Gustavo Pereira Marques, mais conhecido pelo nome artístico Djonga, é um rapper e compositor de Belo Horizonte, Minas Gerais. Considerado um dos rappers brasileiros mais influentes do momento, ele costuma fazer fortes críticas sociais em suas músicas. Hoje, ele lançou o seu quinto e provável último álbum de estúdio, simplesmente intitulado “NU”. Confessional, o registro, cuja capa traz a cabeça do rapper numa bandeja, apresenta um narrador falando na primeira pessoa, sem baixar a guarda. Ademais, as críticas sociais ainda existem – aqui, ele põe o dedo em várias feridas e expõe diversos problemas enfrentadas diariamente pelos pretos no Brasil. É curioso perceber que, ao longo de oito faixas, Djonga vai de “Nós” a “Eu”. “Outro dia eu me vi perdido / Chorando por algo que outro alguém me causou / Em minha direção veio um mano e disse / A gente nasce sozinho e morre sozinho”, ele diz nas primeiras linhas de “Nós”. “Eu não quis acreditar / Eu não quero acreditar / Eu não vou acreditar / Até aqui, tudo foi por nós”. Todas as oito faixas do repertório foram escritas durante a pandemia, entre 2020 e 2021.
Liricamente, “Nós” é um pedido de socorro em nome de todos os negros do país; Djonga foi metaforicamente baleado e agora pede justiça pelos seus. Além disso, quando ele diz que o seu coração “parece um balde furado” e que o vazio o “acertou em cheio”, se inicia uma narrativa que se estende por todo o álbum. A produção de “Nós” ficou dividida entre Nagalli e Coyote, com base num instrumental com diversas variações na batida – as pancadas de tambor, chimbal e bateria são o auge da música. De fato, a produção acompanha perfeitamente o fluxo rápido e intenso do Djonga. Interessante também são as improvisações líricas e os sons de multidão. “Crescemo culpado, o certo é carregar o peso / Pula na frente da bala pro playboy sair ileso / Desde menorzin, tem que andar com álibi / E é pra provar pros cana que eu não sou Ali Babá”, ele diz no meio da música, a fim de mostrar o quanto o Brasil ainda é estruturalmente racista. São pouco mais de 3 minutos em que o rapper parte de uma abertura melancólica e estabelece um cruzamento de rimas e estímulos para capturar nossa atenção. Ainda sobra tempo para fazer comparações com “Let It Be” dos Beatles: “Quase que eu me conformo e vivo no let it be / Tipo assim, e daí? Deixa ser, deixa estar”.