“Manic” é uma coleção imperfeita com altos picos e algumas quedas: um convite honesto ao mundo de Halsey ou Ashley Frangipane.
Ashley Frangipane, mais conhecida como Halsey, permite que você entre em sua mente confusa em seu terceiro álbum de estúdio, “Manic” – uma jornada sonora que toca em diferentes emoções ao longo de 16 faixas. Esse LP foi altamente antecipado, uma vez que ela lançou vários singles antes do seu lançamento. “Manic” faz referências às fases maníacas do seu transtorno bipolar, sobre as quais ela escreveu a maior parte do repertório. Isso reflete em muitos aspectos do álbum, desde os designs à arte da capa, e até a multiplicidade de gêneros musicais. Inicialmente, ela lançou um punhado de músicas independentes que ganhou popularidade nas redes sociais no início de 2010 – isso gerou um contrato com a Capitol Records em 2014. Seu sucesso inicial foi possível em parte pelo sucesso cult de estrelas que vieram antes dela, como Lana Del Rey e Lorde. Enquanto ambas conquistaram públicos de todas as idades, Halsey não era tão facilmente comercializável. No entanto, ela acumulou muitos seguidores nas redes sociais, onde ficou conhecida por suas opiniões francas e às vezes controversas. Naturalmente, ela parecia fazer parte da Geração Z, mesmo que tenha nascido nos anos 90. Como resultado de sua popularidade e aparência em constante mudança, ela conseguiu estabelecer silenciosamente uma presença reconhecível no mainstream.
Enquanto “Badlands” (2015) e “hopeless fountain kingdom” (2017) tiveram sucesso comercial parecido, eles não conseguiram transformar Halsey em alguém atraente fora do circuito pop. Embora ela seja birracial, bissexual e bipolar, os dois álbuns foram intimamente associados à sua persona, e não exclusivamente à sua música. Em outras palavras, era hora de conhecer a mulher por trás de Ashley Frangipane. No “Manic”, Halsey está mais interessante do que nunca. O álbum foi antecedido pelo lançamento de “Without Me” em 2018, que acabou se tornando seu primeiro single número #1 na Billboard Hot 100. As letras fazem fortes referências ao seu relacionamento com o rapper G-Eazy, com quem namorou entre 2017 e 2018. Ademais, “Manic” é um retrato íntimo de uma jovem navegando pela fama, feminilidade e doença mental. O álbum não se assemelha a um único som, assim como Halsey – dessa forma, parece mais pessoal do que seus discos anteriores. Tematicamente, lida bastante com o seu transtorno bipolar, e cada música parece a entrada de um diário especificamente adaptado. Tudo começa com “Ashley”, uma poderosa balada que apresenta o mundo a um ser humano em conflito. Aqui, Halsey também fornece uma visão dos filmes que inspiraram a composição de suas músicas.
Dito isto, “Ashley” termina com um trecho do discurso icônico de Kate Winslet no filme “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças” (2004): “Eu sou apenas uma garota fodida procurando por minha própria sanidade, não me atribua a sua”. No outro extremo, “killing boys” começa com um diálogo entre as duas melhores amigas de infância, Needy e Jennifer, do filme “Garota Infernal” (2009), onde a primeira tenta convencê-la a parar de matar pessoas. Ao incluir essas referências, Halsey é capaz de assumir uma postura pessoal na narrativa, explorando não apenas seus relacionamentos, mas também ela mesma. “clementine”, possivelmente outra referência ao personagem de Winslet, investiga o confronto interno entre não precisar de ninguém e confiar demais nas pessoas ao seu redor. “Eu não preciso de ninguém / Só preciso de todos e mais alguns”, ela grita sob um simples riff de piano. Esse conceito ecoa por todo o álbum – ela necessita de apoio emocional, mas afasta os que estão ao seu redor. Mais tarde, ela exclama na apropriadamente intitulada “I HATE EVERYBODY”: “Então eu só continuo dizendo que odeio todo mundo / Mas talvez eu, talvez eu não odeie”.
O poder de suas emoções está presente em todos os aspectos, desde a raiva intensa de “killing boys” à tristeza insuportável de “you should be sad” – uma música country pop com guitarras desonestas que fervem sobre a suavidade de sua voz. Como podemos notar, o ecletismo se traduz no som do álbum – Frangipane pula de gênero em igual medida. Sua voz permanece consciente, mas nunca estritamente técnica, ela sobe e afunda sempre carregada de emoção. Talvez “Manic” seja diversificado demais para atrair um único público, mas disperso demais para estabelecer uma tendência artística. Em “Still Learning”, ela nos lembra que ainda é uma jovem mulher que está aprendendo a se amar. Como resultado, músicas como o electropop “Graveyard” e o country rock “Finally // beautiful stranger” destacam-se como peças incrivelmente significativas. Geralmente, quando um artista colabora no álbum de outro, ele apenas recebe seu nome nos créditos, mas Halsey optou por nomear cada co-artista nos títulos das músicas. Qualquer pessoa interessada no fenômeno k-pop vai gostar de ouvir “SUGA’s Interlude” – com participação de Suga, do BTS. “Alanis’ Interlude” é um hino cativante, ao passo que “Dominic’s Interlude” é incrivelmente agradável, mas termina cedo demais.
“More”, a música mais crua e pessoal, detalha sua batalha com a endometriose. É uma carta de amor emocional para seus futuros filhos e a batalha que levou para chegar até aqui. Qualquer pessoa pode se identificar com as emoções conflitantes que acompanham as letras. Embora existam músicas dançantes como “3am”, “Manic” tende a se afastar do ruído em favor de deixá-la voando sozinha. O registro termina com “929”, um número cheio de confissões sobre os medos que vieram com a fama. Nesta canção, tudo se espalha através de uma palheta suave de guitarra e um senso de urgência. Se o álbum tenta mostrar o que acontece em sua mente, essa faixa retrata que nem ela mesmo sabe exatamente o que se passa em seu cérebro. De uma artista cujo estilo e imagem tendem a ter precedência sobre sua música, “Manic” é um convite honesto ao mundo colorido e igualmente sombrio de Ashley Frangipane. Com uma infinidade de características e um estilo lírico solidificado, o repertório nos lembra que Halsey é uma força a ser reconhecida. Enquanto “Badlands” (2015) era pesado e político, e “hopeless fountain kingdom” (2017) forte e expressivo, “Manic” possui uma lente mais madura e controlada. É o exemplo perfeito da Halsey canalizando suas emoções e as transformando em música.