A dinâmica dupla Hot e Oreia está se destacando cada vez mais no rap nacional. Mario do Nascimento, também conhecido como “Hot”, explica que o rap é uma forma de arte em constante evolução: em vez de imitar os estilos dos rappers americanas, o hip hop prospera em criações híbridas voltadas para o público local. Venerando os gigantes da tropicália, Hot e Oreia chamou seu álbum de estreia de “Rap de Massagem” para zombar das imagens predominantes de gangsta do rap mainstream, empregando humor e um senso cômico em seus vídeos. “Eu Vou”, com a participação de Djonga, trata alguns assuntos sérios com muita irreverência. A letra faz várias referências a problemas atuais, principalmente em relação ao momento político do país. Alguns versos atacam diretamente alguns políticos, como João Dória (Governador de São Paulo) e o Presidente reacionário Jair Bolsonaro. O videoclipe, por sua vez, faz referência ao clássico nacional “O Auto da Compadecida” (2000), adicionando ainda mais energia ao apelo cômico da canção.
Com conceito e viés caricato, Hot e Oreia fazem uma bagunça sobre o instrumental de Fantasmatik, além de apresentar um fluxo ímpar. Juntos, eles fazem críticas sociais a atual política brasileira (“Cê tá enganado falando de família / Tá parecendo o Dória, rodeado de puta / Broxa, doido de pedra”), abordam a hipocrisia da religião (“Meu precioso, Jesus era anarquista / Num era racista, jogado na pista / Bebia vinho e chupava Madalena / Respeitava as mina e fudia o sistema”) e tocam no racismo (“Ó tio, cê tá me dando medo / Disseminando o ódio, coitado do primo preto / Fake news e zap zap, vicia que nem baque / Cê tá possuído pelo KKK-crack”). Tudo é apresentado de forma sátira, honesta e realista. A genialidade das letras e as potentes batidas são os maiores pontos fortes da música. Depois de citar na letra “Deus pra mim é Djonga” – brincando com uma auto-referência de Djonga, no álbum “O Menino Que Queria Ser Deus” – o rapper convidado aparece e finaliza a música. Nesse momento, Bolsonaro não escapa ileso da rima disparada pelo Djonga: “Alguns amam, outros detestam, tipo mastigar cebola / Só que não falo de quem da boca sai merda / E que de tanto falar merda, hoje a merda sai pela bolsa”. A diversidade sonora e a construção lírica de “Eu Vou” são realmente dignas de nota.