“Shoot for the Stars Aim for the Moon” não destrói ou polui o legado de Pop Smoke. Em algum lugar, temos um bom álbum.
Pop Smoke – nome artístico de Bashar Barakah Jackson – não foi o primeiro artista do Brooklyn e não fazia rap sobre nada de novo, mas ele habitava um som regional específico com tanta confiança que o fazia soar como algo maior, algo fora de si. Ele foi assassinado em fevereiro, exatamente quando sua voz e seu estilo estavam começando a decolar. Havia uma energia em torno do Pop Smoke. Ele tinha um carisma enorme, uma vitalidade incrível e uma voz gutural. Essas coisas, combinadas com seu senso inato de lidar com a programação caótica de bateria, o tornaram em um grande competidor. Pop Smoke surgiu como uma estrela não porque se encaixava nas categorias preexistentes, mas porque a confusão de sua música refutou esses precedentes. Ele não parecia com mais ninguém, e é isso que importava. Essa é uma das muitas razões pelas quais seu assassinato é uma perda tão dolorosa. Ele era tão jovem quando morreu, e estava apenas começando a sua carreira. Sua segunda mixtape, “Meet the Woo 2” (2020), havia sido lançado menos de duas semanas antes. Ele nunca teve a chance de capitalizar a energia que o cercava. Agora, em sua ausência, outras pessoas estão fazendo isso por ele. Na semana passada, seus produtores lançaram “Shoot for the Stars, Aim for the Moon” – o primeiro álbum de estúdio do rapper, divulgado meses após sua morte.
Ouvir isso é uma experiência agridoce. Pop Smoke, assassinado no momento em que estava explodindo, tornou-se um daqueles artistas cuja música ganha ressonância após sua morte. É ótimo ouvir sua voz novamente – tendo a chance de se tornar a estrela que não teve tempo de crescer em vida. Mas “Shoot for the Stars, Aim for the Moon” também é uma visão deprimente do que poderia ter acontecido se ele realmente tivesse sido absorvido pelo rap mainstream. Talvez o Pop Smoke que ouvimos em “Shoot for the Stars, Aim for the Moon” seja exatamente a versão do rapper que teríamos ouvido se ele tivesse vivido para tirar proveito dos seus próprios talentos. É um álbum carregado com participações especiais de rappers A-listers: DaBaby, Lil Baby, Roddy Ricch, Quavo, Future e 50 Cent (talvez o exemplo definitivo do cara de Nova York que se tornou uma estrela mainstream). E Pop Smoke cita generosamente o catálogo do 50 Cent – “Candy Shop” em uma música, “Many Men” em outra – e tenta o velho truque do mesmo de alternar entre rosnados ameaçadores e canções de amor meio cantadas. Em um artigo recente do New York Times, 50 Cent falou sobre se encontrar com Pop Smoke e perceber que o garoto estava anotando tudo que ele disse em seu telefone. Talvez Pop Smoke realmente quisesse ser ele. Talvez seu primeiro álbum tivesse sido uma espécie de “Get Rich or Die Tryin'” (2003).
50 e outros colaboradores também falam sobre como Pop estava mexendo com as canções de R&B do início dos anos 2000 que ele amava, tentando descobrir como transformar sua música em algo que funcionasse em uma escala maior. Talvez ele ainda não tivesse descoberto como fazer isso perfeitamente. Talvez ele tivesse chegado lá, se tivesse tempo. Em boa parte do “Shoot for the Stars, Aim for the Moon” simplesmente não ouvimos o que havia de especial no Pop Smoke. O álbum chega perigosamente perto de transformá-lo em mais um rapper clichê. Sua voz massiva atravessa qualquer contexto, e os produtores pelo menos tentam integrar o complexo pacote de bateria do Brooklyn e do drill britânico. Mas boa parte do repertório é uma playlist de rap no piloto automático. Para cada “44 BullDog”, uma peça eletrizante e robusta, há um “Snitching”, uma colaboração com alguém que mal apresenta o Pop Smoke. Há uma certa falta de jeito inerente em álbuns de rap póstumos. Nunca estamos totalmente certos sobre o que o artista falecido realmente gostaria de colocar lá para consumo público e o que foi simplesmente um experimento de estúdio. Não sabemos quantos convidados do álbum realmente conheceram o Pop Smoke. Algumas das dissonâncias vazias do álbum são inevitáveis. Mas também há uma falta de jeito desanimadora em torno do lançamento do mesmo.
“Shoot for the Stars, Aim for the Moon” é um pouco forçado e incoerente, mas termina com “Dior”, uma música que já apareceu em ambas mixtapes do Pop Smoke. “Dior” o encontra diluído, operando dentro de seu elemento, rosnando, crescendo e entoando nomes de marcas de grife em uma batida que parece que está prestes a engolir a si mesma. A música ganhou status de hino desde a sua morte. Quando “Dior” aparece no final do álbum, é um lembrete chocante do que era tão interessante no Pop Smoke. O sucesso nem sempre alivia os problemas e muitas vezes os amplia, mas durante sua carreira, ele fez amigos que lhe proporcionaram uma despedida sólida. Sua música é catártica, o que o torna uma figura tão amada em sua morte e além. Sua essência exalava confiança, e sua música estava florescendo no pico da cultura pop, enraizada no entusiasmo da juventude e na tradição do hip hop de Nova York. Este álbum teria o estabelecido ainda mais como uma voz não apenas do futuro, mas do momento. “Shoot for the Stars, Aim for the Moon” vê uma colisão do hip hop de hoje com um garoto de Nova York que cresceu na era bling do rap. Ele sempre parecia muito seguro de si e se portava como um veterano, apesar de seu status de novato, tudo antes dos 21 anos. Nova York era uma grande parte dele, e ele sabia disso.