Aos 79 anos de idade, Caetano Veloso acaba de lançar a inédita “Anjos Tronchos”, seu primeiro single pela gravadora Sony Music e também primeira prévia do seu próximo álbum de estúdio. “É uma canção que pensei que não ia poder fazer por inteiro, por causa do meu desconhecimento da matéria, do assunto. Eu prometi a mim mesmo que se eu quisesse fazer uma coisa dessas, precisaria saber muito mais. Para saber mais, eu precisaria usar mais a internet, saber mais o que acontece nas redes sociais”, ele disse sobre a inspiração da música, que reflete sobre tecnologia e internet. Escrita por Caetano, “Anjos Tronchos” é desenhada por uma guitarra suja assinada por Pedro Sá – músico e produtor que o acompanhou como parte da banda Cê – o grupo de jovens que gravou com Caê os discos “Cê” (2006), “Zii e Zie” (2009) e o citado “Abraçaço”. “Anjos Tronchos” tem algo que parece ter saído dos tempos de “Cê”, principalmente nos momentos mais melódicos e menos sombrios; a faixa fará parte do álbum “Meu Coco”, que será lançado ainda neste ano. Aqui, Caetano Veloso aponta a arte como escape do malefício do Vale do Silício.
Ele utiliza acordes como mantras para evidenciar sua reflexão sobre a desordem do mundo tecnológico onde “palhaços líderes brotam macabros”. Em um mundo cibernético, parte da ruína se origina do Vale do Silício, reduto norte-americano de empresas universais de tecnologia que, com o uso de algoritmos, manipulam povos como gados em redes sociais. É dessa desordem mundial que se trata “Anjos Tronchos”. Com grande facilidade, Veloso consegue sintetizar imagens que revitalizam a reflexão sobre o tema. Como em tantas outras composições do artista, como por exemplo “Fora da Ordem”, lançada há 30 anos, a música foi posta a serviço de letras que se impõem sobre os sons sombrios dos sintetizadores, do baixo preciso e da singela guitarra. Ao longo de quase 4 minutos, alguns poucos acordes se repetem na maioria das linhas em que ele denuncia os horrores do mundo moderno. “Que é que pode ser salvação? / Que nuvem, se nem espaço há? / Nem tempo, nem sim nem não”, ele reflete. No verso final, Veloso ainda aproveita para comentar sobre como Billie Eilish, uma figura conhecida da Geração Z, chegou ao estrelato: “Miss Eilish faz tudo do quarto com o irmão”.