescência, então ela decide retribuir. O álbum de maioridade possui as bases para um projeto pop rock liderado por mulheres que preenche a lacuna no mercado. Certas faixas têm a tendência de parecerem semelhantes entre si, e a banda não quebra exatamente as fronteiras do gênero. No entanto, isso não significa que o LP não seja uma boa oferta. Embora o nome possa sugerir uma antiga banda indie dos anos 80 ou 90, Pale Waves é uma proposta moderna. A baterista Ciara Doran conheceu Heather Baron-Gracie no BIMM de Manchester, o Instituto Britânico e Irlandês de Música Moderna, cuja filial em Dublin gerou bandas como Fontaines D.C. e The Murder Capital.
Baron-Gracie citou a falecida Dolores O’Riordan como uma influência chave em seus vocais e estilo. Há uma ligeira semelhança vocal, mas é aí que as comparações começam e terminam, conforme Baron-Gracie e seus colegas nos envolvem com um grande individualidade. “Who Am I? ” é um título adequado em mais de um aspecto. Pale Waves está entre as poucas bandas em ascensão do indie rock britânico, mas eles não compartilham quase nada com os gostos do Shame, tirando o fato óbvio de utilizarem guitarras. Dito isto, o quarteto mancuniano aperfeiçoou seu som com um pop rock incrivelmente intenso. “She’s My Religion” começa como uma balada temperamental e depois sobe para novas alturas no refrão. “You Don Don’t Own Me” retorna ao pop gritante, enquanto Baron-Gracie descarta as expectativas misóginas: “Não mostre muita pele, nem comece a falar o que pensa”. “Change” tem um fundo de guitarra acústica predominante enquanto o refrão explode com uma energia nostálgica. A maneira como isso é feito por Pale Waves faz tudo parecer natural. Os vocais de Baron-Gracie são perfeitos para a música – ela é uma potência. “Change” encapsula sem esforço o rompimento de um relacionamento em suas letras, justapondo o refrão otimista.
Em “Wish U Were Here” e “Fall to Pieces”, eles exploram ainda mais a separação dos relacionamentos da maneira mais bonita – “Wish U Were Here”, particularmente, tem um fundo acústico com peças faladas entrelaçadas no início da faixa e na ponte. “Fall to Pieces”, por sua vez, é uma música atmosférica que replica o violão de “Change” – é terna em seus versos contrastantes, fortes refrões e adoráveis melodias. A citada “She’s My Religion” é realmente uma faixa de destaque – crua, honesta e linda. “Ela me ajudou a encontrar um tipo diferente de amor, me fez sentir como se finalmente tivesse chegado / Ela é fria, ela é sombria, ela é cínica, está sempre com raiva do mundo / Ela não é um anjo, mas é minha religião”, Baron-Gracie canta, mostrando a beleza de suas composições. Eu acredito que essa música realmente captura um relacionamento entre pessoas do mesmo sexo maravilhosamente e não se esconde por trás de clichês ou alguma super sexualização. O videoclipe que acompanha também representa relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo da maneira mais autêntica e bela possível, até mesmo no fato que Heather incluiu sua própria namorada no vídeo. É uma canção inspiradora e otimista para quem precisa de luz neste momento.
Cheia de músculos pop punk, “Tomorrow” apresenta um ritmo estrondoso com guitarras rosnando e emitindo uma parede de som nebulosa no refrão, enquanto “Run To” fornece uma sensação estridente juntamente com uma dinâmica potente. O álbum fecha com a faixa-título: há um piano melancólico e baixo, e tons deliciosamente temperamentais impregnado nas letras com uma coloração apaixonada. Ela tem um toque mais suave e calmante, mas também é dramática, eufórica e quase um pedido de ajuda. “Quem sou eu, preciso de um sinal”, Baron-Gracie canta, transmitindo a urgência que precisa encontrar. Essa peça aborda as privações pessoais que a vocalista enfrenta e é sua tentativa de investigá-las. No geral, os temas do álbum são muito pessoais, mas ainda assim extremamente acessíveis e relacionáveis para muitos. O pop punk brilha fortemente, e a fusão com seu estilo indie funciona bem, mesmo para aqueles que não são necessariamente fãs do estilo. A jornada pessoal de Heather Baron-Gracie lhe ensinou muitas lições valiosas que ela foi capaz de transformar em arte e compartilhar conosco. Aqueles que enfrentam lutas semelhantes às dela podem encontrar paz e aceitação aqui, bem como uma voz que lhes diz que eles não estão sozinhos.