Em parceria com o produtor John Carroll Kirby, Eddie Chacon cria um clima sereno e pastoral.
Em “Sundown”, Eddie Chacon percorre uma jornada sonora enraizada nas belas paisagens de Ibiza, onde o álbum foi meticulosamente concebido. Junto com John Carroll Kirby, ele moldou uma coleção que mescla ritmos relaxantes com meditações sobre o amor, a perda e a complexidade da experiência humana. A trajetória musical de Eddie Chacon é marcada por décadas de experiência, desde seus dias em uma banda de garagem nos anos 70 até o sucesso global como parte do duo Charles & Eddie nos anos 90. No auge da dupla, Chacon alcançou o sucesso nos charts com a irresistível “Would I Lie To You?”, de seu álbum de estreia “Duophonic” (1992). Mas o sucessor de 1995, “Chocolate Milk”, fracassou e os dois desistiram. Em 2001, pouco depois de terem começado a cogitar a ideia de fazer música juntos novamente, Charles Pettigrew faleceu. A musicalidade minimalista de Chacon, influenciada por lendas do soul como Marvin Gaye e Curtis Mayfield, é uma constante em suas composições. Suas letras, muitas vezes reduzidas a um ou dois refrãos centrais, ecoam como mantras.
De aceitar a fugacidade da vida em “Comes and Goes” a abordar sutilmente seu estado mental em “Same Old Song”, Chacon compartilha lições aprendidas ao longo de seus 59 anos. Após altos e baixos, uma reviravolta musical aconteceu nos anos 2010 quando ele conheceu John Carroll Kirby. A parceria, evidente principalmente no álbum “Pleasure, Joy and Happiness” (2020), amadureceu em “Sundown”. Ibiza pode ser mais conhecida pela vida noturna, mas longe das intermináveis raves, a beleza natural da ilha é surpreendente. Em outubro de 2021, quando eles fugiram para o oásis mediterrâneo, aproveitaram o amplo sol e a vegetação exuberante para gravar o “Sundown”. A produção sofisticada de Kirby adiciona uma camada de profundidade às composições de Chacon. A instrumentação, que inclui flautas, bongôs e palmas coletivas, cria uma atmosfera que preenche os espaços entre as palavras e proporciona uma experiência auditiva imersiva. O álbum transcende, mas parece uma mera continuação de “Pleasure, Joy and Happiness” (2020).
A repetição das letras de “Far Away” e “Step by Step” exemplifica sua abordagem de que menos é mais, um suspiro de simplicidade que mostra a influência de grandes nomes como Pharoah Sanders. Liderada pela produção elegante de Kirby, a instrumentação suave ganha vida com a percussão. Em “Haunted Memories”, Chacon confronta a natureza de sua mente enquanto seus vocais ligeiramente desafinados e as tonalidades oscilantes de Kirby adicionam uma sensação de desconforto. Sequenciado consecutivamente com “Same Old Song”, este trecho mais sombrio reflete a angústia incomum que ele detalhou em “My Mind Is Out of Its Mind” de 2020. Com uma sensação desamparada, mas sensual, seus problemas eram mais fáceis de digerir naquela época. À medida que “Haunted Memories” avança, sua voz desaparece como se ele estivesse se perdendo em pensamentos, enquanto a batida do tambor e a flauta trêmula parecem se envolver em uma conversa própria. Mas nem tudo é pesado. Na divertida “Holy Hell”, Chacon faz algumas considerações: “Podemos continuar brilhando”, ele canta, “Mas não podemos parar os ponteiros do tempo”.
Em “Sundown”, percebemos uma mudança sutil, com a substituição das máquinas de bateria por percussão ao vivo e a inclusão de metais como trombone e saxofone. Faixas como “Far Away” e “Haunted Memories” revelam a destreza de Eddie Chacon cantando sobre um piano elétrico. A tonalidade do álbum também reflete uma melancolia matizada por um otimismo ambíguo. A faixa de encerramento, “The Morning Sun”, irradia uma aura alegre com saxofones e sintetizadores, descrevendo a sensação de sentir a brisa do verão e a chuva – encapsulando a atmosfera paradisíaca dos primeiros dias do álbum em Ibiza. O videoclipe da faixa-título, por sua vez, proporciona uma visão privilegiada do processo de gravação em Los Angeles. Cada faixa ou peça cuidadosamente elaborada, contribui para a coesão do álbum. “Sundown” convida o ouvinte a se perder em suas texturas e reflexões. Eddie Chacon, longe de descansar em sua carreira passada, explora novos horizontes, oferecendo uma obra que ressoa profundamente na alma. Esse álbum é a prova de que a música é algo atemporal, capaz de transcender limitações e proporcionar uma jornada de resiliência mesmo nas experiências mais desafiadoras.