Aya Metwalli, artista e produtora nascida em Cairo e radicada em Beirute, acabou de lançar um novo single chamado “Matkhafsh Menni”. Ela cresceu no Cairo, onde seu pai tocava músicas ininterruptas de Oum Kalthoum em viagens para a praia; conhecida por ter a voz mais bonita da família, sempre cantou em casa e nas reuniões com amigos. Descrita como “um enigma musical” pelo The Guardian, Metwalli publicou mais de 30 músicas, acumulou mais de 3 milhões de streams e mais de 35 mil seguidores no SoundCloud. Ela integra influências como o pop egípcio e a música clássica árabe sobre um som avant contemporâneo, usando voz, guitarra, pedais, sintetizadores e baterias eletrônicas – ela não sabe o que significa a palavra “limite” quando se trata de música. Ela definitivamente não se apega a um estilo musical, em vez disso, desliza perfeitamente por vários gêneros. Mas o que dá à música de Metwalli uma ressonância emocional é a forma como ela simboliza algo universal sobre a vida atual no Cairo.
O outro aspecto interessante de sua música é o seu sofisticado artesanato lírico. Ela de alguma forma transforma suas letras em melodias através de entonações clássicas e um vibrato que se mistura emocionalmente com sons abstratos e contemporâneos. Suas músicas conseguem ser inteligentes e tocantes em diversos contextos, e ela ainda tem uma proeza vocal substancial. No mês passado, paletes de fogos de artifício incendiaram 2.750 toneladas de nitrato de amônio que haviam sido abandonados no Porto de Beirute, desencadeando uma explosão que demoliu uma enorme parte da capital libanesa. Cerca de 200 pessoas morreram, pelo menos 6.000 ficaram feridas e centenas de milhares ficaram desabrigadas. Milhares de libaneses marcharam para protestar contra os anos de corrupção e negligência do governo que levaram ao desastre.
Com sede na Tunísia, a revista de música Ma3azef foi uma das muitas organizações culturais que tentou ajudar de alguma forma. Junto com a engenheira de masterização de Nova York Heba Kadry, Nisf Madeena reuniu 17 artistas de todo o mundo – ZULI do Egito, Slikback do Quênia, Deena Abdelwahed da Tunísia, Fatima Al Qadiri, nascida no Kuwati, Nicolás Jaar, nascido no Chile, para arrecadar fundos para ajudar a capital do Líbano. Em meio a uma vasta gama de estilos, “Matkhafsh Menni” da Aya Metwalli se destaca com facilidade. A música de oito minutos se desdobra em três partes. A abertura é um lamento que soa como um coro de abelhas. “Vá dormir / Vá dormir e descanse / Perca a consciência por um segundo”, ela canta em árabe. Mais ou menos na metade, sua voz sobe para um clímax angustiado, e o que resta é uma passagem sinuosa e melancólica de órgão. Finalmente, à medida que um trítono não resolvido se estende, a tensão aumenta, um pequeno silêncio se abre, dando lugar a parte final da música. “Oh meu coração, o que há de errado com você? / Nós estamos no mesmo barco / Não tenha medo de mim”, ela canta. “Matkhafsh Menni” é uma espécie de canção de amor, mas também sobre transformação, solidariedade e empatia. É um tributo comovente à reconstrução que está por vir – em Beirute e em todo o mundo.