Para um álbum ambicioso e de grande porte, “EL DEREK” soa incrivelmente barato.
O paulista Derek é um dos fundadores da Recayd Mob e um dos maiores expoentes do trap brasileiro. Depois de tanta ansiedade, ele finalmente liberou nesta sexta-feira (29) sua nova mixtape, “EL DEREK”. O registro conta com 23 faixas, participações de nomes como A$AP Twelvyy, VK Mac, Leozin, Black Fortune, MC Igu, WillsBife, Laïoung e The Boy, além de produções de Celo1st, Skidrow, Marreta, Xavi, Trxntin e Darez. Mais uma vez, ele apostou em uma sonoridade sombria enquanto aborda diferentes temas; envolvendo mulheres, drogas, racismo e ostentação. O ano de 2020 foi bem movimentado para a Recayd Mob, tendo em vista que seus principais integrantes lançaram álbuns solo. Com esse material, Derek se inspirou mais uma vez nos artistas americanos de trap, especialmente aqueles que fazem parte da equipe A$AP Mob. Se a simplicidade é uma característica que se destaca em seu trabalho, então ele repete essa fórmula com maestria. “EL DEREK” é um projeto interessante, embora muito longo; nada foge de sua zona de conforto, mas cativa com facilidade; seu fluxo é consistente, mesmo que superficial em determinados momentos. Provavelmente, a principal falha da mixtape é realmente sua longa duração, que ultrapassa a marca de 1 hora e torna a experiência auditiva um pouco cansativa.
Dito isto, “EL DEREK” precisa ser apreciado sem grandes expectativas, porque além do enorme comprimento, algumas faixas são mais do mesmo – de fato, há determinadas músicas que poderiam ser cortadas. Embora as batidas sejam viciantes, elas não são inovadoras. Tudo segue uma fórmula pré-estabelecida pelo trap americano, com riffs repetitivos, loops de sintetizadores e tambores dispersos. As rimas são obscurecidas por uma sensação de que tudo isso é impulsionado por sua própria paranoia. Suas histórias não estão completamente enraizadas na realidade, visto que Derek não está fugindo de ninguém. Mas sua música é mais do que anedotas sobre um homem cansado de uma vida da qual ele parece não conseguir escapar. Elas são entregues com uma voz rouca e áspera que você pode ter depois de acordar com ressaca. Ocasionalmente, ele é impedido por escolhas de produção que soam como imitações baratas de suas inspirações no rap do sul dos Estados Unidos. No entanto, Derek é um contador de histórias tão consistente que consegue fazer com que os temas mais monótonos pareçam vivos. A ansiedade e paranoia constantes da mixtape não são apenas emocionantes, mas engraçadas de uma forma estranhamente distorcida.
“EL DEREK” é uma tentativa de recuperar o controle de sua narrativa, para se reorientar com suas intenções. Seu esforço é admirável, mas “EL DEREK” oferece poucas percepções valiosas sobre ele como pessoa ou artista. Quase todos os convidados roubam as atenções em suas respectivas canções. Leozin e MC Igu trazem um sabor e uma urgência para “BABY DRACO” e “LIL JON”, respectivamente. Surpreendentemente, Xii sem esforço deixa cair linhas com um suspiro fora de série em “SAVAGE”. Quando Derek tenta mudar isso, as coisas não ficam tão empolgantes. “DING DONG” é uma fatia de drill em algum lugar entre Wale e slowthai, completo com gorjeios auto ajustados; sua inclusão é embaraçosa, para dizer o mínimo. A citada “BABY DRACO” é um pouco entediante: a batida é mal aproveitada e o instrumental vazio demais para criar a atmosfera desejada. Leozin realmente salva a música com rimas como: “Meus manos mudando da água pro vinho / Ela geme tanto, incomoda os vizinho / Te faço gozar, achei seu caminho / Tá tendo um orgasmo e não tá fingindo / Eu faço essas notas desde menino”. Pontos brilhantes como “VVS”, com Black Fortune, são exceções aqui. Uma música eletrizante com teclas saltitantes, embora seja genérica em sua essência.
Quer se trate de tiroteios, sexo ou dinheiro, Derek organiza os eventos de alta octanagem da maneira mais suave possível, mal mudando suas frases. Em 23 músicas, fornece influências de diferentes artistas, como Playboi Carti (“FINI NO PURPLE”), Chief Keef (“RACKS STUDIO”), Drake (“SEM DRAMA”), Travi$ Scott (“NO LABEL”) e slowthai (“DING DONG”), desperdiçando várias batidas decentes no decorrer do processo. Mesmo a mixagem e os socos vocais em faixas como “I TOLD YOU” são pouco inspirados; para um álbum de grande porte, “EL DEREK” acaba soa incrivelmente barato. Poucas faixas solo conseguem entreter com facilidade; a exceção é a curta “ISSO É RAP?”, um corte onde Derek prova que consegue escrever algo significativo. “Eles odeiam minha cor, parça, o ódio é igual / Olho pro lado tá estranho, só o barulho da barca / Eu começo a rezar, por favor, Deus que me guarda / É um fato nós só sobrevive e não muda”, ele cospe aqui em menos de 2 minutos. “Mataram um de 13 lá no fim da minha rua / Confundiram um brinquedo no bolso da bermuda / Eu só ouvi os pipoco, o moleque pedindo ajuda / Pensaram que era uma peça, cê sabe que num interessa / O final nós já sabe e a cena é sempre essa / O final nós já sabe e a cena é sempre essa”.
É uma música franca e inteligente apoiada pelo tipo de batida descontraída e contundente que o Derek normalmente evita. Em faixas como “BLING BLAW” (com WillsBife), “NO LABEL” (com Laïoung), “MENAH” (com The Boy), e “SKYPE” (com Flipp e Trxntin), Derek e companhia apostam principalmente na produção. Os graves pesados, os sintetizadores, a flauta esporádica, o teclado, o violão e as batidas formam um pacote completo. Outro dueto interessante acontece em “O QUE VOCÊ FEZ COMIGO”, com Sabrina Lopes – sua voz injeta um mudança de ritmo necessária. “O que cê fez comigo? / Tô pensando em você toda hora / Agora sem você ficou foda / Sem foda, tá foda”, ela canta apaixonadamente no refrão. A maior parte do “EL DEREK” é severamente carente de personalidade e originalidade. Ele está perdendo o seu entusiasmo vigoroso, a nitidez melódica ou o estoicismo vívido, e, consequentemente, trazendo pouco para a mesa. Alguns momentos edificantes não podem impedir o álbum de parar em sua própria ambição. Raramente um tema é mantido por muito tempo; às vezes soa como se ele estivesse recitando palavras sem nada real por trás. Com isso em mente, “EL DEREK” deixa muito a desejar. A produção está no ponto, mas a falta de identidade e a inevitável superficialidade prejudicam profundamente o seu andamento.