“Supermarket” parece com o “Rebirth” (2010) e o “Speedin’ Bullet 2 Heaven” (2015), ambos experimentos de rock desastrosos realizados por rappers bem sucedidos.
Logic é mais do que um rapper – pelo menos é assim que ele se vê. Isso ficou claro nessa terça-feira, quando ele lançou “Supermarket”, seu romance de estreia que conta a história de um caloteiro de 24 anos chamado Flynn, que trabalha na mercearia de sua cidade rural. Ele lançou a soundtrack do romance com um total de 13 faixas, que o encontra mergulhando de cabeça no rock alternativo dos anos 90 e 2000. O álbum começa um pouco auspicioso, com uma odisseia de 7 minutos intitulada “Bohemian Trapsody”. Se tudo isso parece uma ideia terrível, é porque realmente é. Durante sua ascensão ao estrelato, Logic apresentou-se como duas partes: um MC e um pregador secular. Mas em vez disso, ele se põe resolutamente em águas musicais desconhecidas, abraçando a força do rock com uma autoconfiança fatal e suicida. Seu repentino recital como romancista e impressionista não é tão chocante quanto deveria ser. Ele tem o hábito de se expandir criativamente; no ambicioso “Everybody” (2017), por exemplo, ele divulgou ideias incompletas sobre a inclusão social.
Mas Logic parece se ver como uma figura humana que, através do poder da paz, do amor e da positividade, pode alcançar qualquer coisa para a qual ele fixa sua mente. E assim, com essa combinação de ingenuidade e arrogância, ele apresentou um conjunto insípido de canções de amor. Tudo soa como se tivesse sido escrito e gravado em 2004 por um garoto de 14 anos que conhece apenas quatro acordes de guitarra. Claro, a ideia por trás do “Supermarket” é ousada, mas completamente sem graça e carente de qualquer coisa que se assemelhe à autoconsciência ou visão pessoal. Um álbum repleto de aproximações grosseiras de músicas já existentes que fazem o Logic soar como se estivesse cantando acompanhado por um karaokê não autorizado. “Pretty Young Girl” pega emprestada a melancolia do piano de “Closing Time” do Semisonic; as guitarras de “Supermarket” apontam diretamente para “Say It Ain’t So” do Weezer; “Time Machine” é uma balada recauchutada e extraída diretamente de “Karma Police” do Radiohead.
As impressões digitais de Matchbox Twenty, Dave Matthews Band e Coldplay estão por toda parte, assim como parte dos restos do Red Hot Chili Peppers. Sobre a odiosa “Lemon Drop”, Logic desdenhosamente fornece referências desdentadas e ainda se orgulha disso. Ter influências na manga não é inerentemente ruim, especialmente considerando que este é a sua primeira incursão no rock. No entanto, ele é severamente limitado, uma vez que sua voz é tão plana. Logic tem usado seu canto com moderação até este ponto de sua carreira, e o fato de que ele confia tanto no “Supermarket” sugere que estava se sentindo envenenado depois que o melódico “Everyday” (com Marshmello) chegou ao top 40 da Billboard Hot 100. Muito pior do que o seu canto é a sua composição, que varia de desconcertante (“Se você é uma vadia chorona, eu vou foder sua mãe”) a brutal (“Eu construí uma máquina do tempo para você / Mas você sempre morre, não importa o que eu faça”). Até mesmo o apego entre o romance e a trilha sonora parece tênue; através de 13 faixas, ele revela pouco sobre o narrador, suas experiências ou a garota por quem é apaixonado.
Os destaques do “Supermarket” surgem quando o Logic se distancia da estética de rock alternativo. Os poucos momentos em que ele faz rap são como lufadas de ar fresco, assim como as duas músicas que pisam no R&B. Os exemplo são “Can I Kick It?”, que apresenta o agradável vocal de Juto, e “I’m Probably Gonna Rock Your World”, coincidentemente uma das músicas que o Mac DeMarco co-produziu. “Supermarket” existe em um plano diferente do Juice WRLD, XXXTentacion e Lil Peep, e a nova geração de artistas ansiosos para unir batidas de hip hop com o rock. Tem mais em comum com “Rebirth” (2010) do Lil Wayne e “Speedin’ Bullet 2 Heaven” (2015) do Kid Cudi, ambos experimentos de rock desastrosos realizados por rappers bem sucedidos. Enfim, eu não sei mais o que dizer sobre este projeto, é facilmente a pior coisa que ele já fez. Eu posso admirá-lo por sair de sua zona de conforto, mas os instrumentais são ruins e desgastantes. Além disso, o seu canto é horrível e as letras são mais complicadas do que qualquer coisa que ele lançou desde o “Everybody” (2017).