Infelizmente, em maio de 2017 ele foi encontrado morto, com um elástico usado em academias em volta do pescoço.
A depressão é uma doença silenciosa, maldita e cruel. E uma de suas vítimas foi um dos criadores do grunge. Christopher John Boyle nasceu em Seattle, Washington, em 20 de julho de 1964. Filho do farmacêutico Edward Boyle e da contadora Karen Cornell – anos mais tarde ele definiria seus pais como “alcóolatras”. Ele mesmo aos 12 anos teve forte contato com a bebida e a maconha. Pouco antes, no entanto, também teve contato com a discografia dos Beatles e ficou simplesmente encantado. Já sentindo os efeitos da depressão que o acompanharia por toda a vida, tornou-se um adolescente solitário que mergulhou de vez na música. Foi aí que decidiu que se tornaria um músico profissional. “Isso salvou minha vida”, ele diria anos depois.
Nos anos 80, passou a fazer parte da banda The Shemps, que fazia shows covers em bares de Seattle, Washington. Foi nesse grupo que ele conheceu o guitarrista Kim Thayil. Com o fim da banda, os dois continuariam tocando juntos, fazendo músicas com outro ex-Shemps, o baixista Hiro Yamamoto. Corria o ano de 1984 e logo os três formariam uma das primeiras bandas do chamado movimento grunge, o Soundgarden – na época, Chris Cornell era bateria e vocalista. Ao longo dos treze anos seguintes, o Soundgarden acumulou números expressivos: foram cinco discos até 1997, quando a banda se separou (mais um LP foi lançado quando eles se reuniram em 2012) – foram vários discos de platina e incontáveis turnês mundiais.
Mas foi aí que a situação começou a ficar ruim. Perguntado sobre o que achava das turnês, Chris afirmou: “Gosto até certo ponto. Depois, tudo fica tedioso e repetitivo. Só que o sujeito que comprou ingresso quer que a gente toque aquelas músicas como se fosse a primeira vez. E é aí que a gente começa a odiar fazer turnês”. Isso foi um dos motivos pelo fim do Soundgarden em 1997. Cornell já havia participado de outro grupo em paralelo ao Soundgarden. O Temple of the Dog surgiu em 1991 como uma homenagem a Andrew Wood, vocalista do Mother Love Bone, que havia morrido de overdose no ano anterior. Com o fim do Soundgarden, ele começou outro projeto de sucesso, o Audioslave, que contava com os três instrumentistas do Rage Against the Machine. O guitarrista Tom Morello lembrou, tempos depois: “Ele se aproximou do microfone e cantou. Eu simplesmente não acreditei. Ele não cantou bem, ele cantou maravilhosamente!”.
Foram sete anos e três discos até que em 2007 Cornell anunciou que estava deixando a banda em função das inevitáveis “diferenças musicais”. Ao longo dos anos, ele participou de inúmeros projetos como músico e produtor. Trabalhou ao lado de nomes como Screaming Trees, Nancy e Ann Wilson (Heart), Slash, Carlos Santana, Duff McKagan e Jerry Cantrell. Seu talento era incontestável. Gente do calibre de Axl Rose, Alice Cooper e Eddie Vedder rasgava elogios a ele. Ao mesmo tempo, porém, Chris Cornell lidava com seus demônios interiores. Drogas, álcool e depressão o acompanhava quase o tempo todo. Em 2002, entrou num programa de reabilitação e em 2005 declarou-se livre da bebida. Em entrevista concedida em 1996, ele abriu o coração sobre a depressão: “Eu sei o que é ter tendências suicidas. Ninguém sabe como é se sentir no fundo do poço. O cara está lá e logo depois acaba pendurado pelo pescoço em uma corda”.
Chris Cornell estava num dos melhores momentos de sua carreira, livre do álcool, de volta com o Soundgarden e preparando o retorno do Audioslave. Mas, infelizmente, em 18 de maio de 2017, ele foi encontrado já sem vida, com um elástico usado em academias de ginástica em volta do pescoço. Ele tinha acabado de fazer um show com o Soundgarden em Detroit, Michigan. As autoridades confirmaram que Chris Cornell havia se suicidado. A depressão havia vencido um dos maiores talentos do rock.