O segundo álbum da banda Home Is Where é habilmente áspero e eclético.
O segundo álbum da banda Home Is Where, “the whaler”, foi anunciado como algo conceitual: uma marcha cíclica através da catástrofe de 11 de setembro de 2021. Mas não devemos interpretar o LP apenas dessa forma. Em vez disso, “the whaler” mostra a banda engarrafando sua energia enquanto se encontra constantemente pressionada em busca de igualdade, paz de espírito e liberdade. Home Is Where apenas quer viver, viver de verdade, sem sentir que já estão mortos. Após um colapso nervoso em 2021, Brandon MacDonald se viu desiludida com a implacabilidade da vida e uma sociedade cada vez mais apática. Ela nunca pareceu tão cansada ou sem esperança quanto aqui. MacDonald está se contorcendo e lutando por algo, qualquer coisa, para mudar – e essa energia é o que torna “the whalter” um sucessor turbulento e valioso de “I Became Birds” (2021). Dependendo do local, como mulheres trans, MacDonald e Tilley Komorny podem ser presas apenas por usarem o banheiro fora de casa. A experiência delas como mulheres trans permanece fundamental para o ponto de vista da banda.
Nos últimos anos, eu escutei muitos álbuns emo, mas “I Became Birds” (2021) foi um dos poucos verdadeiramente visionários – desafiando o gênero a reconsiderar seus paradigmas. Quando MacDonald expôs a taxonomia da quinta onda emo, não foi apenas uma expressão de amor, também foi um meio de organizar os pensamentos que surgiram durante a pandemia. O ponto central era um chamado para evoluir ou morrer. “I Became Birds” (2021) tinha apenas 18 minutos de duração, mas tanta energia que nem parecia um EP de seis faixas. “the whaler” coloca em exibição as habilidades musicais de Home Is Where, mesclando o passado e o presente do gênero emo. Tilley Komorny polvilha com batidas de guitarra do meio-oeste americano, Connor O’Brien acena para as origens do emo com pesadas quebras no baixo, e Josiah Gardella injeta sua bateria com uma grande energia punk. MacDonald contribui com uma delicada gaita em “whaling for sport” e com metais que chovem sobre “skin meadow”. O produto final é agudo e enrugado, e cria um ambiente em tons de sépia com um ar gelado. Ao longo do repertório, MacDonald divide seu tempo entre cantar, gritar e berrar.
Uma boa música emo faz você sentir os sentimentos de quem canta; uma boa música emo faz você ver o mundo através dos olhos do vocalista. As letras de MacDonald apresentam imagens como mastigar pão que se transformou em carne, arrancar um motorista bêbado do asfalto como um animal atropelado, alimentar patos em um lago com moedas. Mas Home Is Where soa verdadeiro; Sua instrumentação preferida – guitarras executadas através de pedais de distorção, gaitas enferrujadas, teremins empoeirados (um dos primeiros instrumentos musicais completamente eletrônicos) – ressaltam a obsessão de MacDonald pela decadência como prova de vida. “the whaler” está repleto do fedor da morte. Além das letras citadas acima, eles falam sobre chifres cortados que servem de decoração para a casa, galhos de árvores entrelaçados por entranhas humanas; paisagens repletas de merdas de pombo e biscoitos velhos; guaxinins mortos retirados do lixo e humanos mortos nas zonas úmidas da Flórida. No mundo de Home Is Where está ficando cada vez mais difícil viver ou morrer com qualquer tipo de dignidade. Mas MacDonald está escrevendo sobre uma era da qual ela é um produto, uma época em que o desejo de viver fora da internet pode parecer antiquado ou até ingênuo.
“Um Deus onisciente não sabe o que é não saber de nada”, MacDonald se gaba a certa altura. Em “yes! yes! a thousand times yes!”, concede aos noivos seu primeiro beijo, mas, em vez disso, eles se encaram sem jeito e dirigem para casa em carros separados. Essa faixa tem um ritmo dance-punk cativante, interrompido por um vislumbre crescente de pós-rock. No entanto, essa sonoridade tem um papel menor dentro de um som que se tornou mais expansivo. Grande parte do álbum oscila entre repulsa e desilusão. Vários membros da banda deixaram de ser orgulhosos floridianos empenhados em reabilitar a reputação de seu estado para frustrados ex-residentes expulsos pela legislação anti-transsexual. Consequentemente, é difícil não se tornar cínico e ver o ódio politizado ou a violência como algo inevitável. Expressando seu título como um canto vocal dentro de um acesso de raiva, “skin meadow” foge do significado literal ao longo de 5 minutos e estabelece o tema lírico dominante do álbum de maneira alucinatória. “lily pad pupils” conecta os limites externos da banda – country e screamo (subgênero agressivo do emo) – com uma seção central salpicada com banjo.
À medida que a música passa do sotaque country para o pós-hardcore enervante de maneira impressionantemente discreta, MacDonald solta um grito que estremece de desgosto e culpa. Quão distorcido é ser forçado a uma ocupação prejudicial simplesmente pelas fronteiras regionais e de classe que o cercam. A primeira metade de “daytona 500” sugere que Home Is Where parecem primos esquisitos da banda Wednesday, antes que seu country alternativo dê lugar a um emaranhado desorientador de guitarras com uma das melhores citações de MacDonald: “O fim do mundo está demorando para sempre”. O objetivo do álbum é fazer você se sentir instável, começando pela própria espiral narrativa de MacDonald. “Você é sua própria tênia”, ela grita mais tarde com a bile queimando sua garganta; é sem dúvida sua metáfora mais sucinta. Acho que eu não preciso dizer que “everyday feels like 9/11” não deve ser interpretada literalmente. MacDonald estava na escola primária quando as Torres Gêmeas caíram e, portanto, é improvável que ela tenha uma compreensão genuína de um dia como 11 de setembro de 2001.
Mas no meio do álbum, a vulcânica “everyday feels like 9/11” é seguida por um interlúdio de piano, intitulado “9/12”, onde todos voltam ao trabalho em 12 de setembro. Na música mais curta do registro, ela coloca um piano minimalista sob crianças balbuciando enquanto oferece apenas uma frase: “E em 12 de setembro de 2001, todos voltaram ao trabalho”. Apesar de sua idade, MacDonald não precisa ser uma especialista em geopolítica para falar sobre um país moldado após o 11 de setembro – afinal, é o único lugar onde ela realmente viveu. Em “the whaler”, Home Is Where enfia um dedo em suas feridas como um mecanismo de defesa. Eles estão navegando no olho da tempestade, onde a incerteza para por um breve período. “Estou tentando mostrar a você”, MacDonald canta a certa altura, antes de corrigir a frase: “Estou tentando”. Em “I Became Birds” (2021), Home Is Where pode ter sido idealista, comprimindo uma década inteira de experiência – entrando e saindo de hospitais psiquiátricos quando adolescente, transicionando – em músicas recheadas de impulsos constantes. Mas “the whaler” é outra declaração indelével de força igual e oposta: Brandon MacDonald faz um balanço de um país temeroso e regressivo.