Sem perder a sonoridade que passeia pelo reggae, pop, folk e MPB, o novo disco do Melim é repleto de positividade e romantismo.
O Melim é um trio brasileiro formado pelos irmãos Rodrigo, Gabriela e Diogo Melim – eles tinham projetos separados antes de se juntarem para formar a banda. Em 2016, participaram da terceira temporada do reality show “Superstar”, da Rede Globo, e terminaram a competição como semifinalistas. No ano seguinte, eles assinaram contrato com a Universal Music e lançaram seu primeiro EP homônimo, que inclui o hit “Meu Abrigo” – a faixa já ultrapassou a marca de 200 milhões de reproduções no Spotify. O trio lançou ontem (22), seu novo álbum de estúdio intitulado “Amores e Flores” – a extensão de “Eu Feat. Você” (2020), o EP indicado ao Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum de Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa”. “Quando começamos a produzir não pensamos nele segregado, a gente sempre pensou nele junto, então na verdade eles são uma história só”, conta Gabriela sobre os dois projetos. “Amores e Flores” foi gravado no renomado estúdio da Capitol Records, em Los Angeles, Estados Unidos. A banda revelou que a pandemia alterou o processo de composição e gravação das canções, mas que apesar dos desafios, os aprendizados foram recompensadores. As oito faixas que formam a primeira parte do álbum apresentam um certo amadurecimento, além de arranjos mais decentes.
Os irmãos Melim passaram os últimos anos empurrando suavemente os limites do folk. Seu debut, “Melim” (2018), foi básico e acústico, mas eles começaram a evoluir quase que imediatamente. Canções como “Meu Abrigo”, “Ouvi Dizer” e “Dois Corações” foram bem-sucedidas o suficiente para chegar ao topo das paradas das plataformas de streaming. No entanto, desde a sua participação no “Superstar”, Melim nunca expandiu sua zona de conforto ou fez escolhas genuinamente não convencionais. Sobre as composições, Rodrigo contou que as canções foram escritas em meados de 2019 e revelou que eles criaram o hábito de estarem sempre compondo novas músicas para serem gravadas em um outro momento. No geral, “Amores e Flores” conta com faixas românticas, positivas e misturam novamente o reggae com o pop e o folk. De fato, o estilo do Melim é bastante diversificado, pois também possui influências de outros estilos como MPB e surf music. O trio geralmente lança material autoral, mas dessa vez, também optaram por compartilhar um cover de “O Bem” (Arlindo Cruz). Mas além de compositores, eles também são instrumentistas; Diogo toca violão e bateria, enquanto Rodrigo toca guitarra e teclado, e Gabriela ukulele e cavaquinho. Dito isto, “Amores e Flores” conta com produções de Malibu, Bruno Cardoso e Lelê (Us3).
A letra lindamente romântica da faixa-título possui linhas esperançosas como: “Agora tudo faz sentido, tipo final de livro / Tá cada coisa em seu lugar / Cada rosa e cada espinho fazem parte do caminho / Que é preciso pra gente melhorar”. Ademais, mantém o estilo good vibes de marca registrada da banda. Aqui, eles refletem sobre os lados bons e ruins de um relacionamento. Sob uma leve batida, acordes de violão e atmosfera positiva, Melim aposta em um vídeo tão relaxante quanto. Parte do clipe foi gravado em Holambra, São Paulo, local conhecido como a “cidade das flores”. O segundo single, “Possessiva”, tem uma pegada mais pop. Gabi toma o centro do palco sobre a bateria e os típicos acordes de violão. Mas embora os belos vocais sejam agradáveis, a música tem várias linhas desajeitadas que podem causar constrangimento: “Beijar sua boca é melhor que sobremesa / Feito tênis e cadarço, me amarrei no seu abraço”. No clipe, cada membro aparece com um par, foi um desafio para os irmãos que tiveram que atuar, vivenciando situações corriqueiras da vida de casal. Melim sabe como criar o tipo de música sobressalente que pode acalmar uma sala. O trio prefere manter sua música com um brilho suave, roçando as cordas do violão ou do ukulele com a ponta dos dedos para desenhar o mais leve sussurro sonoro.
Os vocais costumam ser ofegantes e românticos, lembrando artistas como Jason Mraz e Jack Johnson. E, como acontece com bandas como Skank e Natiruts, há um magnetismo instantâneo logo abaixo da superfície. Geralmente, o trio canta com uma leveza emocional, especialmente a Gabi. Sua voz é linda. É comovente, leve como uma pena, um ajuste natural para os arranjos mais cuidadosos. E, embora as canções sejam simples, o trio tem um instinto esvoaçante o suficiente para cativar qualquer pessoa. A atmosfera do álbum é extasiada e reconfortante, os silêncios carregados. Quanto mais tempo você passa afundando em cada música, mais você percebe o quanto sua essência é arejada. Algumas canções são como uma mágica sutil e contínua, como “Ouvi Dizer” do primeiro álbum – a maneira como as palavras caem em uma linha, os lugares onde as notas pousam. Por outro lado, as letras às vezes podem ser fúteis e superficiais – é aí que mora a maior fraqueza do Melim. A terceira faixa, “Ímpar”, é o tipo de música que os pais cantam para fazer seus bebês dormirem, visto que parece uma canção de ninar. Aqui, Rodrigo canta: “É mara te amar, maravilhoso gostar / E quem é que não gosta de amar? / Afoguei no seu mar, quero ser o seu par, você é ímpar”.
“Teu Céu” pisa um pouco fora da zona de conforto da banda, no momento que fornece batidas mais contundentes e um verso de rap. É uma peça cativante, embora possua a mesma positividade do restante do álbum – além disso, o verso do Projota é completamente inofensivo. Seu fluxo é frouxo e as letras tão bregas que causam vergonha alheia: “Eu sou o Sol, ela é a Lua / E o eclipse é uma demonstração do nosso amor e seja como for”, ele diz no final – mais clichê que isso, impossível. O constante riff de violão de “Azulzinho” acompanha, mais uma vez, os delicados vocais da Gabi. Porém, as letras continuam completamente desprovidas de profundidade. “Paz e Amor”, por sua vez, faz jus ao título e foca na vibe sossegada e relaxada da instrumentação e dos vocais. Para quem gosta do reggae fusion do Melim, essa música é um pacote completo – liricamente, eles continuam completamente ingênuos. Por fim, o trio conseguiu transformar um samba tão consistente como “O Bem”, em um número inócuo de folk-pop. Felizmente, a leveza do trio torna sua performance amigável em vez de irritante. Sem perder a sonoridade que passeia pelo reggae, pop, folk e MPB, o novo disco do Melim é repleto de positividade e romantismo. Entretanto, tenho a impressão que provavelmente esquecerei esse álbum na próxima semana.