Há muitos convidados no álbum e, na maioria das vezes, esse aspecto se torna prejudicial como um todo.
O gênio por trás do Black Sabbath realmente não precisa de introdução. Quero dizer, Ozzy Osbourne já é uma lenda. Embora tenha ficado claro que banda deixou de existir, ele ainda permanece ativo. No entanto, “Ordinary Man” é o seu primeiro material solo em uma década. Eu particularmente sempre fui mais fã do Black Sabbath do que de sua carreira solo. Nesse caso, pode ser a primeira vez que me envolvi totalmente com um projeto solo do Ozzy. E logo de cara eu pude notar o quão confortável ele se encaixa estilisticamente no restante de sua discografia. “Ordinary Man” possui uma estética clássica que confere a ele o título de “pai do heavy metal” e “príncipe das trevas”. Mas embora isso seja bom, ainda me sinto um pouco dividido quanto à rota previsível que ele tomou, especialmente depois de um hiato de dez anos. Claro, existem momentos surpreendentes, como por exemplo a faixa-título. Outra coisa que merece elogios, é que parece um álbum inesperadamente reflexivo. Ele fornece uma visão profunda de sua mente – serve como um catálogo dos medos e ansiedades do Ozzy. Isso aumenta minha crença de que este disco é o mais próximo que chegamos do “Diary of a Madman” (1981); além disso, também colocou Ozzy sob uma luz mais vulnerável e mortal.
De fato, é difícil não ver o anúncio de um novo álbum com algum pavor. Seus últimos lançamentos pareciam desnecessários na melhor das hipóteses, e os recentes cancelamentos de turnês e a revelação do diagnóstico de Parkinson mostram um retrato de alguém que deveria gozar de uma merecida aposentadoria. Ademais, o fato do produtor do Post Malone estar por trás do projeto não inspirou confiança. Mas, mesmo contra todas essas probabilidades, “Ordinary Man” é realmente bom. Não é compatível com clássicos como “Blizzard of Ozz” (1980) e “No More Tears” (1991), mas é um esforço louvável. Não é essencialmente metal, no entanto. Músicas como “Straight to Hell” e “Scary Little Green Men” estão fincadas muito mais no espectro do hard rock. No decorrer do repertório, há algumas peças incríveis, além de baladas habituais e singles óbvios. Estranhamente, um dos destaques vem do lugar mais inesperado – a tumultuada “It’s a Raid”, sua colaboração com Post Malone. Ozzy participou do seu último álbum, “Hollywood’s Bleeding” (2019), e aparentemente, Malone quis retribuir o grande favor. “It’s a Raid” usa uma bateria contundente, sirenes de polícia e vocais mais acelerados; o resultado é um número surpreendentemente otimista.
Mas há momentos em que o LP se sente quase supérfluo. Músicas como “Under the Graveyard” e “Today Is the End” carregam uma marca inconfundível de seu trabalho. Entretanto, é preciso quase procurar o próprio Ozzy dentro da enorme quantidade de produção que o rodeia. De qualquer forma, essas faixas são, mais uma vez, incrivelmente apertadas e igualmente proporcionais em sua atratividade. Meticulosamente, e impecavelmente construído, a partir da abertura em diante, o repertório propositalmente traz Ozzy Osbourne para o “mundo de hoje”. Enquanto “Straight to Hell” explode dos alto-falantes com riffs classicamente nítidos e rolantes, que lembram o melhor das quatro décadas solo do Ozzy, um pensamento vem à mente: o Príncipe das Trevas está realmente de volta! Dadas as questões relacionadas à sua saúde, é um álbum que poderia não ter existido. Ozzy falou sobre como o álbum cresceu organicamente e foi escrito e gravado rapidamente, muito parecido com os primeiros discos do Black Sabbath. Ainda há participações de Duff McKagan, baixista do Guns N’ Roses, e Chad Smith, baterista do Red Hot Chili Peppers, além do produtor Andrew Watt na guitarra. O resultado é cru, energizado e cheio de vida, além de emocionalmente pesado em alguns lugares.
É verdade que o trabalho de guitarra de Andrew Watt pode não ser tão brilhante quanto o de Zakk Wylde, mas os riffs continuam consistentemente poderosos. Ademais, Slash acrescenta sua guitarra à mencionada “Straight to Hell”, enquanto Tom Morello, da Rage Against the Machine, faz um solo empolgante em “Scary Little Green Men”. Outro convidado inesperado é Elton John, que fornece vocais na faixa-título. Liderada pelo piano, é uma canção tão gloriosamente exagerada quanto você poderia esperar. O trabalho da guitarra é um dos melhores do álbum. Aqui, encontramos Ozzy em um humor reflexivo, olhando para trás em sua louca jornada de vida: “Não me esqueça enquanto as cores desbotam / Quando as luzes se apagam, é apenas um palco vazio”. É um pensamento sombrio, mas é compensado pelo fato brilhante do aqui e agora: “Lembre-se, eu ainda estou aqui por vocês / Eu não quero dizer adeus”. “All My Life”, por sua vez, relembra tudo o que ele alcançou e, apesar de lenta e melódica, é bastante necessária. “Ordinary Man” pode acabar sendo o ponto final de uma carreira extraordinária. A anteriormente citada “Under the Graveyard” também aborda a mortalidade em que nenhum de nós gostamos de pensar; é uma peça intransigente e realista.
Mas embora seja uma boa música, é muito semelhante a “Take What You Want” – faixa que apareceu originalmente no “Hollywood’s Bleeding” (2019). A primeira colaboração com o Post Malone foi lançada em 07 de setembro de 2019, e não deixa de ser uma das melhoras faixas do LP. Sua crueza e agressividade são incomparáveis – é uma escuta obrigatória para qualquer fã do Ozzy Osbourne. Além do improvável emparelhamento entre ele e Travi$ Scott, há um épico solo de guitarra. Scott parece no piloto automático, mas Ozzy está completamente intimidador. Surpreendentemente, “Take What You Want” nos dá uma visão do que o Post Malone pode fazer no punk rock. “Eat Me” começa com uma gaita de marca registrada, e entra no território do Black Sabbath – embora com um solo de guitarra ansioso -, ao passo que “Fairies Wear Boots” aborda o medo em torno de alucinógenos e doenças mentais. Vamos torcer para que não seja o caso, mas se for, Ozzy Osbourne está se despedindo com o mesmo fogo e paixão de quando ele começou há 50 anos. Todas as faixas do álbum são musicalmente sólidas, graças em parte ao trabalho de Duff McKagan e Chad Smith. Provavelmente, o ponto mais prejudicial seja o ajuste automático em torno de sua voz. Mas de certa forma, isso é compreensível, afinal, ele já tem 71 anos de idade. No geral, o Príncipe das Trevas cumpriu sua promessa para este álbum, provando que ele nunca será um “ordinary man”.