Em seu primeiro álbum em sete anos, a banda Purling Hiss parece a procura de um ritmo.
Purling Hiss é liderada por Mike Polizze, um elemento da cena musical da Filadélfia, Pensilvânia. A banda ainda é formada por Kiel Everett, guitarra; Pat Hickey, baixo; e Ben Leapheart, bateria. Polizze está conectado ao mundo de Kurt Vile, The War on Drugs, e sua afeição compartilhada pelo rock clássico dos anos 70. Inclusive, Vile e Jeff Zeigler o auxiliaram em seu primeiro álbum solo, “Long Lost Solace Find” (2020) – um disco de folk que lançou uma luz mais forte sobre sua arte ao abandonar o personagem de banda de garagem com o qual ele geralmente é mais associado. Polizze também é membro fundador do Birds of Maya, que lançou o álbum “Valdez” em 2021. Para traçar uma distinção rápida e grosseira entre Birds of Maya e Purling Hiss, é que o primeiro soa como “Rust Never Sleeps” (1979) de Neil Young & Crazy Horse – mas mais alto, mais sombrio e menos verbal. Birds of Maya é propenso a longas sessões de guitarra, baixo e bateria. Dito isto, mesmo com quatorze anos de carreira e sete álbuns depois, parece que Polizze se sente mais confortável caminhando sozinho ou revivendo o rock cósmico de Birds of Maya do que canalizando a distorção crocante de Purling Hiss.
Neste cenário, “Drag on Girard” – o primeiro álbum de Purling Hiss em sete anos -, continua o ímpeto artístico estabelecido por “Long Lost Solace Find” (2020) e “Valdez” (2021), mas de maneiras diferentes. Musicalmente situado entre os dois, o novo LP emprega a abordagem de altos decibéis de Birds of Maya, enquanto retém momentos de vulnerabilidade e autoconsciência. “Drag on Girard” pode ser confuso e às vezes caótico, mas tem um ambiente melódico. É uma fusão furiosa de solos de guitarra e o ressurgimento indisciplinado da cena punk. Adicionado à mistura, “Drag on Girard” também revela diversas influências da cena alternativa; as letras são um tanto opacas, intencionalmente enterradas na mixagem. Mas ele continua de onde o som clássico de “High Bias” (2016) parou. Ao longo do caminho, o quarteto se acomoda sob ritmos alegres e riffs simplistas que gradualmente perdem suas forças. Gravado com Jeff Zeigler, “Drag on Girard” se estabelece principalmente no som desbotado dos anos 70 – embora também tenha ecos dos anos 80 e 90. A composição faz jus ao valor da produção, agradável mas sem muito propósito. Purling Hiss se apoia em progressões de acordes rudimentares e solos de guitarra traiçoeiros, mas desta vez o grupo troca sua vibração característica por algo mais enfadonho.
Essa abordagem indiferente significa que músicas como “When the End Is Over” e “Baby” tocam como sessões isoladas, não importa o quanto o pedal adicione distorção ao clima geral. “When the End is Over” tem uma sinuosa progressão de acordes que acompanha Polizze nos vocais. Guitarras sobem no intervalo instrumental, seguidas por mais dois versos pontuados por insistentes melodias. O riff de “Baby”, bem como sua curta duração, fornece uma fatia de pós-punk com vocais sarcásticos e solos de guitarra ferozes – mas não vai muito além disso. Purling Hiss está no seu melhor quando mistura o garage rock com sons extraídos do rock clássico e do power-pop. “Something in My Basement” apresenta uma guitarra esfarrapada e uma seção rítmica intensa com ótimas harmonias vocais. Polizze inicia com um extenso solo de guitarra melodicamente generoso; Hickey cava no baixo, tocando raízes e subindo pelo pescoço para criar uma contra melodia para Polizze; a bateria de Leapheart é estrondosa e tem preenchimentos periódicos que pontuam o solo de guitarra. Por fim, a coda reúne os vocais do grupo em harmonia.
A exuberante “Yer All in My Dreams” é fortemente inspirada pela banda Dinosaur Jr.: uma explosão de fuzz combinada com guitarras descaradas e uma entrega vocal insatisfeita. “Há uma música em cada nota que toco”, Polizze canta; conforme a faixa caminha sob o solo de guitarra radiantemente alegre, fica mais fácil acreditar em suas palavras. Na lenta e inesperada “Out the Door”, um solo de guitarra enterrado em distorção lança uma sombra sobre as solenes batidas. Aqui, a bateria de Leapheart realmente acerta compassos duplos com uma precisão infalível. É uma pena que esse topo de potencial não ocorre no álbum todo. “Drag on Girard” termina com duas longas faixas que totalizam aproximadamente 16 minutos ou quase a metade do álbum. Purling Hiss parece ter a intenção de fechar o LP de maneira épica, mas acaba extrapolando as coisas. Na faixa-título, ele canta laconicamente enquanto revela seu interesse pelo rock alternativo dos anos 90. É a canção mais sem objetivo do álbum; um riff sujo e gritos sobre dirigir a noite toda se estendem por quase 8 minutos. “Drag on Girard” revisita o cânone do garage rock e poderia tentar estender o seu legado. Mas, Mike Polizze parece despreocupado demais para gravar um álbum inovador. E, em vez disso, ele apenas utiliza os sons que têm a disposição.