“~how i’m feeling~” possui 21 faixas – uma extensão que até os maiores artistas se esforçariam para preencher com coesão.
Com mais de 30 milhões de ouvintes mensais no Spotify, Ari Leff lançou o seu primeiro álbum essa semana. Estilizado como “~how i’m feeling~”, é um projeto que aborda uma série de questões, desde a saúde mental até o impacto das redes sociais na vida das pessoas. É um registro exageradamente extenso, ao passo que a inclusão de certas faixas parece completamente desnecessária. Constituindo quase um quarto do repertório, as colaborações desempenharam um papel importante no aumento de sua popularidade. E com base na sinceridade das letras, uma série de canções aborda sentimentos de tristeza e isolamento. Ademais, parte do lirismo segue o colapso de seu relacionamento com Julia Michaels. Com 21 faixas – das quais 10 foram pré-lançadas como singles – “~how i’m feeling~” mostra sua ascensão à fama, lidando com a saúde mental e abraçando suas fragilidades. Mesmo com uma tracklist tão extensa, acredite, algumas músicas conhecidas foram deixadas de fora. De fato, solidão é um denominador comum no álbum – mas ele também navega pela mágoa, pelo amor e pelos altos e baixos da vida moderna. Seja a guitarra macia de “Sims”, o baixo pesado de “Lonely Eyes” ou o piano de “Changes”, é o emo-pop do tipo mais vulnerável: aquele que você escuta para dançar e chorar ao mesmo tempo. Sua música tem uma simplicidade interessante, mas sua honestidade ainda é o ponto mais forte.
No entanto, como cada música possui a mesma mistura de melodias e letras, o álbum corre o risco de se tornar monótono rapidamente. Na superfície, sua mensagem mais profunda não é imediatamente clara. Algumas faixas apresentam refrões tão cativantes que o LP parece estereotipado. Esse sentimento de dissonância cognitiva, entre o modo como Lauv se sente, transmite uma falsa sensação de positividade. As letras refletem seu estado mental, embora o uso criterioso de sintetizadores e falsetes transformem seus sentimentos sombrios em canções radio-friendly. A capa do álbum em si – uma foto sua cercada por mini versões coloridas de si mesmo – está destinada a capturar diferentes facetas de sua personalidade, assim como as músicas. Detalhando suas experiências com o isolamento e a obsessão pelas redes sociais, Lauv brinca em “Drugs & the Internet”. Ele abre abruptamente com falsetes acompanhado de um piano, ao passo que descreve sua depressão. Após o verso mais lento e descontraído, o ritmo doentio e agressivo toma conta do refrão. “Troquei todos os meus amigos por drogas e pela internet”, ele canta. Embora seja cativante, a letra é surpreendentemente deprimente – uma visão terrivelmente autoconsciente do isolamento que vem com a fama. Enquanto na colorida e profana “fuck, i’m lonely”, sua colaboração com Anne-Marie, ele captura um sentimento relacionável, “Billy” – nomeada em homenagem ao seu cão – foca na clássica história de alguém superando o bullying.
No primeiro verso de “Feelings”, Lauv mostra uma quantidade considerável de ansiedade em relação aos seus sentimentos – ele quer ser mais do que amigo de uma pessoa. “Saiba que somos amigos e que apenas o amor conhece fins falsos”, ele canta. Aqui, Lauv se conecta com o público abordando algo pelo qual muitos já passaram. Baseada em uma guitarra, “Canada” mostra uma abordagem mais esperançosa de um novo relacionamento. É inesperadamente menos produzida e mais despojada do que o restante do álbum. “Mean It”, por sua vez, é extremamente autoconsciente e mostra o desespero de ser a segunda escolha da pessoa que se ama. Apesar do tema clichê, os vocais trabalham para transmitir alguma emoção. Em contrapartida, “Tell My Mama” é uma carta de desculpas cheia de arrependimentos sobre a ameaça iminente de morrer jovem. Em outro momento de reflexão, Lauv explora quem ele se tornou, consciente do fato de ter feito coisas que não deixariam sua mãe orgulhosa. Enquanto “Who” chama a atenção naturalmente, graças a participação do BTS, “Sweatpants” fornece uma articulação mais clássica. Mas além da vibração comovente, há também uma pitada de reggae na mistura. É um contraste doce, mesmo que o tema seja familiar. Liricamente, Lauv abraça o vazio do seu coração ao som de batidas artificiais e guitarras eletronicamente aprimoradas.
“El Tejano”, com Sofía Reyes, é uma animada canção com influência latina; o título faz referência a um bar e restaurante que Lauv frequentou no passado. Infelizmente, sua ideia é completamente perdida e o tom extraordinariamente positivo – não faz sentido dentro do contexto do álbum. “i’m so tired…” prova que Lauv e Troye Sivan estão cansados de procurar pelo amor – é uma música mal-humorada onde eles tentam superar um relacionamento do passado. Sua natureza discreta, porém empolgante, te envolve com facilidade. No começo, ela soa “testada e comprovada” à identidade do Lauv; e o mesmo pode ser dito do Troye Sivan, que sempre se beneficiou de sua sutileza e postura. Mas eles deixam claro que a última coisa que querem agora é uma música sobre estar apaixonado. Com sintetizadores sombrios rolando sob a entrega pulsante, Lauv faz com que você se encaixe instantaneamente no refrão. Mas como é basicamente composto de duas frases repetidas várias vezes, é bom que a música não dure mais do que 2 minutos e 42 segundos. Em “Changes”, ele expõe suas decisões para lidar com a depressão e o TOC – passando a se auto medicar. Inicialmente, o piano passa uma imediata sensação de escuridão. Lauv está se livrando de suas roupas, cortando seus cabelos, e as mudanças o força a recorrer ao álcool.
Tudo o que ele quer é dormir, por ser a forma mais verdadeira de escapar da realidade. “Sad Forever” é uma balada sobre se perder em um relacionamento e as repercussões de deixar isso acontecer. “Ultimamente, estive no banco de trás da minha própria vida / Tentando assumir o controle, mas não sei como”, ele sussurra. As palavras têm um significado impactante, e a maneira como ele canta mostra o peso desse fardo. Basicamente, “Modern Loneliness” – a música favorita do próprio Lauv – fala sobre a solidão no mundo moderno. Dessa vez, ele questiona o porquê das pessoas se sentirem sozinhas, mesmo estando regularmente cercadas por amigos. Algumas linhas falam por si em um momento em que as redes sociais unem as pessoas enquanto as mantém separadas. É uma história que abrange a mensagem de isolamento da era moderna, à medida que as vidas se tornam molduras de uma tela. “~how i’m feeling~” é revelador, envolvente e relacionável. Ele está enraizado na crise de identidade, no existencialismo e na auto aceitação. No entanto, ainda há muita coisa inexplorada, e essa é a maior decepção. Considerando que muitas músicas estão centradas no mesmo conceito, a duração de uma 1 hora e 06 minutos se torna desnecessariamente longa. Músicas familiares vieram como presentes bem-vindos, mas, muitas vezes, suas letras são encharcadas de clichês. E faltou o ingrediente primordial para um álbum desse calibre: emoção.